Por Gabriella Souza
A Vila Isabel impressionou em 2019 com o luxo e a grandiosidade de seu carnaval e a estética de seus carros alegóricos, conquistando a terceira colocação, deixando seus componentes com o desejo ainda maior de buscar o título em 2020. Com o enredo “Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio chamado Brasil” a escola virá destrinchando seu desfile a partir da apresentação lúdica de um conto com o índio Brasil.
A azul e branco retomará a poética ao carnaval como narrativa da história de um povo, de luta, de sonhos e de esperança, nos brasileiros de tantas marcas, de diversos rostos e de longa trajetória, povo que vislumbrou melhores dias na Brasília sonhada, cidade atestada de seu nome. Afirmará, assim, a história dessa gente tão vivida, tão presente e deixará para a cultura e o carnaval o legado deste grandioso povo brasileiro.
Para celebrar os sessenta anos da cidade de Brasília, a Vila usará o marco para mesclar e também homenagear a história do brasileiro, retratando em cada canto deste país as suas inúmeras trajetórias. A viagem cultural começa com o pequeno índio, ainda curumim, chamado Brasil, que enquanto dormia ao balanço e sossego de sua canoa sonhou com uma ave, a Jaçanã, que veio até ele lhe trazer tal profecia: a de que ele ganharia uma irmã. Afirmando que ela nascerá forte ao representar um ponto de luz, de esperança para seu povo e que se chamará Brasília. No entanto, só podendo ser entendida a partir do conhecimento e trajetória de sua pátria-família. E é neste ponto que a Vila, a partir do conto, destrincha a história do povo brasileiro, na cultura e costume de cada região pertencente, que juntas fizeram nascer a capital federal, sustentada na luta e esperança deste povo.
“Contudo, pede-se licença para imaginar contos de límpida felicidade no Carnaval para nesses dias acalmar o sofrimento incessante do doloroso real. Assim, Vila Isabel, canta essa Brasília irmã com o pequeno Brasil e sua Jaçanã”. Estre trecho da sinopse expõe a síntese do enredo, construído debruçando-se na viagem lúdica do pequeno índio Brasil. A concepção do desfile foi desenvolvida pelo carnavalesco Edson Pereira, que vai para seu segundo ano na agremiação, e que conta como surgiu a proposta do enredo.
“Na verdade, este enredo surgiu como uma proposta de desenvolver um desfile sobre Brasília, mas eu não achei pertinente fazer um enredo somente sobre isso, principalmente, pelo momento político que o nosso país passa hoje e também até porque não é o meu foco de atuação enquanto artista. Então eu propus que a gente pudesse falar sobre o povo brasileiro e toda a sua identidade. E foi em cima disso que estamos desenvolvendo o desfile, ao mostrar toda a diversidade cultural do nosso país, e quanto o brasileiro acredita e segue acreditando em um gigante que é o Brasil”, explicou.
Edson conta que no desenvolvimento do enredo vários aspectos culturais do povo brasileiro lhe marcaram, mas um em especial o impressionou: a resiliência, qualidade próxima à superação, marca de uma gente que se mantém firme mesmo com todas as adversidades.
“Nesse enredo o que mais me impressionou mesmo foi perceber a tamanha resiliência do povo brasileiro, que diante de tantas adversidades e questões contrárias a gente continua acreditando sempre, até o final. Eu quando pego o pequeno índio brasil, que é um gigante, mas que precisa entender o quanto ele é grande a partir do conhecimento do seu próprio povo, da sua própria cultura e diversidade cultural. A partir desse conhecimento é que ele começa a entender quem somos nós brasileiros, que somos um povo completamente diferente de todos os outros do mundo”.
Vislumbrando um patrocínio da cidade de Brasília, a Vila se viu somente com promessas e passando pelas mesmas dificuldades das outras escolas com as dificuldades na disponibilização de verbas para a feitura do carnaval. No entanto, Edson ressalta que a escola optou por reduzir o volume do seu carnaval para poder priorizar a qualidade.
“Com a dificuldade na disponibilização das verbas a Vila está realizando um projeto muito enxuto e bem pé no chão, sabendo já desde o início que seria tudo muito difícil. E, por isso, que a gente aceitou fazer esse enredo sobre Brasília, mas que não chegou um aporte financeiro, a gente apostou nisso mas até agora ainda não conseguiu, o que recebemos até o momento foram somente promessas, já que de investimento nada chegou. Mas a gente vem desenvolvendo um carnaval dentro das condições da escola e usando os materiais orgânicos, não é a primeira vez que acontece e também é a função do carnavalesco conseguir driblar tudo isso. É um carnaval feito com muito mais cuidado e mais criatividade do que aporte financeiro em si”.
