De volta ao Sambódromo da Marquês de Sapucaí após 10 anos de hiato, a Lins Imperial prepara uma grande homenagem para o próximo carnaval. “Mussum pra sempris – traga o mé que hoje com a Lins vai ter muito samba no pé!” é o enredo que será desenvolvido pelos carnavalescos Eduardo Gonçalves e Rai Menezes. O retorno da escola para o templo sagrado do carnaval carioca significa o reencontro da agremiação com o seu público. Nos últimos anos a escola segue uma linha de reverenciar grandes figuras negras, em 2020 ela faturou o título da antiga Série B, na Intendente Magalhães, com uma apresentação que homenageou Pinah, a “Cinderela negra”, além de já ter contado a história de Bezerra da Silva no carnaval de 2019. A ideia do enredo surgiu do pertencimento do Mussum ao Morro da Cachoeirinha, comunidade em que a Lins está situada, a escola pretende mostrar a identificação dele com essa comunidade, em entrevista ao CARNAVALESCO, o carnavalesco Eduardo Gonçalves destaca a importância da escola homenagear um dos seus maiores representantes.

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“Lembro de um desfile dele pela Lins em 1993, quando o enredo foi o Beto Carrero, uma repórter chegou para ele e perguntou se ele estava se sentindo em casa por a Lins ter as mesmas cores da Mangueira, na hora ele respondeu que estava feliz porque a Lins de fato era a casa dele, na entrevista ele diz que nasceu na Cachoeirinha, conhece a comunidade, fala o nome das pessoas que ele realmente conhece”, disse Eduardo.

A Lins Imperial quer levar para a avenida todas as vertentes de Mussum, o filho, o pai e o artista. A história desse grande personagem se mistura com a de muitos brasileiros, um homem negro, vindo de origem humilde, que graças ao seu próprio esforço conseguiu conquistar o seu espaço, por esse motivo a identicação tão forte dos componetes da escola com esse enredo. Durante o desfile um momento muito bonito promete emocionar quem estiver acompanhando, Mussum aprendeu a ler e escrever para que pudesse alfabetizar a mãe, Dona Malvina, pensando nisso, as baianas da escola terão um papel fundamental no desfile, a ala representará essa mãe que foi extremamente importante na vida do Mussum, outro simbolismo desse momento é o fato de que quando desfilava, Mussum quase sempre estava próximo das matriarcas do samba.

Durante a pesquisa de enredo para este carnaval, o carnavalesco Eduardo Gonçalves se surpreendeu com o fato de Mussum ter conseguido passar pelas barreiras do preconceito já nas décadas de 60 e 70, sua carreira artística começou com a formação dos Originais do Samba, grupo de MPB que se tornou atração em casas noturnas do Rio de Janeiro, chamando a atenção de músicos e produtores da época, ali, o Carlinhos do Reco Reco começou a chamar atenção do grande público e é isso que a escola pretende mostrar logo nos primeiros setores do desfile.

“Até hoje é muito difícil vermos atores, cantores e artistas em geral conseguirem ter espaço, imagina naquela época, principalmente na televisão, que é um veículo de comunicação que não pede muita licença, Mussum entrava, conquistava e agradava um público que não é tão fácil de se agradar, que é o público infantil. É preciso ter um humor muito próprio, ter coisas próprias e ele tinha isso”, conta Eduardo.

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A lembrança mais forte que os carnavalescos têm do Mussum é justamente no seu início de carreira nos Originais do Samba, o grupo fez sucesso levando algo novo para o cenário musical da época, é o que conta Eduardo Gonçalves. “Eles produziram dentro do samba algo que não muito visto, eram golas exageradas, a calça boca de sino, e propriamente os requebros, as piruetas, o malabarismo que eles criaram com os Originais do Samba foi inédito para aquela época, isso me chamava bastante atenção, as músicas e a linguagem visual que eles me traziam eram diferente de tudo que estava passando, principalmente na televisão. Naquele momento eles eram os reis do visual e do show business, óbvio que amo Os Trapalhões, mas essa época dele como cantor me marcou muito”, pontua Eduardo.

