Os últimos anos foram agitadíssimos para o Brinco da Marquesa. Em 2023, a escola foi rebaixada do Grupo de Acesso II e, no mês de abril, sofreu uma reintegração de posse orquestrada pela Subprefeitura do Ipiranga, perdendo a antiga quadra da escola – situada na Rua Dom Vilares, na Vila Brasilina. Em 2024, entretanto, a volta por cima veio: a agremiação foi campeão do Especial de Bairros da União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP) – quarto grupo do carnaval paulistano. Voltando aos grupos da Liga-SP e ao Anhembi, a instituição virá, em 2025, com o enredo “A Marquesa na Cidade do Amor”, nono a ser exibido no sábado anterior à folia (22 de fevereiro, data já tradicional do terceiro pelotão da cidade), idealizado por uma comissão de carnaval.
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Para conhecer um pouco mais sobre a produção do desfile para 2025 e, também, sobre o enredo em si, o CARNAVALESCO conversou com um dos integrantes da comissão de carnaval da agremiação Rogério Monteiro, popularmente conhecido como Sapo – que vai para o segundo ano na instituição.
Pragmatismo
Ao ser perguntado sobre a ideia que gerou o enredo, Sapo destacou o quanto o foco da escola é se integrar novamente ao Grupo de Acesso II: “O enredo surgiu através da comissão do carnaval e da diretoria da escola. Eles criaram um enredo de fácil assimilação, um enredo leve porque, até então, a escola tinha a ideia de que ela seria uma das duas primeiras a desfilar. Ela queria abrir o desfile com um enredo leve, um enredo que fale da cidade de São Paulo. O Brinco da Marquesa tem uma ligação muito forte com a cidade de São Paulo – e, quando foi apresentado a ideia para a diretoria, foi um enredo que de pronto agradou a escola. A única coisa que foi colocada da parte da diretoria é que a Marquesa, que é o símbolo da escola deveria contar essa história. É ela quem visita os cantos da cidade e fala da evolução da cidade de São Paulo – desde a chegada dos imigrantes para cá, dos migrantes que construíram a cidade de São Paulo até a cidade nos dias atuais”, pontuou.
Vale destacar o trecho “até então, a escola tinha a ideia de que ela seria uma das duas primeiras a desfilar”. Como é de conhecimento público, em 2025, a Liga-SP inovou e aboliu o sorteio para a ordem de desfiles, fazendo com que a escolha do posicionamento seja feito de acordo com a classificação de cada escola de samba no ano anterior – a melhor escolhe primeiro, a segudna melhor na sequência e assim sucessivamente.
Pesquisa e características
Com a ideia do enredo já aprovada pela direção marquesense, naturalmente, veio toda a busca por informações para construir a história a ser apresentada no Anhembi. De acordo com Sapo, a quantidade de pessoas envolvida na construção da cidade de São Paulo foi um aspecto marcante na pesquisa: “O que mais me chamou atenção é que São Paulo é feito por vários braços. Quando se fala de São Paulo, é uma coisa meio óbvia falar dos migrantes, falar dos imigrantes. Mas a ideia do enredo, na verdade, não é contar a história da cidade de São Paulo: é, sim, contar nuances da cidade de São Paulo, particularidades e peculiaridades que tem na cidade de São Paulo. Os parques, a gastronomia, o esporte, o lazer. Não é um enredo contando a história da cidade de São Paulo. Na verdade, são duas vertentes do enredo: os carros alegóricos contam a construção da cidade – e o segundo carro, em especial, a cidade em evolução. O destrinchar da escola conta essa chegada dos imigrantes e a contribuição dos imigrantes e imigrantes para a cidade de São Paulo – e, depois, os vestígios que ele deixou na cidade de São Paulo, como nos parques, no teatro, nas artes e no mosaico cultural que é São Paulo”, comentou.
Logo depois, um dos carnavalescos destacou, imageticamente, algumas características importantes sobre o desfile: “É um enredo bem colorido, o que a gente pode adiantar é que as fantasias são bem coloridas – e, ao mesmo tempo, leves; mas grandes, porque a gente procurou colocar a escola sempre para o alto, para a evolução, com penas. Todas as fantasias são bem altas – mas, ao mesmo tempo, elas são leves para a fácil locomoção dos componentes. E os carros alegóricos, por mais que eles não sejam aqueles monstros gigantescos, já que foi uma opção da escola vir com os carros menores, sãocarros bem acabados. Quem bate o olho no carro sabe que ele falando de São Paulo. É isso que todo mundo vai ver. Tanto no barracão quanto na avenida, você vai ver que tudo tem uma ligação muito forte com a cidade”, pontou.
