Após comemorar o ano do Jubileu de Ouro da agremiação na apresentação do ano passado, o Barroca Zona Sul volta a falar de um tema ligado a grupos minoritários na sociedade. Em 2025, o enredo da verde e rosa será “Os nove oruns de Iansã”, contando um pouco sobre a orixá e se aprofundando nos locais em que as almas descansam. Segunda escola a desfilar na sexta-feira de carnaval (28 de fevereiro), a instituição do Jabaquara promete surpresas na temporada.
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O CARNAVALESCO visitou o barracão barroquense e entrevistou Pedro Alexandre, popularmente conhecido como Magoo, para conhecer detalhes do enredo da verde e rosa e, também, para saber o andamento dos trabalhos na instituição.
Enredo já conhecido
Quando o enredo do Barroca foi revelado (em evento também coberto pelo CARNAVALESCO), muitos já imaginavam o caminho que ele teria. E, de acordo com o profissional, as mudanças do início até o final do projeto foram irrisórias: “A nossa montagem continua a mesma e o desenvolvimento do enredo também. Desde essa época, a gente já começou a desenvolver tudo certinho e não teve mudança nenhuma. Eu fiz o trabalho de pesquisa e, nesse trabalho de pesquisa, já vem a parte da relação de Iansã com os oruns. Eu falei que a gente tem que bater nessa tecla para o desenvolvimento do enredo e o pessoal gostou”, comemorou.
Tal qual uma equipe, a agremiação se aproveitou do conhecimento, também, de um babalorixá: “A gente tem uma orientação espiritual na escola, tudo que é feito aqui que envolva religião a gente procura conversar para ver o que pode e o que não pode. Nós temos o pai Douglas de Oxossi, que é quem faz a parte espiritual do Barroca Zona Sul, e ele falou que seria legal acrescentar mais algumas coisas e tirar o foco de outras – ele acrescentou muito ao projeto, ele tem um conhecimento fora do normal e engrandeceu muito o que faremos”, agradeceu.
História na avenida
Ao ser perguntado sobre o que encontrou de mais interessante nas pesquisas, o carnavalesco destacou que a infinidade de assuntos possíveis de se levar para a avenida o surpreendeu: “O que me chamou atenção mesmo foi a história! Se eu fizesse escrever quatro ou cinco enredos sobre Iansã, dava pra fazer tranquilamente. Tem muita história legal, tem muita história que dá enredo. Tinham pesquisas que eu tive que tirar para não ficar muito longo, eu queria colocar muita coisa e não cabia por fugir um pouco do plano original. O que me surpreendeu é que eu fui esperando uma coisa e eu vi que é uma história grandiosa, é uma história muito envolvente. Tem uma coisa mítica para contar, é muito legal. Dentre tantas coisas legais, eu espero que o pessoal goste da forma que o Barroca vai contar”, comentou.
Por sinal, ele aproveitou para destacar a cronologia do desfile da agremiação: “Eu curto muito a setorização da história com uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Eu gosto de contar a história de uma maneira mais fluida, por isso que eu fiz essa divisão. Primeiro, dei uma pincelada como uma introdução sobre Iansã. Depois, mostro que ela é uma orixá forte, com vários poderes. Ela chegou e aprendeu um pouquinho com cada orixá, desenvolveu seus poderes e sua espiritualidade, desenvolveu tudo através desse conhecimento. Daí o enredo já entra na parte dos oruns, contando um por um. O último orun, que é o Orun Marê, é a morada final de todos os orixás. Todos os orixás vivem em comunhão com os elementos da natureza. E ele será o fechamento da nossa história. Tem um começo, um desenvolvimento e uma conclusão no final. Eu gosto assim”, detalhou.
Cara da escola
Acostumada a falar de temas ligados a grupos minoritários na sociedade nos últimos anos, a agremiação teve uma rápida (e justa) mudança na rota em 2024. No ano do cinquentenário da agremiação, o Barroca contou a própria trajetória no Anhembi. Antes disso, entretanto, a tribo guaicurus, Zé Pilintra, Tereza de Benguela e Oxóssi foram homenageados. Para Magoo, uma temática identificada com a instituição é importante: “Esse tipo de enredo se confunde com a história com o DNA do Barroca. Falar de lutas, falar de minorias, falar de grupos que passaram por algum tipo de dificuldade, que lutaram, se confunde com a própria história da escola. O Barroca fala de problemas, enfrentou grandes dificuldades, períodos e sempre foi driblando esses problemas, enfrentando esses problemas. O barroquense se identifica com isso. O Barroca é uma escola que, se você chega com um enredo mais abstrato, por exemplo, falando de uma coisa bem diferente dessa linha que a gente está fazendo hoje, a aceitação não vai ser tão boa quanto essa, não vai ter esse envolvimento. É claro que isso pode acontecer no futuro, mas hoje eu acho difícil. O barroquense gosta disso. Gosta de história de luta”, falou.
