Atual vice-campeã do carnaval paulistano, Mancha Verde irá migrar do nordeste ao agro brasileiro. Porém de uma maneira diferente. O carnavalesco André Machado, responsável pelo desfile, inseriu características de matriz africana dentro do tema, como o orixá Ocô. Tal entidade tem como personalidade um ser da agricultura. Ele será o ponto de partida do enredo. A escola alviverde almeja novamente o campeonato e virou uma potência desde que conquistou o seu primeiro título, em 2019. Já é bicampeã e coleciona dois vices. Não há dúvidas de que todo o mundo do samba e as co-irmãs olham para a ‘Mais Querida’ com uma potencial candidata a vencer o carnaval quando entra na passarela, desde então. A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da Mancha e conversou com André Machado, encarregado pelo Carnaval 2024 da agremiação. Com o enredo intitulado “Do Nosso Solo Para o Mundo”, a alviverde será a sexta a desfilar na sexta-feira de carnaval.
Surgimento do tema
O artista contou como nasceu o tema e aproveitou para falar sobre. De acordo com o próprio, quis fazer uma narrativa que saísse da casinha, pois outras escolas já fizeram enredos parecidos. Graças a um livro, veio o nascimento do contexto que a Mancha Verde abordará em fevereiro. “Antes do último carnaval acabar, a gente já tinha idealizado e o presidente perguntou para mim um enredo falando sobre agricultura e eu achei interessante. A minha preocupação era apenas em relação que algumas escolas do Rio de Janeiro já falaram de agricultura e tinha que ser de uma forma diferente. Eu fui para casa, comecei a pesquisar e vi que realmente dava enredo, mas eu fiquei em dúvida de como abordar de uma forma diferente, principalmente pela internet, que tem como referência a Vila Isabel e Tijuca essa questão da comparação. Eu fiquei nessa neura de querer fazer uma coisa diferente e, do lado da minha cama, tem uma estante com um livro amarelo e até ele se destaca dos demais. O livro é a “Mitologia dos Orixás” e eu estava aqui no barracão, minha esposa fazendo uma faxina em casa e eu tinha começado a ler o livro, mas totalmente aleatório. Não peguei para poder desenvolver o enredo da Mancha e ela começou a foliar para ver e ela descobriu um capítulo sobre o orixá Ocô. Na mesma hora ela me ligou e falou assim: ‘você já viu o capítulo tal?’ Daí eu fui para casa correndo. Quando eu comecei a ler eu falei assim: ‘nossa, é tudo que eu precisava para poder desenvolver esse tema de uma maneira diferente. Tirei foto das páginas. Mandei pro Paulinho (Serdan) e ele disse que esse seria o nosso enredo”, explicou.
Sonho do título
A escola foi vice-campeã em 2023 perdendo no desempate, tendo tomado a virada no quesito mestre-sala e porta-bandeira. Foi um grande desfile da Mancha, uma plástica impecável, mesmo debaixo de chuva. Porém, o carnavalesco está tão entusiasmado com este enredo agro, que está deixando o “Xaxado” de lado, dizendo que para 2024, há um material rico de informações em mãos.
“Eu acho que é muito mais fácil de ser entendido. Até inclusive melhor que o ano passado, porque o xaxado é uma dança e era muito abstrato. Você não consegue retratar em fantasia. O que é uma dança só explica dançando. Esse enredo me dá elementos plásticos, como fruta, verdura, legume e é o homem do campo, é a plantação, a história do negro, do índio. É muita informação, muita riqueza de detalhes a ponto de me atrapalhar no sentido de que antes eram cinco carros alegóricos e hoje são só quatro. Eu precisaria de pelo menos uns cinco ou seis carros para poder desenvolver o enredo do jeito que a gente quer. Mas como a gente tem quatro no regulamento, vamos lá. Tem coisas que vocês talvez não vão ver nos carros, mas vocês vão ver em alas. Está tudo muito bem pensado para a gente fazer um grande desfile. Eu acredito muito no resultado. Vamos apostar que a gente vai estar entre as cinco e brigando muito forte pelo título. É uma coisa que é um sonho que eu tenho. Eu ainda não fui campeão do carnaval de São Paulo do Grupo Especial e eu espero que seja esse ano”, afirmou.
Saída da patrocinadora influência no carnaval?
