A meta da Torcida Jovem é, claramente e explicitamente, retornar ao Grupo de Acesso I já em 2026. Para conseguir tal objetivo, a escola terá como enredo “Na Capital do Reggae, onde a natureza canta e o mundo se encanta. São Luís do Maranhão” e será a quarta escola a desfilar no Grupo de Acesso II – que terá seu desfile realizado no dia 22 de fevereiro. Os motivos pelos quais a cidade ludovicense será homenageada e mais algumas particularidades da exibição foram explicados por um dos integrantes da Comissão de Carnaval da agremiação em uma reportagem exclusiva.
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O CARNAVALESCO visitou o barracão da Torcida Jovem e conversou com Evandro Guedes, diretor de carnaval e um dos integrantes da Comissão de Carnaval da instituição. Além de conferir o andamento da produção do desfile, a reportagem se surpreendeu e buscou entender um pouco de como está sendo o ciclo da instituição.
Pragmatismo na decisão
A primeira surpresa da reportagem veio logo na primeira pergunta da entrevista. Ao ser perguntado sobre o motivo pelo qual a capital maranhense foi escolhida como enredo, Evandro não se furtou a dizer que o resultado balizou tal escolha: “A ideia surgiu, primeiro, por ser um carnaval campeão. Eu venho falando dentro da escola que todas as outras agremiações que falaram de São Luís do Maranhão obtiveram sucesso e êxito. Isso animou a gente ainda mais vindo de um descenso do Grupo de Acesso I. A gente quer lutar para voltar. A primeira inspiração foi essa. Tiveram outras ideias; mas, quando foi falado de São Luís do Maranhão, a gente optou justamente por isso primeiramente. Depois, o nosso grupo deixa com que a gente possa usar algumas peças de algumas outras agremiações – obviamente que totalmente reformadas, totalmente modificadas. Isso acabou barateando um pouco o nosso carnaval – apesar de ser um carnaval bem caro. A inspiração também veio por conta do barateamento do carnaval e também da ascensão das outras escolas falando de São Luís do Maranhão. Por ser uma terra bem rica de cultura, em que falam de três países que tentaram a invasão (Portugal, França e Holanda), a gente concluiu o ciclo para a escolha do enredo. A gente optou por fazer esse enrendo também visando baratear o carnaval, mas o carnaval que a gente pensou que ia ser barato está o triplo do que a gente imaginava. Acontece. É basicamente isso, a riqueza da cultura lá é muito bacana, a gente conseguiu unir o útil ao agradável através disso”, confessou.
Pouco depois, ele falou um pouco mais sobre o que, culturalmente, mais o encantou sobre São Luís: “O que chamou bastante atenção nas nossas pesquisas foi a parte da chegada dos invasores. Até então, por mais que eu conhecesse um pouco da parte cultural e da vida, eu não conhecia profundamente São Luís do Maranhão. Quando eu vi os três países, me choquei. Como assim? Os portugueses colonizaram e ficou como Portugal o símbolo maior na época, mas franceses e holandeses também queriam. Isso chamou bastante atenção, três países tentando invadir uma terra e chegaram os três a estar na mesma terra – mesmo com Portugal se destacando. A gente vai usar e abusar bastante desse setor aí, que é o setor dos três países que invadiram”, comentou.
Trabalho em conjunto
Desde o primeiro instante em que pisou no barracão da Torcida Jovem, a reportagem ouviu sobre o quanto o trabalho desenvolvido na instituição é coletivo. O processo para a escolha do samba-enredo (composto por Turko, Rafa do Cavaco, Maradona, Imperial e Fábio Souza), por exemplo, também teve participação ativa não apenas da Comissão de Carnaval – mas, também, do diretor musical e mestre da Firmeza Total, Mestre Caverna: “Tudo que a gente vai fazer, a gente se junta. Se já escolhemos o tema, o próximo processo é a escolha do samba. Nos últimos anos, de 2020 para cá, quando a gente falou de Jair Rodrigues, depois Bela Vista, depois da Iemanjá e depois da nação bantu, a gente procurou ter uma cautela muito grande em relação ao samba: é o samba quem vai animar o povo, é o que vai animar a nossa agremiação. Por mais que, às vezes você consiga fazer um samba médio e você consiga animar seu povo, talvez você não consiga animar o quanto você precisa na avenida. Nesse ano a gente tomou um cuidado tão grande que o nosso samba chegou para a gente uma semana antes da apresentação na Fábrica. Ele foi muito bem mapeado e foi muito bem elaborado, cada detalhe dele foi inteiramente pensado. Tanto que, hoje, a gente já tem o nosso povo com o samba decoradíssimo. Creio que 98% do nosso povo que está indo para os ensaios já está com o samba bem gravado na mente. A gente tem, na minha opinião também, o melhor samba do Grupo de Acesso II – não desmerecendo agremiação nenhuma. Falo isso até mesmo ouvindo a opinião de outras pessoas, até de outras agremiações com quem a gente conversa bastante: já falaram que o nosso samba está muito pesado, está muito bom. Foi tudo muito bem planejado, muito bem elaborado. Tudo isso graças ao nosso Mestre Caverna e a toda a escola”, agradeceu Evandro.
