A Pérola Negra irá fazer um dos desfiles mais importantes da sua história, tendo uma grande missão de voltar ao Acesso 1. A Joia Rara do samba, até 2024 estava com um projeto para subir ao Grupo Especial e, desde que desceu da última vez à segunda divisão, sempre ficou perto dos primeiros para retornar à elite do carnaval. Historicamente, o Acesso 2 não é um local que a escola costuma permanecer. Por estrear este ano no grupo e ter um dos melhores sambas do carnaval paulistano, além de uma equipe de segmentos renomada, a Pérola Negra é apontada como grande favorita para vencer o terceiro grupo das escolas de samba. Para isso, a agremiação liderada por Sheila Mônaco foi buscar o carnavalesco Rodrigo Meiners, que no Carnaval 2024, integrou a equipe que conseguiu uma vaga nos Desfiles das Campeãs com os Gaviões da Fiel. O artista aposta em uma forte plástica e em um desfile impactante para a Vila Madalena alcançar o seu grande objetivo.
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Sendo a quinta escola a desfilar, a Pérola Negra levará para o Anhembi o enredo ‘Exú Mulher’, no dia 21/02. O tema é assinado por Rodrigo Meiners.
Ideia do enredo e aprovação da autora do livro
De acordo com o carnavalesco, a ideia de levar o enredo ‘Exu Mulher’ para a avenida partiu dele, onde foi apresentado para a diretoria após se deparar com várias figuras femininas regendo a agremiação. Além disso, a autora do livro, Cláudia Alexandre, abraçou o projeto e ajudou na construção. “A ideia de ‘Exu Mulher’ foi proposta por mim. Quando eu fecho com a Pérola Negra, me impressionou na escola a questão da figura feminina. A presidente é mulher, a vice-presidente é mulher, as principais lideranças da comunidade são mulheres, o nome da escola é um nome feminino e eu fiquei com isso muito forte na minha cabeça, onde eu precisava fazer algum enredo ligado ao feminino para ajudar a Pérola a voltar para o Grupo de Acesso 1. Eu já conhecia o livro e lembrei. A Cláudia Alexandre, autora dele, tem um conhecimento de carnaval e de assuntos de matrizes africanas, de religiões de matriz africana, de costumes, culturas, heranças, religiões, danças… Se você conversar com a Cláudia, vai sair com dez ideias de enredo. Ela é uma pessoa iluminada e super abraçou o projeto, super ficou feliz. A gente teve a felicidade ainda de o livro ganhar um prêmio agora, que é o Prêmio Jabuti da literatura. Eu estou muito feliz de trazer esse enredo e acho que, mesmo no Acesso 2, Exu Mulher é um dos melhores temas do Carnaval 2025”, disse.
‘Pérola Negra, lugar de fala, de gente preta que não se cala’
Meiners explicou brevemente o livro. A narrativa e a mensagem que a obra passa será transmitida na passarela. O artista revelou que quer usar a Pérola Negra como lugar de fala para desmistificar certos preconceitos que são impostos na sociedade. “O livro traz a questão de que há muito tempo atrás, na África, a figura do Exu era uma figura ambígua. Não era o Exu masculino. A figura do Exu era uma energia masculina e feminina. E na tentativa de demonizar a religião, eles ocultam a figura feminina de Exu, eles ocultam esse lado feminino da energia, deixam só a figura de Exu masculina para ter mais semelhança e associar a figura de Exu ao diabo. O nosso enredo é basicamente esse, que é o principal conceito do livro. Nós, que somos uma escola presidida por grandes mulheres, na diretoria e em liderança de comunidade, queremos trazer essa valorização e esse reconhecimento à figura de Exu Mulher, que foi ocultada há muito tempo atrás, nessa tentativa de associar o candomblé e Exu ao satanismo e ao diabo. O nosso desfile é uma grande retratação. Usar a Pérola Negra como esse lugar de fala”, explicou.
Ensinando o tema desconhecido
Perguntado sobre o que foi mais impactante na pesquisa para a desenvoltura do desfile, o carnavalesco contou que foi o fato de ninguém ter conhecimento sobre o contexto do livro, e que a escola de samba tem o papel de ensinar. “Ser um assunto que ninguém tem conhecimento. Acho que, eu sempre trago nos meus carnavais, até mesmo nas entrevistas, de que a escola de samba tem que fazer esse papel. Não precisa ser sobre assuntos afros. A escola de samba tem liberdade para fazer qualquer assunto. Essa é a graça do carnaval. Cada um vai por um caminho, mas eu acho que o conceito geral para mim de uma escola de samba é trazer esses assuntos pouco falados. Eu, que sou apaixonado por carnaval, uma família de amantes do samba, estudei minha vida inteira em escola estadual e aprendi muita coisa com enredos de escola de samba. Se for afro, indígena ou histórico, acho que a escola de samba tem que trazer esses temas pouco falados para trazer conhecimento para a sua comunidade. O que mais me fascina nesse enredo é isso. Poder contar uma história que eu vou falar com 99% das pessoas e elas não têm o conhecimento. Elas prestam atenção porque é algo novo para quase todo mundo. Na construção da sinopse e no desenvolvimento do enredo, isso é o que mais me encanta”, declarou.
Abertura imponente
De acordo com o profissional, a cabeça do desfile será o local mais impactante para se prestar atenção, pois a agremiação vai tentar passar a mensagem de que o Acesso 2 não é o local da Pérola Negra, e sim foi um erro que colocou a Joia Rara nesta situação. “A abertura da escola como um todo. Um carnavalesco tem essa capacidade de imaginar um pouco mais à frente do que os outros. Eu tenho na minha cabeça a escola desfilando com essa abertura que será muito impactante. A gente está com o abre-alas muito grande, padrão Grupo Especial de tamanho. A gente tem duas alas na frente do abre-alas que são muito bonitas com fantasias volumosas, temos roupas de construção de frente muito bonitas e uma fantasia de casal muito bonita. Acho que, quando a Pérola começar a desfilar, vai ficar muito claro, com todo respeito ao grupo e às outras agremiações, que a escola não pertence ao Acesso 2. Ela está lá por uma falha no carnaval anterior”, completou.
Setor 1
“O primeiro setor a gente mostra toda essa demonização da cultura africana e da figura feminina africana antes de chegar à Exu. A demonização do preconceito racial com as mulheres, do preconceito com vestimentas, com cabelo, com dança, com religião… Depois, no final do primeiro setor, a gente entra nesse preconceito com a figura de Exu Mulher, e esse ocultamento da figura na história”
Setor 2
“Nosso segundo setor é essa retratação, essa reparação histórica. É um grande xirê de entidades femininas vindo na Pérola Negra, usando o lugar que a escola abriu de retratação para exaltar e valorizar a figura de Exu Mulher, que ficou esquecida por milhares de anos dentro da religião e dentro da sociedade”
Ficha técnica
Duas alegorias
880 componentes
11 alas