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Sidnei França revela rotina entre Mangueira e Vai-Vai, e explica linha de enredos escolhidos na Saracura

O carnavalesco Sidnei França vive um desafio entre São Paulo e Rio de Janeiro fazendo o caminho que costuma ser inverso. Geralmente, artistas cariocas assumem projetos em São Paulo, e por vezes fazendo a ponte aérea, dividindo entre duas escolas. É o que acontece com o artista, que aceitou proposta da Estação Primeira de Mangueira e renovou com o Vai-Vai. Em mãos, ele tem a segunda maior campeã do carnaval carioca, a Mangueira, e a maior campeã do carnaval de São Paulo, o Vai-Vai. Ambas em processo de reconstrução e buscando alinhar novamente com as suas identidades. Em conversa com o CARNAVALESCO, Sidnei revelou como tem sido na ponte aérea São Paulo e Rio de Janeiro, como tem dividido as tarefas e suas equipes.

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vaivai et sidneyfranca
Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

“Geralmente, eu fico no Rio de segunda a quinta, mais ou menos, quarta à noite quinta de manhã e entre quarta e à noite quinta de manhã, pego a ponte aérea. Venho para São Paulo para ficar de quinta a sábado aqui no Vai-Vai e separar pelo menos um domingo para dar uma descansada. Tenho ficado uma boa parte da semana no Rio. E aí a minha equipe aqui em São Paulo toca o carnaval com Vai-Vai e aí quando eu venho para cá é o contrário… Tenho uma equipe que não é a mesma lá na Mangueira que cuida das coisas e vai me reportando pelo WhatsApp e eu fico aqui desenrolando as coisas do Vai-Vai. Nesse vai e volta que está todo mundo se dando bem felizmente. Fantasias sendo produzidas, alegorias, e lá no Rio, por exemplo, já está reproduzindo. E aí vai, estamos neste processo”.

Reação carioca com a contratação de artista paulista

O caminho geralmente é inverso onde artistas cariocas são contratados por escolas de samba de São Paulo. No caso de Sidnei França, seus bons trabalhos no carnaval paulistano, geraram o interesse da Mangueira. O anúncio foi no dia do desfile das campeãs de São Paulo e Rio de Janeiro em 2024, e Sidnei contou como foi a reação e recepção no primeiro momento.

“Percebo que em primeiro momento quando a Mangueira anunciou a minha contratação foi um baque. Lá ninguém esperava e a gente não pode também negar que existe sim um bairrismo, não dá para ficar com esse discurso de que eu uni as duas pontas. Isso não é verdade, porque eu respondo por uma escola em São Paulo de 14 e uma no Rio de 12. É uma realidade muito recortada. Não quer dizer que a partir de agora o Rio vai vir em São Paulo e contratar carnavalescos de uma forma corriqueira, não é isso. Em um primeiro momento lá no Rio, muitas pessoas inclusive vieram me dizer, ‘olha boa sorte, parabéns e sucesso, mas a gente está meio apreensivo para ver o que vai acontecer’. O Rio tem um método, um meio, um modo de fazer carnaval muito peculiar e eles achavam em algum momento que eu não ia conseguir absorver essa linguagem que o carioca guarda no carnaval. O carnaval no Rio não é só visual, não é só a nota dez, não é só a técnica do quesito, lá entra na questão da identidade do povo carioca. O povo suburbano, o povo do Morro, que desce para fazer carnaval de uma forma muito autêntica muito sua. E em algum momento, principalmente a Mangueira, uma escola como o Vai-Vai, quase centenária, muitos ficaram preocupados se eu ia conseguir entender o que é ser Mangueira, onde está ali a sutileza de uma fantasia para a bateria da Mangueira, a baiana da Mangueira, como que ela desfila, como ela se comporta. Mas aí é óbvio, eu não nasci ontem, né? O que eu sempre digo, eu acompanho o carnaval do Rio ao vivo desde 1998. Então para mim não é um outro mundo. É um mundo que não esperava ter contado e agora eu tenho, mas trago todos conceitos dessa história de arquibancada, de frisas e camarotes que eu já passei muitas vezes por lá”.

VaiVai et CarnavalescoSidneiFranca 2

Em relação ao projeto em construção no Rio de Janeiro, o carnavalesco ressaltou: “Estamos no momento de aprofundar as identidades, a partir do momento que a Mangueira anunciou enredo, o pessoal é ‘então ele já escolheu algo que tem cara de Mangueira, cara de Rio’ e agora veio o samba, depois os protótipos, as fantasias e tudo isso mostrando que estou integrado com esse novo momento e que eu entendo a Mangueira e o carnaval da Sapucaí. Que é uma outra dinâmica, que é um outro jeito de pensar carnaval e que eu sou sambista acima de tudo. Mas acho que tenho que conquistar gradualmente, mas até aqui tem sido muito valoroso e bonito também. Descobrir o carnaval do Rio e eles me abraçarem, principalmente, a Mangueira. Não tenho o que falar a comunidade, a diretoria, se esforçam muito para que eu esteja à vontade em nome inclusive de um grande carnaval dessa escola que sempre marca a presença e sempre deixa o seu legado”.

Momento de liberdade criativa no Vai-Vai

Enquanto alça voo no Rio de Janeiro, constrói o terceiro carnaval no Vai-Vai e vive um momento de felicidade com a escola que tem abraçado seus enredos com uma ideia de temas bem fortes, com a cara da tradicional escola de samba de São Paulo.