O diretor de carnaval também aproveitou para explicar como funciona o trabalho da Comissão de Carnaval da TJ: “Nós temos um Departamento Cultural que cuida das pesquisas. Tem uma outra pessoa que cuida da parte financeira, outra que cuida só de compras, outra parte que cuida só do barracão, monitorando e até avaliando o espaço, vendo o que eles precisam e todas as necessidades do barracão. A gente zela muito pelo barracão porque, em uma escola de samba, o principal, na minha opinião, é o barracão: é o que dá o luxo para o carnaval, é lá onde ficam as alegorias – e é onde mais se gasta no carnaval, em alegorias. Cada setor tem uma função. Mas, na verdade, uma vez por semana, pelo menos, junta toda a Comissão de Carnaval – que é composta pelo Jeh, pelo Luan, pelo Nico, pelo China e por mim, Evandro. A gente se une pelo menos uma vez por semana e, a cada quinze dias, faz aquela reunião maior para discutir parte financeira, compras, ver o que está faltando de material, quais são as necessidades básicas para a gente melhorar o barracão – a gente está sempre cuidando disso. Basicamente, cada um tem um setorzinho que cuida de tudo. Da parte cultural quem cuida já há um tempinho é o Caverna: ele é um cara bem estudioso e ele ajuda na confecção do enredo. Praticamente todo o enredo de 2024 veio dele e, em 2025, ele ajudou bastante – principalmente na escolha do samba, já que quem estava envolvido em outros processos era eu. Ele é o nosso diretor musical, ele quem cuidou de muita coisa nesse samba. Ele é um cara bem conceituado e, pelo que a gente ouve nas bocas por aí, esse é o melhor samba do Grupo de Acesso II”, comentou.
Dentre os nomes citados, vale destacar Jeh – no caso, Jefferson Silvano, também presidente da agremiação. China é o apelido de Sergio Yamaoka, enquanto Nico é Sergio Leal Mendes. O último citado não possui apelido: Luan Lima de Croce.
Imprevistos no caminho
Como infelizmente acontece com frequência no mundo do carnaval, ao menos um fator externo foi um desafio para a Torcida Jovem na confecção do desfile de 2025: a alta do dólar – e o consequente encarecimento de produtos ligados à folia: “Quando a gente começou o nosso carnaval, em setembro, as coisas tinham um valor. Teve uma alta do dólar e isso acabou prejudicando bastante a gente porque nós tínhamos uma planilha de custos. Quando vai chegando perto do carnaval, que você vai olhando e precisa comprar um material que custa 300, ele passa para 350. É fácil falar que você devia ter comprado mais antes, mas você não tem o dinheiro para comprar mais lá atrás porque o dinheiro vem fracionado. O que complicou um pouco foi essa alta do dólar, também. As coisas vão encarecendo, todo mundo compra determinado material – cola, por exemplo, todo mundo compra, então a cola começa a faltar um pouquinho mais no mercado; e, quando chega, já chega um pouquinho mais caro, porque o próprio fornecedor, acaba aproveitando a situação. Isso é natural, também: se a gente fosse comerciante, a gente faria a mesma coisa. Estão comprando de monte, eu vou aumentar um pouquinho – nem que seja vinte ou dez reais. A parte financeira atrapalhou um pouco e vem atrapalhando um pouco a gente, mas a gente vai colocar um carnaval luxuoso, com a intenção de mostrar que ter caído no ano passado foi um acidente e que a gente não quer passar por aquilo de novo. A gente quer voltar pro Grupo de Acesso I respeitando todas as outras agremiações. É um jogo que eu acho que as dez querem ganhar e eu também quero. Segundo também está bom, não precisa se ganhar todo ano, não. Só ficar em segundo também está valendo”, brincou Evandro.
Fio condutor misterioso
Ao ser perguntado sobre como seria a setorização do desfile da Torcida Jovem, Evandro preferiu fazer segredo: “É uma parte que eu não queria muito falar, porque aí eu vou estar dando um pouquinho de arma para os meus concorrentes. Mas eu acho que quem já escolheu a forma como vai vir, não vai mais mudar. A gente vai vir da comissão de frente até o encerramento da nossa escola contando, passo a passo, a história que a gente vem falando, de São Luís do Maranhão. Isso vem desde a comissão de frente, casal, ala coreografada, carro abre-alas… eu não devia falar, mas isso até acaba facilitando um pouco a vida do jurado. Ele vai olhar e ver a história. Quando a gente manda a pasta para ele, o jurado vai saber tudo certinho o que está sendo contado ali na avenida. Ele não vai se perder. Quando fica uma coisa ali e outra coisa aqui, você acaba prejudicando um pouquinho a parte do jurado. Ele vai olhar aqui, depois ele vai olhar lá e tudo ele vai verificar se está certo, se está dentro do contexto. Quando você põe o enredo assim, de forma linear, fica mais fácil até para o jurado apurar a agremiação”, disse, aproveitando para destacar que o desenvolvimento da exibição está bastante claro para cada um dos jurados.
Trunfos evidentes
Se a setorização é uma surpresa para o leitor do CARNAVALESCO, Evandro fez questão de destacar dois dos maiores trunfos que a agremiação terá no desfile de 2025: “Sinceramente falando, eu tenho dois pontos de destaque. O primeiro deles são as nossas alegorias: eu acho que elas, quando elas estiverem todas prontas e montadas no Anhembi, vão chamar muita atenção. Isso aí é fato. E eu também acho que um fator predominante para esse carnaval da Torcida Jovem vai ser a nossa parte de Harmonia, o nosso canto. Eu acho que o nosso canto vai ser algo até um pouquinho superior que as próprias alegorias quanto aos trunfos, porque a nossa escola está cantando muito, a nossa escola está muito bem, está cantando claramente. Não tem ninguém mascando chiclete. isso vai ser o maior trunfo da Jovem esse ano”, finalizou.