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Série Barracões: Viradouro em busca do bicampeonato com a história de Malunguinho

Enredo sobre o líder quilombola e entidade afro-indígena promete inovação plástica, luzes e uma jornada transcendental na Sapucaí

A Unidos da Viradouro mira em 2025 seu primeiro bicampeonato consecutivo no Grupo Especial do carnaval carioca. Após vencer em 2024 com um desfile considerado “quase perfeito” pelos jurados, a escola de Niterói mantém a confiança no carnavalesco Tarcísio Zanon, à frente do carnaval da agremiação desde 2020 – ano em que a escola conquistou seu segundo título (o primeiro foi em 1997). Com um histórico recente de pódios (terceiro lugar em 2022 e vice em 2023), a Vermelho e Branca aposta no enredo “Malunguinho: Mensageiro de Três Mundos” para ficar com a taça e entrar para a história. A narrativa mergulha na trajetória de João Batista, líder do Quilombo do Catucá (Pernambuco, século XIX), cuja luta pela liberdade o transformou em Malunguinho, entidade reverenciada na Jurema Sagrada, religião ancestral afro-indígena. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Zanon detalhou os desafios de repetir o título, a ousadia plástica do desfile e o cuidado em equilibrar sagrado e carnavalização.

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Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO

O desafio do bicampeonato: “O desafio só aumenta, e é o que a gente mais gosta. A Viradouro vem quebrando paradigmas: em 2020, fomos a segunda escola a vencer no domingo após décadas. Hoje, somos referência na Liga das Escolas de Samba. Nosso diferencial é olhar para dentro: melhoramos processos de produção, ergonomia das fantasias, testes de iluminação e até a maquiagem. A comunidade se sente valorizada, os profissionais respeitados. Somos um modelo de gestão que merece ser premiado – não por estar aqui, mas por inspirar dignidade e profissionalismo”, afirmou Zanon, lembrando que o último bicampeonato no carnaval foi da Beija-Flor, em 2008.

Jornada alucinógena na Sapucaí

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O enredo, segundo o carnavalesco, é um “convite ao surto criativo”. A Jurema Sagrada – ritual que usa um chá de acácia com efeitos alucinógenos – será o fio condutor para uma viagem sensorial. “Malunguinho acessou cidades encantadas através desse chá, e nós traduzimos isso em cores vibrantes, materiais inusitados e efeitos de luz que já são nossa marca. Será um desfile piramidal: todas as alas seguirão a lógica das aberturas que fizemos em enredos anteriores, como Pink Magic e Dangbé. Queremos imagens que grudem na memória, como um ‘mestre Renato Lage’ faria”, brincou Zanon, referindo-se ao lendário carnavalesco.

Respeito ao sagrado e liberdade carnavalesca

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O desafio foi equilibrar a precisão histórica com a fantasia. “A Jurema tem símbolos intocáveis: estrelas de sete pontas, cachimbos, cocares. Trabalhamos com antropólogos e líderes religiosos para não distorcer sua essência. Ao mesmo tempo, o transe do chá nos permite abstrair formas e cores. É a carnavalização do invisível”, explicou. A pesquisa incluiu catalogar mais de 100 pontos cantados (hinos religiosos) dedicados a Malunguinho, muitos com séculos de tradição.

Novidades Técnicas

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Iluminação: A escola desfilará totalmente à noite. Um light designer foi contratado para criar efeitos 3D que ressaltem fantasias e alegorias sem descaracterizar a arte tradicional.

Fantasias: Tecidos termorreguladores combatem o calor, enquanto estruturas cinéticas (com movimento) prometem surpreender. “A Viradouro é luxo com leveza: 80% do público é feminino, e pensamos em conforto sem abrir mão do brilho”, disse Zanon.

Alegorias: O tripé ganhará destaque, assim como um carro que representa a “Chave de Malunguinho”, símbolo de libertação das senzalas.

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Aposta no conjunto: “Musicalmente, evoluímos. O enredo é mais claro que o anterior. Plasticamente, estamos mais ousados. Até o casal de mestre-sala e porta-bandeira terá figurinos revolucionários”, adiantou Zanon. Se depender da ambição e do rigor técnico da Viradouro, Niterói pode celebrar não só um bicampeonato, mas o nascimento de uma nova lenda no asfalto.

Entenda o desfile

A Unidos de Viradouro para 2025 vem com 2.500 componentes em média. Seis carros alegóricos, um tripé e o elemento alegórico da comissão de frente serão usados ao longo do desfile da agremiação. Tarcísio Zanon, ao CARNAVALESCO explicou a setorização.

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Setor 1: “Um primeiro momento a gente traz o João Batista, que é o último dos malungos, que é o nosso enredo, e que se torna essa entidade afroindígena que é o Malunguinho. Então o João Batista revolucionário, líder quilombola, líder político, tacando fogo nos canaviais, libertando o povo dele, o pavor da elite da época. Entramos com esse espírito do herói, não do anti-herói, mas do salvador daquela comunidade. Depois a gente faz a passagem dele, isso é o histórico, a gente faz a passagem dele para o espiritual que se entrelaça com o histórico, porque o que a gente aprende sobre o Malunguinho é que ele é uma entidade que habita em três falanges, que é a mata, a jurema, que é a árvore, e a encruzilhada, onde ele na mata é caboclo, mestre na jurema, e exu na encruzilhada. Os setores eles seguem exatamente essa ordem e é como ele se apresenta dentro de uma sessão de jurema”.

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Setor 2: “Ele é caboclo da mata, porque historicamente ele adentrou a mata do Catucá, aprendeu o segredo dos pajés, ele aprendeu o segredo das ervas, aprendeu a usar as armas dos pajés, os arco-e-flechas, a forma de se defender, a fazer, construir, desconstruir uma oca, construir o quilombo do Catucá dessa forma, de uma forma itinerária, o que fazia também com que ele fugisse dos algozes dele, então esse é o segundo setor, é o caboclo”.

Setor 3: “O nosso terceiro setor é o mestre, é o momento em que Malunguinho é ferido em uma emboscada, e ele entra em contato com o chá da jurema que cura ele e que ele passa a ter o conhecimento dessas cidades encantadas. É um setor altamente cristal, altamente encantado, de cura, é o chá da jurema”.

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Setor 4: “O último setor é o setor da encruzilhada. Ele tinha uma chave sagrada que abria todas as portas de senzala. Na verdade, a gente fala exu-trunqueiro, mas isso é uma forma popular, porque se a gente considerar dentro da jurema ele não é exu, ele é trunqueiro. O exu se popularizou por conta da influência iorubá e a gente tem dentro desse enredo uma religião que amalgama todas as outras, porque quando os europeus chegaram aqui as bruxas ibéricas se adentraram às matas para poder ter refúgio dentro da jurema, o catolicismo popular também teve influência da jurema e se adentrou, a própria umbanda sai também da jurema. A gente fala sobre essas encruzilhadas, sobre isso tudo que se entrecruza e chega nos dias atuais, porque até hoje existe uma festa feita para Malunguinho e que se oferece não somente oferendas físicas. A dança de coco, os maracatus, todas essas manifestações populares de Pernambuco, elas têm dentro das suas instituições assentamento de Malunguinho e na festa de Malunguinho elas vão dançar para ele. A gente tem essa encruzilhada que vai se fundir com a nossa encruzilhada que é a Marquês de Sapucaí”.

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