Com o enredo “Cavalo do Santíssimo e a Coroa do Seu 7”, a União de Maricá promete levar para a Marquês de Sapucaí uma celebração vibrante da cultura popular carioca, mesclando religiosidade e festividade. A agremiação aposta na figura excêntrica e sagrada de Seu 7 da Lira, um Exu musical e festeiro, para conquistar seu espaço no Grupo Especial no carnaval 2026. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Leandro Vieira, carnavalesco da agremiação, revelou que o enredo escolhido para a Maricá é fruto de uma longa pesquisa e de um interesse que já o move há tempos:
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“Era uma personalidade que já estava no meu radar. Eu não comecei a pesquisar esse enredo para fazê-lo, agora. Comecei a pesquisar há muito tempo. Fui guardando coisas, fui despertando desejos, vontade de fazer. Quando eu recebi o convite para fazer a Maricá, achei que a escola era o cavalo certo para fazer esse enredo incorporar”, declarou o artista.
Conhecido por trazer em seus enredos a temática religiosa, Leandro Vieira afirma que seu interesse pela figura de Seu 7 da Lira vem do fato de que a entidade performa algo em que acredita profundamente: a capacidade da cultura popular brasileira e carioca de sacralizar aquilo que é profano. “O que mais me desperta interesse nesse enredo é essa personalidade, o fato dela deixar muito clara uma coisa que eu acredito muito, que é o quanto que a cultura popular brasileira e a cultura popular carioca sacraliza aquilo que é profano. Acho que a maneira como o povo lida com o sagrado é muito doida e, por isso, muito inspiradora. Essa ideia de céu, de inferno, de santos populares, santos que são sincretizados, santos que assumem caráter de desejos super-humanos”, afirmou.

Como é o caso de Seu 7 da Lira, um Exu das macumbas cariocas que encantou-se trajando capa, roupas aveludadas, botas e cartolas e que aparece como adivinho, festeiro, violeiro, suburbano e cachaceiro para fazer suas mandingas de cura e vencer demandas. “Estou falando de uma entidade de Umbanda, que é sagrada, mas está profundamente ligada à cachaça, à festa, à farra e à música, não apenas a de terreiro, mas também à música popular”, explicou. Ele citou como exemplo as curas que Seu Sete da Lira realizava utilizando desde baladas românticas até marchinhas de Carnaval e sambas de embalo, uma característica excêntrica que, para Leandro Vieira, reflete a essência brasileira e popular.
“É justamente por ser excêntrico que é muito brasileiro. Um enredo de temática afro religiosa e que, ao mesmo tempo, é muito popular. Seu Sete é tão excêntrico que é uma temática afro-religiosa que me possibilita uma estética que não tem absolutamente nada do afro simbólico do carnaval carioca”, concluiu o carnavalesco revelando que a Maricá fará um carnaval afro com telões de led, neon, bordados, plumas, penas e paetês.
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Leandro Vieira destacou que o grande trunfo do enredo é o seu diálogo com o gosto popular. “É um Exú musical, rubro-negro, que se autodeclarou flamenguista, ligado ao Carnaval, à música, à cachaça e que, durante os dias de folia, vestia verde e rosa ou azul e branco para homenagear a Mangueira e a Portela”, explicou o carnavalesco. Ele ressaltou a popularidade da figura, descrevendo-a como um Exú mangueirense, portelense, flamenguista, cachaceiro e musical. “É um Exú carioca, um Exú super popular”, afirmou Vieira, enfatizando a conexão única entre o sagrado e o cotidiano festivo que o enredo retrata.
‘Não faço desfile para ser campeão’
Em meio a polêmicas sobre suposto favorecimento à União de Maricá no Carnaval 2025, o carnavalesco Leandro Vieira se posicionou de forma clara: “Eu não faço desfile para ser campeão. Não fui contratado para dar título a ninguém, mas para fazer carnaval de alto nível”. Ele relembrou sua trajetória em agremiações como Império Serrano, Mangueira e Imperatriz, destacando que sempre buscou adaptar seu trabalho à realidade financeira de cada escola. “Fiz para o Império o carnaval que cabia no bolso dele, assim como fiz para a Mangueira e faço para a Imperatriz “, afirmou.
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Vieira ressaltou que não aceitaria ser contratado com a promessa de títulos, pois não pode garantir vitórias, mas sim dedicação total. “Eu não penso muito nessa ideia ‘ah, a Maricá tem muito dinheiro para fazer’. Porque eu conheço aí um montão de escola cheia de grana e que, na hora de somar as notas, perde. Administro ideias, faço carnaval. Não administro dinheiro”, finalizou.
Arte e Espiritualidade
O carnavalesco da União de Maricá reforçou a distinção entre sua atuação artística e o universo religioso ao abordar temas sagrados em seus enredos. “Eu faço Carnaval, não faço religião”, afirmou, relembrando sua experiência ao desenvolver o enredo “Maria Bethânia – a menina dos olhos de Oyá, em 2016, na Estação Primeira de Mangueira. Ele destacou a importância de uma Yalorixá que, na época, o orientou a entender seu papel como intérprete artístico do sagrado, sem operá-lo diretamente.
“Trabalho com arte, com visualidade, e minha abordagem é sempre uma interpretação artística do sagrado”, explicou. Vieira ressaltou o respeito que dedica a essas temáticas e a clareza de que seu trabalho reflete a cultura popular, que, para ele, é plural e festiva. “O Brasil que acredito, entendendo-o como plural e festivo, é um país e um povo que lida bem e distingue pouco o sagrado e o profano”, concluiu, reforçando seu compromisso com a arte e a representação da diversidade cultural em seus desfiles.