Edson destaca que todo o trabalho realizado na agremiação é deliberado em coletivo, mas que mesmo nunca conseguido agradar a todos, a equipe tem por foco pensar o melhor caminho para a escola na conquista de boas notas e do título.
“Justamente dessa forma, não é pegar um viés. Tudo o que a gente faz aqui na Vila é realizado em conjunto, então a gente escolhe pelo gosto da maioria e todas essas pessoas que estão envolvidas no nosso projeto estão sempre de acordo, claro que não se dá para agradar todo mundo sempre, nem Deus conseguiu fazer isso, mas o que a gente faz aqui é nesse sentido de sempre querer fazer o melhor para obter o melhor resultado para a escola”, conta.
Entenda o desfile:
A proposta da Vila para 2020 é de um carnaval mais enxuto, como já ressaltou Edson Pereira, a redução foi clara visto que a escola virá com cinco alegorias e somente um tripé, o que irá compor a comissão de frente, “isso foi uma escolha da nossa equipe, para poder entregar tudo bem feito e com qualidade” disse o carnavalesco.
“O título do carnaval ‘gigante pela própria natureza’ é exatamente para defender o quanto somos grandes enquanto povo, enquanto nação, ressaltar que somos gigantes mesmo. Com isso, eu humanizo esse pequeno índio que vai para sua luta diária como todo povo brasileiro faz para ganhar o seu pão de cada dia, através dessa história lúdica, que é muito onírica, pois quando ele adormece na sua canoa e ela vira uma Jaçanã, ele vai através de seu sonho conhecer todos os povos brasileiros, em cada cantinho do Brasil de leste a oeste, norte a sul, e, assim, se identificar com todas essas diversidades culturais. Para, assim, pousar no centro-oeste e formar o mapa de Brasília, como essa Jaçanã que tem a asa sul e a asa norte assim como a cidade. Um grande pássaro realizando o sonho do povo brasileiro” explica Edson sobre o desenvolvimento geral de seu desfile.
O que se viu no interior do barracão foram esculturas já sustentadas e grandiosas, muito também ainda sendo reaproveitado do carnaval de 2019, algo comum em todas as escolas. O mais interessante eram os detalhes, tanto no corpo ou no rosto de bonecos que estão acoplados aos carros, mostrando que a qualidade do trabalho na Vila será diferenciado. Alguns carros ainda sendo construídos em estágios iniciais, mas tudo sob o controle da equipe de Edson, bem segura do trabalho, tudo bem com a identidade da Vila.
Setor 1: Edson fala que este setor inicial será onde a história da mãe pátria e seu filho, o menino índio Brasil, começará a ser contada a partir de seu sonho: “Nós teremos neste setor inicial justamente a síntese do que vem, que é um setor onde a gente inicia o carnaval, então serão a mãe pátria com seu filho Brasil, acalentando ele e mostrando para seu menino esse sonho”.
Setor 2: Aqui será apresentado o Brasil já com seu desenvolvimento, suas indústrias, com um país de promissor crescimento. Com destaque para o Sul do país e seu desenvolvimento agrônomo: “Neste segundo setor já estará o grande celeiro do povo brasileiro, onde a gente começa a se desenvolver como indústria, com o crescimento do país. Aqui a gente fala do Sul para mostrar esse desenvolvimento agrônomo do Brasil”, declarou Edson.
Setor 3: Neste terceiro momento do desfile, será retratado o sudeste do país, com Minas, Rio e São Paulo, assim como a figura do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Será retratado também a cultura desses lugares, entre o samba e o carnaval: “Aqui nesse terceiro setor a gente fala do sudeste, onde a gente vai mostrar um pouco da origem de JK, que veio de Minas Gerais e que tem esse link com a cultura do Rio de Janeiro e de São Paulo, com o samba, carnaval e, claro, a Vila Isabel”.
Setor 4: Aqui serão retratados os povos do nordeste, das pessoas trabalhadoras que são a cara da luta e do sustento do povo brasileiro: “Aqui a gente vai mostrar o povo do nordeste, esses candangos que são as pessoas que mais trabalharam para que esse país virasse e pudesse se transformar em um grande país”, disse Edson.
Setor 5: Finalizando o desfile da Vila, virá o retrato da capital federal Brasília, onde são guardados sonhos e ainda esperanças: “No quinto e último setor já é esse sonho realizado, de uma capital da esperança. Onde, infelizmente, não é o que a gente espera mas é o que a gente continua sonhando”.
O carnavalesco deixa ainda um recado para os componentes e amantes da azul e branco de Vila Isabel.
”O que todos podem esperar da escola é uma Vila grande, como eu gosto de fazer carnaval e da forma que eu acho que o carnaval precisa ser, grandioso, diante de tantos problemas financeiros a gente não pode perder essa grandiosidade, essa que o carnaval da Vila trouxe ano passado e que eu gosto de fazer”, declarou Edson.