Após a apresentação dos protótipos de fantasias para o Carnaval 2026, o carnavalesco Sidnei França, da Estação Primeira de Mangueira, conversou com o CARNAVALESCO, e, fez um balanço de sua estreia na Marquês de Sapucaí, detalhando as mudanças e aprendizados que moldam o próximo desfile. França garantiu que a experiência de 2025 o transformou, resultando em um trabalho mais técnico e focado nas necessidades reais da comunidade Verde e Rosa.

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Foto: Matheus Morais/CARNAVALESCO

O artista descreveu seu primeiro ano na Mangueira (2025) como um “trabalho de acomodação”. Vindo de uma estrutura diferente em São Paulo, o carnavalesco confessou ter sentido uma tensão inédita durante o desfile, especialmente na curva da Sapucaí.
“Meu coração quase saiu pela boca naquela curva. Eu nunca tinha vivido aquela tensão”, revelou França, destacando as diferenças logísticas e estruturais entre os carnavais.

No Rio, por exemplo, ele observou que há a tradição de ter um escultor ou aderecista responsável por cada carro, diferente de São Paulo, onde “é uma equipe de frente para fazer todos os carros da escola”.

Essa imersão levou a uma mudança de perspectiva para o próximo ciclo. Se em 2025 o olhar era “muito artístico e muito lúdico”, para 2026 o planejamento está mais pragmático:
“Agora, para 26, eu estou um pouco mais pé no chão, mais técnico. Olha, aquilo pode não subir, aquilo pode não abrir, aquilo pode soltar”.

O saldo final é de maturidade: “Eu acho que hoje eu trago uma bagagem mais madura e mais assentada na realidade da Mangueira”.

Amapá e a força da identidade

A inspiração para o enredo, focado no Amapá, vai além da paisagem, segundo o carnavalesco. O que realmente o impressionou foi “o quão profundo é o apego do amapaense pela sua cultura, pelos seus saberes, pelas suas tradições”.

Ele busca traduzir a “verdade de um povo”, ressaltando um lema que o marcou profundamente: “Ser amapaense é ser duas vezes Brasil. Um por documento, por herança oficial, e outro por escolha, porque eles estão muito afastados. Não têm ligação terrestre com o restante do Brasil, e escolhem todos os dias serem Brasil, serem brasileiros”.

O desfile tentará capturar essa “densidade espiritual para além da identitária” da Amazônia Negra.

Galeria de fotos da final de samba da Mangueira para o Carnaval 2026

Conjunto de fantasias: leveza e atuação

A plasticidade do conjunto de fantasias para 2026 teve como ponto de partida uma escuta ativa da comunidade. França reconheceu as críticas de que as fantasias de 2025 foram “pesadas”.

“Eu passei a ouvir muitos mangueirenses. O foco é entregar para Mangueira um conjunto mais leve, mas nem por isso menos rico em textura e simbologia”.

Ele também detalhou sua filosofia artística sobre o vestuário dos componentes. “É uma característica do meu trabalho o uso de malhas, luvas e maquiagem cobrindo o corpo. O componente deve ser enxergado como um ator em uma peça artística, literária, onde cada detalhe é essencial para contar a história. É como se eu visse no componente a personificação viva da narrativa”, explicou.

Visualmente, o carnavalesco confirmou que o Verde e Rosa estará muito presente, especialmente na transição do primeiro para o segundo setor, quando o desfile sai da atmosfera chamânica e ritualística do Turé no Oiapoque para mergulhar nos rios amazônicos.

Alegorias, tecnologia e samba cirúrgico

Para 2026, o torcedor da Mangueira pode esperar um conjunto alegórico “muito interativo, com muito movimento, muita tecnologia”. Sidnei França reafirmou sua preferência por “carros mais vazados” e “formas mais abstratas no conceito de volume”. Ele prometeu que o trabalho será superior ao do ano anterior.

“Nós temos um conjunto que eu tenho certeza que vai ser muito melhor que 2025. Tenho absoluta certeza disso. É muito mais minucioso, muito mais impactante”.

Sobre o papel do samba-enredo, França o qualificou como “muito cirúrgico”. Ele explicou que o samba vai além da mera imagética, o que normalmente se busca na letra, alcançando o campo do sentimento.

“Ele consegue ser muito eficiente ao traduzir na letra o sentimento. A força do samba está em criar uma conexão de energia e em completar o cenário, traduzindo uma sensação que você muitas vezes não sabe nem colocar em palavras, você sente. É uma “ferramenta crucial e decisiva para traduzir a atmosfera e os“sentimentos amapaenses na Sapucaí”, afirmou.

Laços de gratidão e apoio institucional

França também abordou o impacto emocional de ter sido elogiado publicamente pela presidenta Guanayra Firmino. Ele classificou o momento como uma “honraria”, ressaltando a força de ser reconhecido não só pelo público, mas também nos bastidores.

“É muito forte você ouvir de um presidente de escola de samba que você é uma das melhores coisas que ocorreram. Ela olhou para mim como um ser humano que tem sensibilidade para tocar nesse pavilhão sagrado”, comentou, destacando a profundidade do laço com Guanayra.

Além do apoio pessoal da presidenta, Sidnei França celebrou a realidade financeira positiva da escola para 2026, impulsionada pelo apoio do Amapá. “É um ano em que a Mangueira caminha tranquila no quesito de aporte financeiro. Isso faz a diferença, porque a gente já começou o trabalho de barracão”.

Ele concluiu dizendo que o saldo de 2025 é valioso: “Tudo que eu aprendi naquela caminhada, eu estou colocando em prática agora, para que 2026 seja mais assertivo não só do ponto de vista artístico, lúdico e estético, mas também técnico”.

Mangueira chama o povo daqui e junta o povo de lá para escolher samba da parceria de Pedro Terra para o Carnaval 2026