Enredo: “O Achamento do Velho mundo”
Era um dia quente e ensolarado na linda Pindorama! Naquele verão, Guaraci “Bola de Fogo” estava disposto a queimar a pele dos Tupis sem dó nem piedade. Mas acostumados a tanta luminosidade, eles lotavam a praia de Botafogo, aproveitando a exuberância do cenário. Seus corpos talhados, pintados e bronzeados compunham a paisagem do local, exibindo sua habilidade “pegando jacaré” na marola do mar. Os mais jovens deslizavam em suas canoas, enchendo de cor e vida o espelho d’água: “muiraquitã tatuado no braço, calção corpo aberto no espaço, coração. De eterno flerte”. Tupis de toda parte sempre vinham passar o verão na praia. O Porto de Pindorama se transformava no “point” da galera. Era feliz a gente desse lugar.
E tinha dança, tinha festa, harmonia, tolerância, azaração e respeito. Biscoito de polvilho e mate bem gelado; guaraná e suco de caju. Todos os dias celebravam, desde o nascimento de Guaraci até o surgimento de Jaci, brilhante e prateada no céu do lugar. Esses dois bailavam livres pelos ares do local ao som dos hits do momento. As tabas se iluminavam pra festejar a noite efervescente. Um paraíso de gente feliz e bem resolvida, que não queria guerra com ninguém.
Mas esse dia reservava uma surpresa: ao pousar sobre as infinitas águas, o grande rio espreguiçou-se em um mar de calmaria e tranquilidade. A serenidade perene se espalhou para além dos limites da gigantesca Pindorama e carregou consigo lindas canoas, remadas pelos filhos de Tupã, guiando-os ao desconhecido.
Tendo apenas Jaci e Guaraci como guias, após um tempo flutuando “de boa” pelo espelho d’água, treze canoas aportam numa terra estranha, desconhecida até mesmo pelo Cacique e pelo Pajé, que era seu “fechamento”.
Os Tupis viajantes desembarcam numa terra de nativos de pele clara e escondidos debaixo de vestes extravagantes. Eles pareciam ter suas verdades embrulhadas como uma casca de fruta. “Todo mundo vestido, mas que loucura!” – exclamou o Cacique espantado! A terra de hábitos estranhos e ocas de pedra arregala os olhos dos “embaixadores de Tupã”. Mas sem perder tempo, esperto que só, o Pajé envolve os nativos ofertando seus presentes trazidos nas canoas encantadas: colares, cocares, frutas, biscoito de polvilho, mate (patrimônio imaterial de Pindorama), biquíni de crochê, caça e pesca de boa qualidade, já pensando naquele “comes e bebes” maneiro, típico da praia de Botafogo.
O Pajé logo “desenrola” uma “Primeira Pajelança”, pra abrir os caminhos e limpar aquela aura estranha do Velho Mundo. E a arte e a generosidade dos Tupis encanta os nativos, que penduram nos pescoços os colares e reverenciam a nobreza da alma dos navegantes das canoas encantadas!
Ao contrário do que se possa imaginar, os bravos viajantes de Pindorama nada usurparam dos “pobres” nativos, inocentes, perdidos em seus “não me toques” e “rococós”. Os Tupis, de alma altiva e brilhante, contaram suas histórias em volta de uma fogueira no centro das ocas de pedra; lendas de bravura e amor; de sabedoria e respeito à terra e aos animais, aos espíritos da floresta e aos antepassados. Também “rolou” uma dança bem animada, onde os Tupis ensinavam os nativos a rebolar “daquele jeito”, quebrando tudo. Um pouco constrangedor no começo, mas tolerância e paciência são virtudes de Pindorama.
Num rito de celebração, os mestres pintaram nos corpos dos nativos seus temas e símbolos, abençoando aquela gente e aquela terra. E pintados, se fizeram iguais aos filhos de Tupã, numa só tribo. Sem preconceitos, felizes, dançando num baile animado ao som do “pancadão” dos hits que faziam sucesso no verão.
E o amor de Pindorama se espalhou pelos corações. Agradecidos, os nativos do Velho mundo entregam as chaves da cidade ao Cacique, que chefiava a caravana dos Tupis. Um gesto de generosidade que cabe a todo líder de verdade, que entende seu papel.
Uma grande Taba foi erguida à Tupã e o Deus maior tomou assento nos corações dos nativos, comemorando o dia do “achamento” do Velho Mundo. Parecia um dia de festa na praia de Botafogo, regada à guaraná e suco de caju. Nada desse papo estranho de “colonizar”. O povo de Pindorama era muito mais evoluído que isso nas ideias e no coração: eles fizeram foi um carnaval!
E essa história foi contada de geração para geração, mantendo viva a lenda dos filhos de Tupã que atravessaram o infinito azul, e ensinaram ao Velho Mundo que trocar generosidade vale mais que a ganância. Treze canoas guiadas pelo amor de Jaci e Guaraci, até os limites da imaginação.
Jorge Luiz Silveira
Carnavalesco