Título do enredo: “Rita Lee, a padroeira da liberdade”

Rita Lee é imensidão. Veio ao mundo para arrombar a festa e escandalizar um Brasil que já perdia seus matizes para um opressivo cinza chumbo. Até então, Luluzinhas roqueiras não entravam no clube dos Bolinhas. Sua chegada naquele terreno minado foi um sopro libertário. E ela logo tratou de espalhar no ar a mistura da sonoridade do rock britânico da contracultura, uma pitada generosa de sua malícia inocente e a atitude transgressora típica desse tal de “roque enrow”. Um deboche lisérgico que refrescou e mudou a cena musical no país.

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Seguiu nos apresentando canções iluminadas de sol. Tropicália Maravilha na veia. A mistura de ritmos brasileiros com a psicodelia Mutante era muito mais do quesó pão e circo (ou Panis et Circenses). Era inovação sonora, estética e comportamental. Um agito cultural para uma sociedade brasileira ocupada em nascer e morrer. Com seus parceiros de palco, a garota hippie-tropicalista construiu uma imagem de liberdade e uma obra ansiosa por quebraras regras daqueles tempos sombrios.

Um belo dia, resolveu mudar. E foi sem pensar em voltar, rumo ao seu voo solo. Já era irresistível como um fruto proibido quando seguiu livre, sedenta pelas surpresas do destino. Encontrou outros planos, outros rumos, outras histórias, outras canções… e um amor eterno. Cara-metade, “muso”, parceiro na vida. No chão, no mar, na lua. Nas melodias.

Ovelha Negra, soube remar contra a maré da ditadura, da censura, das ervas venenosas e até da prisão, na jaula do Xadrez 21, verdadeiras canoas furadas em seu caminho. Para o status quo que imperava no “patropi” daqueles tempos, a moça era imoral, obscena. Suas músicas, um desacato aos valores da tradicional família brasileira. Suas atitudes, uma afronta à moral e aos bons costumes. Mas, mesmo perseguida pelos milicos, seguiu transgressora, libertária, ousada, inovadora, provocativa. Seguiu genial.

Genialidade que transborda em suas palavras, letras, notas, melodias e poesias para cantar a liberdade, o amor, o feminino, o feminismo e a sexualidade da mulher de uma maneira franca e direta. Músicas que desafiaram estereótipos e tabus, e abriram caminhos, sem preconceitos, para emancipar as mulheres na trinca sexo, amor & liberdade.

O sexo frágil que não foge à luta ansiava por se sexualizar. E isto foi traduzido por ela em versos provocativos ao evocar o feminino cor de rosa choque que não sente culpa por sua volúpia; o prazer de ter prazer; o desejo ardente na pele; a cumplicidade; a fome de amar; a alegria de se entregar, de se deixar beber quente como um licor. Hoje, as sonoras trilhas abertas por ela são ruas, avenidas, estradas e muitos outros destinos por onde desfilam mulheres livres e empoderadas. Bonitas e gostosas. Naluz do luar…Com brilho nos olhos… De tanto imaginar loucuras…

Plural. Pluralíssima. Muitas em uma só. Rainha do rock. Cantora, compositora, instrumentista, atriz bissexta, escritora e apresentadora. Ativista. Super-heroína dos animais. Defensora dos “frascos e comprimidos”. Padroeira da Liberdade. Sagrada e profana. Maldita pela Igreja. Bendita pelos fãs. Santa Rita. DeSampa. Feiticeira das palavras e atitudes contra o preconceito e a caretice, com ou sem a guitarra nas mãos. Bruxa raiz que cruzou a lua amarela. Energia esotérica de outras dimensões. De outros planetas. De outros carnavais.

Chega mais, Rita. Vem para o templo do samba fazer um monte de gente feliz. Bota esse povo para cantar tuas músicas de letras afiadas, irreverentes, bem-humoradas, divertidas. Alegremente carnavalescas. Teu “rockcarnaval”. Baila. Como se baila na tribo. Desbaratina. Lança teu perfume na avenida. E vem festejar com a Mocidade, pois, se tem festa, que seja pra gente deitar e rolar na companhia desta imensidão que é você, Rita Lee.

Carnavalesco: Renato Lage
Texto: Paulo Cesar Barros