Sem setorização
Como está se tornando comum em desfiles de carnaval, Sapo entende que o desfile do Brinco da Marquesa não será dividido em setores: “O enredo é corrido, não tem um setor a setor. Justamente por ser o Grupo de Acesso II, por ser um desfile mais curto, o enredo não é dividido por setores. O enredo começa com a chegada dos migrantes nordestinos para São Paulo, construindo essa cidade. O carro abre-alas é a cidade em evolução, a gente vê chaminés industriais e engrenagens. A engrenagem move muito a cidade de São Paulo e ela também move o enredo, por consequência. Tanto no abre-alas quanto no segundo carro a engrenagem é uma figura bem presente, porque é uma cidade em evolução constante. Então não tem uma setorização habitual. É um enredo descritivo, corrido, e o ponto de ligação que faz o primeiro setor – que é o setor que fala dos espanhóis, que fala dos imigrantes, dos italianos. No meio do desfile, que trata dessa construção da cidade, a transição da cidade antiga para a cidade moderna. E, quando a cidade é moderna, a gente fala de museus, astronomia, teatro, esporte, cultura. No primeiro setor é mais a parte da cidade em construção, dos migrantes, imigrantes e a contribuição deles para a cidade de São Paulo, o legado que eles deixaram na cidade de São Paulo, partindo para as nuances que hoje tem na cidade atual”, explicou.
Trunfos – no plural
Quando perguntado sobre qual seria o grande fato capaz de levar o Brinco da Marquesa além, Sapo começou contando um pouco da própria história na agremiação para destacar qual seria esse trunfo: “Eu cheguei na escola no ano passado, na UESP. Eu cheguei para contribuir com as alegorias também do Especial de Bairros, porque a gente percebe que a escola mudou a mentalidade que ela tinha antes. Ela ainda tinha um sistema de trabalho muito artesanal. Quando a gente chega na Liga-SP, a gente tem que ser profissional – e o presidente Adriano Bejar implementou isso já no Especial de Bairros. Aquele modelo de fantasia que é feito com aquela tiazinha da comunidade, aquele senhorzinho que está vindo para ajudar ou com aquele mutirão, o Adriano mudou. Ele profissionalizou o ateliê da escola – e assim também foi com as alegorias, que é o momento em que eu chego. Ele colocou responsáveis de cada setor para profissionalizar a escola. O grande trunfo do Brinco e a grande virada de chave do Brinco é chegar com essa organização nos grupos da Liga-SP novamente. Com o ateliê de fantasias, hoje é possível falar tranquilamente que está tudo cem por cento pronto, porque ele pegou um grupo de trabalho muito forte. Nas alegorias, você vai ver também que ela está bem adiantada, porque ele procurou separar: quem faz fantasia não mexe com alegoria, e quem é diretoria corre atrás só dos recursos e não fica palpitando no trabalho. O grande trunfo do Brinco é a organização. O Adriano organizou bem a escola e, com isso, ele conseguiu subir”, orgulhou-se.
Antes de encerrar a explicação, porém, ele aproveitou para adicionar mais um ingrediente no poço de confiança marquesense: “E o maior trunfo de uma escola que sobe é a motivação. Eles estão com garra, estão com vontade, estão com determinação. A ordem do desfile contribuiu muito para eles se motivarem dessa maneira. A partir do momento que você sobe, você sabe que vai abrir ou fechar. Vai abrir ou vai ser a segunda. E, a partir do momento em que ele está no meio do desfile, quase encerrando a noite, é a penúltima, ele está no bolo, ele está na briga. o jurado já viu quase tudo, então ele sabe como ele pode pontuar ou despontuar. é fazer o arroz com feijão – e, quem sabe, eu vou ganhar o Grupo de Acesso II, que é o sonho da escola”, suspirou.
Dentro do cronograma
Mesmo assumindo que, no dia da visita da reportagem, os trabalhos ainda não estavam integralmente concluídos, Sapo demonstrou extrema tranquilidade ao falar do andamento dos trabalhos no barracão do Brinco da Marquesa: “O barracão de alegorias eu posso falar que, no dia 24 de janeiro, está hoje oitenta por cento pronto. Não são carros grandes, mas são carros bem acabados. Um jornalista fala que meus carros alegórios são como se fossem umas caixinhas de presente: toda bem acabadinha, bem feitinha. Eu estou primando por isso. O Adriano me contratou justamente com esse intuito, de fazer carros bem acabados, bem detalhadinhos, com todos os detalhes, tem placa em toda parte do carro. A gente começou tarde, começamos no finalzinho de outubro, início de novembro. Mas, graças a Deus, a gente finalizou um carro no mês de novembro mesmo, e esse segundo carro, que é o abre-alas, que está dando um pouquinho mais de trabalho, mas a gente finaliza agora no final do mês. Está tudo tranquilo. Lógico que a gente vai deixar muita coisa para fazer lá. Eu acho que o Grupo de Acesso II ganha muito ao desfilar com dias de antecedência. Por mais que seja uma semana antes, ele consegue ter uma gama de profissionais para trabalhar uma semana antes que já está meio que terminada do Grupo de Acesso I e do Especial. Eles vão lá, ajudam e depois voltam a montar seus carros nos outros grupos. Eu acho que é um ponto positivo. É uma semana que perde, mas também é uma semana que você fica livre. Acabou o desfile e você sai para o abraço. Está tudo bem tranquilo. Eu sei que a comissão de frente ainda está em andamento de execução, mas eu sei também que os casais já estão em processo de finalização, as composições da escola e de alas já estão prontas em relação à fantasia. O que está em finalização é comissão de frente e casais”, finalizou.
Ficha técnica
Título do enredo: “A Marquesa na Cidade do Amor”
– Componentes: 800 componentes
– Alas: 10 alas
– Alegorias + tripés: Duas alegorias, zero tripés
– Diretor de Barracão: Comissão de Barracão
– Diretor de Ateliê: Comissão de Ateliê