“Por que estou muito feliz no Vai-Vai? A escola compra o meu discurso. Eu sou um sujeito de esquerda, que gosto de entender a mensagem do carnaval também, não somente, mas também como crítica ao sistema e ao status de como a sociedade se configura. Isso está no meu pensamento, está enraizado na minha visão de mundo e de não só para o carnaval, de sociedade e o Vai-Vai acaba aceitando, dialoga muito bem com esse pensamento crítico com essa visão questionadora”.

VaiVai et CarnavalescoSidneiFranca 3

No Vai-Vai engatou dois enredos em seguidas, já que no primeiro no Grupo de Acesso contou uma reedição e explicou: “Esse é o meu terceiro carnaval com o Vai-Vai, primeiro foi a reedição no Acesso, em 2023 com o ‘Eu também sou Imortal’. Mas ali foi uma reedição. Tive um tratamento visual muito mais acentuado do que a narrativa. Já no hip-hop, coloquei tudo do que eu pensava como rua, como insurgência, como questionamento do sistema e agora de uma outra vertente, de uma outra maneira, o Vai-Vai também se posiciona ao assumir a voz e as palavras de alguém que antes de partir desse plano deixou uma mensagem muito potente, de liberdade do corpo, de liberdade do pensamento. O Zé Celso, na ditadura brasileira, ele foi muito opositor a ponto dele ser exilado. Passou por Portugal, Moçambique, isso também vai estar no desfile. Pensar hoje no Vai-Vai nesse lugar de escola do povo, escola da rua, abraçando discursos muito ligados ao questionamento do funcionamento social me completa muito. E para além disso também tem a questão de que o Vai-Vai tem uma autoridade moral, uma escola de quase 100 anos, assentada no centro de São Paulo, que já viveu muitos momentos de integração entre política e carnaval no decorrer da sua história. Está reafirmando a sua identidade, até por não estar na Bela Vista é importante o Vai-Vai se reencontrar sempre com a sua identidade de rua para que continue passando para as novas gerações. Imagine você, as crianças que hoje estão cantando hip hop, vão cantar as Zé Celso, é importante identitariamente, olha a minha escola de samba ela se posiciona e a partir daí me ensina também a me posicionar e encontrar qual é a minha função dentro desse cenário sociocultural que São Paulo vive, o Brasil vive e não dá para ser alheia”.

Conexão do Vai-Vai com suas origens e a rua

O carnavalesco Sidnei França gosta de trabalhar com as identidades de cada escola, respeitando seu solo, sua história, e potencializar isso, principalmente dentro dos seus enredos como tem feito no Vai-Vai. Mas também em resgatar tradições como na escola do povo, a ligação com as ruas, e explicou o motivo disso ser importante.

VaiVai et PavilhaoEnredo 1

“Hoje eu vejo que foi um dia muito especial para além da escolha do Samba o Vai-Vai retornar para Bela Vista. Ainda que em um momento transitório, esse espaço foi ocupado obviamente com a anuência do poder público, mas não é um espaço definitivo obviamente. Foi uma estrutura montada de uma maneira muito pontual para final de samba, mas que o Vai-Vai volte urgentemente para esse solo que é muito, muito, Vai-Vai, que é uma escola de Exu, fundamentada, assentada em Exu que é um orixá dos caminhos, da rua, das passagens, das encruzilhadas e a alma dessa escola está plantada na rua. E é muito bonito ver que o tempo passa, o Vai-Vai passou por muitos solavancos nos últimos anos dois acessos. Problemas não só de ordem política, mas financeira também. Porque quando você cai, você perde verba, você perde estrutura e tudo isso faz com que o Vai Vai esteja agora numa fase de retomada, da sua pujança, do seu grau de favoritismo e protagonismo no carnaval de São Paulo. Estou numa fase muito feliz é é não só lá no Rio, mas aqui em São Paulo também, de defender as cores de uma escola muito tradicional. No momento em que a tradição precisa se reafirmar, precisa se fortalecer, para se tornar também competitiva com as novas forças do carnaval e é isso estou feliz, não só pelo samba”.

Recado para a comunidade do Vai-Vai

Vivendo um momento positivo dentro da comunidade do Bixiga, deixou um recado justamente para o seu povo: “Quero deixar para o povo da Bela Vista, o povo da Saracura, o povo do Vai-Vai, uma mensagem de que nós estamos muito, mas muito engajados. Quando eu falo nós, coloco eu, toda a direção de carnaval, a direção executiva, representada na figura máxima do presidente. Todo mundo muito engajado, para que seja um carnaval que o Vai-Vai retome o seu protagonismo, volte a disputar título, estar nas campeãs, se não a campeã. Então Vai-Vai ele vem retomando o seu fôlego e ciente da sua grandeza vai com tudo em 2025 para encerrar o carnaval que foi uma escolha nossa”.

VaiVai et povao scaled

O carnavalesco complementou chamando a comunidade para o desafio no próximo carnaval: “A escola foi lá para o dia das definições ciente de que ela queria encerrar, e hoje nós vivemos uma fase que as escolas fogem do encerramento e não, Vai-Vai ele abraçou porque o vaivaiense ele sabe se entregar em qualquer horário, mas no encerramento tem algo especial com o Vai-Vai. Acredito que estamos conseguindo dialogar bem com essa vocação e essa grandeza, essa potência que é o Vai-Vai para fazer um tsunami no Anhembi em 2025”.

O Vai-Vai encerra o Grupo Especial de São Paulo no sábado de carnaval, ou seja, é a última escola a desfilar e será com o tema: “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”, em homenagem ao artista Zé Celso.

vaivai et fantasia2025

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