Mesmo que a Mancha Verde tenha virado uma potência do carnaval paulistano, é sabido que o forte patrocínio ajudou bastante no crescimento nos últimos desfiles da entidade, principalmente para a parte de confecção de fantasias e alegorias. Entretanto, para Machado, a captação menor de dinheiro não irá influenciar no Carnaval 2024.
“Eu acho que teve uma pessoa que me perguntou mais ou menos a mesma coisa do ano passado, porque uma já tinha sido campeã do carnaval anterior antes de eu entrar e as pessoas começaram a perguntar, mas a gente fez carnaval sem a Crefisa e foi vice campeã do carnaval. Estava brigando de igual para igual com a Mocidade. A gente só perdeu por causa de uma peninha da porta-bandeira. Eu falei nessa entrevista que, por mais que carnaval para disputar precisa de dinheiro, graças a Deus ele ainda é feito por pessoas, porque às vezes você não precisa de muito para poder escutar o carnaval, você precisa de pessoas com organização para isso. Até porque você vê escolas luxuosas, talvez na mesma pegada da Mancha ou até mais e não é campeã. E tem escolas que não tem o mesmo poder aquisitivo e arrebentam a boca do balão. O dinheiro é importante para pagar conta, para deixar o salário da galera em dia, para comprar os melhores materiais, mas não é tudo”, declarou.
O trunfo do desfile
Perguntado sobre o que mais pode ajudar a escola no desfile, o artista exaltou o canto, a bateria e as alegorias. ”O canto acho que vai ser um diferencial. O trabalho que está sendo feito em cima disso é um absurdo. Na quadra todo final de semana o ensaio geralmente começa por volta das 18 horas, mas a galera chega mais cedo e as meninas que cuidam das fantasias fazem um trabalho com a comunidade de canto o tempo inteiro. Então acho que vai ser o grande diferencial. A bateria da Mancha também. As alegorias eu acho que vai dar um bom caldo”, completou.
Conheça o desfile
Setor 1
”A nossa abertura da escola vai falar sobre a lenda do orixá, o rosto vai estar na nossa comissão de frente e o Ocô já orixá, ele convocou todas as abelhas do mundo para poder polinizar o mundo e elas são as mensageiras. Isso seria a nossa ala das baianas que vem na frente do nosso abre-alas. Elas serão uma grande colmeia também, porque as abelhas realmente cientificamente são comprovadas que se desaparecerem vai ficar complicado. A agricultura é uma linda fantasia e aí gente vai abrir dessa forma”.
Setor 2
“O nosso segundo momento, vai falar da chegada dos portugueses e a importância dos Jesuítas. Mostrar que o índio, apesar de também saber lidar com a terra, eles não vendiam. Era para se auto sustentar. Ele plantava só para isso e depois vieram os escravos no ciclo da cana-de-açúcar que aí sim, se a gente for na real da história foi que começou a agricultura mesmo, onde a pessoa plantava para colher e levava para fora com o objetivo de vender. O nosso segundo carro a gente vai mostrar uma caravela toda feita de cana. A ideia é mostrar o quanto esse ciclo da cana foi importante e ao mesmo tempo foi ruim, porque foi através dessas caravelas que foram buscar os navios negreiros e os escravos para poder trabalhar nas lavouras aqui A agricultura tem uma participação na escravização do negro”.
Setor 3
“A gente parte para o nosso terceiro setor da escola, que vai falar dessa da ligação do homem da terra e o quanto a mecanização dos meios rurais foi importante para o desenvolvimento da agricultura no Brasil para se tornar o grande celeiro do mundo que ele é hoje. É uma grande potência na produção de alimentos. Isso é o nosso terceiro carro e a gente faz uma brincadeira. As crianças vêm fantasiadas de porquinho, fazendo uma analogia em cima da escola”.
Fechamento
“O nosso último carro, olhando de cima, que a gente vê lá na arquibancada, vai observar que o carro é no formato da bandeira do Brasil e tem a figura do Alisson Paulinell,i que foi um grande agricultor e um cara que batalhou muito pelo meio rural. Ele faleceu esse ano inclusive e a gente vai fazer homenagem a ele e qual a importância do Alisson para o meio rural. Ele que levou a ciência para o campo e esses estudos facilitaram a vida dos agricultores para poder melhorar a terra”
Ficha técnica
Quatro alegorias
2300 componentes
Um Tripé (comissão de frente)
Diretor de barracão – Caíque Serdan e Léo Serdan
Diretora de fantasias – Bibinha