Após dois anos sem poder acompanhar de perto a festa mais tradicional do Rio de Janeiro, o público vai poder sentir a emoção de estar de volta de forma oficial à Marquês de Sapucaí. O antigo “grupo A” do Carnaval carioca, que agora passa a se chamar Série Ouro, nome que tinha sido sugerido pela LIERJ no Carnaval de 2013, contará com quinze Escolas de Samba. Os desfiles vão acontecer quarta e quinta-feira, dias 20 e 21 de abril.
Mesmo com as emoções à flor da pele, não podemos esquecer que o Carnaval, além de toda história de resistência que carrega, é uma competição. O site CARNAVALESCO conversou com Rafael Tavares, ritmista da Unidos de Padre Miguel e torcedor da Mocidade, sobre o que esperar dos desfiles da Série Ouro.
“Acredito que esse ano será um dos mais competitivos. Aposto em algumas que podem ser favoritas ao título, como a Império Serrano, que traz o samba enredo “Mangangá”. A Porto da Pedra, que irá homenagear Mãe Stella de Oxóssi, escritora e Yalorixá que marca a história ao lutar pelo respeito ao Candomblé também vem forte. Obviamente, também aposto na Unidos de Padre Miguel”.
O Carnaval, que chegou ao Brasil pelos colonizadores portugueses e se estabeleceu no país entre os séculos XVI e XVII, desde suas raízes enfrenta batalhas árduas contra o preconceito com a festa. Ano após ano, vem mostrando que o maior espetáculo da Terra não é apenas a “festa da carne”, mas que, dentro de um desfile, pode-se manifestar indignação com situações do cotidiano, mostrar que as religiões de matrizes africanas são dignas de respeito, como todas as outras, entre diversas vertentes que têm condições de serem abordadas.
Guilherme Bonifácio, torcedor da Porto da Pedra, de São Gonçalo, falou um pouco sobre a história que sua Escola vem cantar e destacou a importância que as agremiações carregam por retratarem memórias do passado.
“A mãe Stella foi uma forte influência no Candomblé: ela lutou muito para que a religião ganhasse seu merecido espaço e respeito no Brasil. A Porto sempre gostou de trazer à Sapucaí pessoas e histórias que merecem e devem ser destacadas, pessoas que são sinônimos de luta e de resistência. Porque, assim como o Carnaval enfrentou desconfianças, diversas pautas em nossa sociedade enfrentam até hoje. Então, é muito importante trazer esses enredos para a Sapucaí. Funcionam quase como um livro de contos em movimento”.
O Carnaval de 2022 já pode ser considerado um sucesso. Após esses anos em baixa, a realização dos desfiles traz um marco para todos nós, amantes ou não do Carnaval: é o começo do fim do “novo normal”, imposto pela Covid-19. As expectativas são as melhores possíveis em todos os quesitos e, com certeza, por podermos estar vivenciando tudo isso novamente, emoção e alívio não vão faltar.
Como diz a frase da extinta banda “O Rappa”, o Carnaval será “luz que faísca no caos”. A volta dos desfiles suprirá todos os abraços que não puderam ser dados, o acalento no coração dos que perderam alguém nesses anos e, principalmente, a esperança em dias melhores. O Carnaval voltou para quem nunca deveria ter sido deixado de lado: o povo.