Outra característica que tem se tornado corriqueira na verde e rosa é altíssima qualidade dos sambas-enredo da agremiação – elogiados por grande parte da bolha carnavalesca paulistana. Em 2025 não será diferente, de acordo com o carnavalesco: “Foi um samba que eu vi que, desde o começo, quando a comissão de carnaval (que tem o Jonny, a Angélica, o Alex, o João Neguinho, o Cebolinha e outros) começou a ouvir, ele foi adorado. Com as nossas ponderações, o samba foi crescendo e o pessoal do Barroca comprou a ideia. Logo na apresentação do samba-enredo o pessoal já cantou, ele explodiu na quadra. No minidesfile também foi assim, nos ensaios técnicos idem. Essa aceitação é fruto de muito trabalho: tem o pessoal que compõe, o pessoal da caneta, que cria o samba – a capacidade deles é indiscutível. Essa junção de pessoas e de ideias em cima da obra deixa claro que deu certo. A cada apresentação ele dá certo”, observou Magoo.
Trunfos e surpresas
Ao ser perguntado sobre quais serão as surpresas e pontos fortes da agremiação para 2025, Magoo não titubeou: “Tem dois pontos que eu gosto bastante: a comissão de frente, esse ano, vem com uns efeitos e tem um investimento legal da escola. Está legal para caramba! A gente está fazendo vários testes aqui no barracão e tudo funciona, vai ser uma coisa diferente que a gente vai fazer na avenida nesse quesito. Eu também curti bastante o conjunto alegórico do Barroca. Você vê a história contada, você vê na alegoria com clareza tudo do enredo. No conjunto, sobretudo em relação à parte de esculturas, a gente investiu bastante. Você vai ver o acabamento das esculturas, é uma coisa que o Barroca tomou um cuidado maior ainda nesse ano para entrar no jogo, porque o nível é muito alto. Têm escolas maravilhosas, que disputam; e, hoje, o intuito é falar do Barroca quando as pessoas lembrarem das escolas com as melhores alegorias. A gente quer entrar nesse bolo e a gente está nesse caminho”, afirmou.
Planejamento
Outro ponto elogiado por Pedro foi o andamento dos trabalhos da escola para o carnaval 2025, com as dinâmicas se iniciando, basicamente, após a apuração do ano anterior: “O Barroca começou cedo os trabalhos nesse ano. Logo que acabou o carnaval a gente já emendou com pesquisas. Começou cedo com carro alegórico, começou cedo com fantasias e foi fazendo. Isso deu uma tranquilidade para a gente melhorar a qualidade de tudo que foi produzido – e eu falo até mesmo de detalhes de rosto, de anatomia, tipo de pintura, tipo de acabamento. Deu para cuidar de cada detalhezinho melhor do que o ano passado – que foi mais corrido, eu estava chegando e não sabia onde eu estava pisando. Hoje eu consegui me adequar à escola. Eu tenho uma linha de criação, eu não gosto muito de carro meio ‘caixote’, quadrado. Eu gosto de carro mais vazado, por exemplo. A gente começou a mudar o formato dos carros, colocar efeitos – algo que o Barroca vai utilizar muito em 2025. Vamos ver na Avenida, tomara que dê certo”, comentou.
Por fim, o carnavalesco destacou que busca a representatividade individual com o desfile: “Eu vou ficar muito contente se, no final do desfile, a pessoa que veja o desfile do Barroca se identifique com alguma coisa. Que ela saia pensando que algo foi a cara dela ou que a gente tenha mostrado algo que fala dessa pessoa, da história dessa pessoa. Se a pessoa se identificou com alguma coisa, curtiu, saiu assobiando o samba do Barroca, batendo palma, isso aí já vai me deixar feliz. A mensagem foi passada, levamos um pouco de alegria para o povo”, finalizou.
Ficha técnica
Enredo: “Os nove oruns de Iansã”
Componentes: 2100
Alas: 18
Alegorias: Quatro – e um quadripé
Diretor de Barracão: Wendel Alessandro
Diretor de Ateliê: João Ricardo Alexandre (Jonny)