Adiamento dos desfiles e dificuldades no processo de carnaval

A pandemia de Covid-19 pegou todos de surpresa no ano de 2020 e com isso impossibilitou a realização dos desfiles no ano seguinte. As dificuldades de realização de um desfile na Série Ouro já são complicadas por natureza, em um pré carnaval marcado pela incerteza não foi diferente. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Eduardo Gonçalves falou sobre os desafios de se construir um carnaval nessas circunstâncias.

“A dificuldade eu acho que para todas as escolas foi a mesma, primeiro eu acho que ter um tema, ter um projeto há dois anos, a gente sempre teve o costume de fazer o trabalho em oito ou nove meses, entre apresentar o enredo e ter o desfile acontecendo. Esse a gente não apresentou, estamos ajustando até chegar o momento que poderemos mostrar na avenida”, desabafou Eduardo.

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Em janeiro deste ano saiu a notícia de que o carnaval seria adiado para o feriado de Tiradentes, em abril. A decisão causou polêmica no mundo do samba, muitos foram contra, alegando que não havia necessidade visto o controle da pandemia no estado do Rio, já outros viram como uma oportunidade para que as escolas aprimorassem seu barracão. Sobre esse assunto, Eduardo tem a seguinte opinião: “As pessoas falam que teve tempo, eu não sei a questão é tempo, eu acho que primeiramente temos o problema financeiro, tivemos uma pandemia, situação caótica economicamente para todos os profissionais, sejam eles de barracão ou ateliê, principalmente para os gestores. Manter isso tudo em dia não é fácil, prazos de pagamento, fora as dificuldades de verbas que as escolas de samba já passam normalmente. O adiamento causa indecisão, são processos criativos que demandam mais demanda, elaborações que acabamos mudando. Não sei é bom, são coisas que devemos questionar até que ponto isso foi bom ou não”, justificou o carnavalesco.

Proposta visual do desfile

A Lins Imperial promete muito esmero e cuidado em suas fantasias e alegorias, de acordo com os carnavalescos, o conceito do projeto se dividiu em dois momentos, as fantasias possuem uma linguagem vintage, que relembra as décadas de 70 e 80, com uma pegada conceitual de uma época que o Mussum desfilou na Mangueira, carnavais antigos da escola serão representados em fantasias, como “O mundo encantado de Monteiro Lobato”, de 1967, e “Caymmi Mostra Ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Têm”, de 1986. A linguagem vintage promete formar uma narrativa contemporânea com as alegorias, a ideia é que elas sejam cenários, com uma linguagem moderna. Apesar de todo o conceito, os carnavalescos prometem um carnaval de fácil leitura, segundo os carnavalescos, as pessoas olharão para as alas e logo saberão do que se tratam.

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“De fantasia nós estamos prometendo, estamos com um trabalho muito bom, com o adiamento nós podemos modificar e aprimorar algumas coisas, nosso destaque é a moda da época do Mussum, o detalhe das roupas, as calças boca de sino, os cortes, então eu acho que em matéria de fantasia e alegoria estamos bem, todo nosso trabalho está sendo feito com muito cuidado, com muito capricho, para aquele povão da Sapucaí ver uma grande carnaval”, pontuou Rai Menezes.

Família e presença dos Trapalhões

Assim como Mussum, sua família também possui forte ligação com a Lins Imperial, assim que surgiu a ideia de que ele fosse o enredo da escola a família imediatamente embarcou na proposta, quando o projeto foi apresentado eles se sentiram extremamente felizes. “Eles amaram, ficaram muito felizes, é muito importante lembrar de um membro da família como foi o Antônio Carlos, como foi o Mussum, que se imortalizou, que é sucesso na internet, jovens de 20 anos conhecem ele através dos memes, os filhos estão muito emocionados, todos vão desfilar, afinal de contas é o pai deles que vai estar sendo reverenciado ali”, pontuou Eduardo.

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Antes mesmo de serem convidados, muitos amigos e atores de Mussum se propuseram a desfilar com a Lins neste carnaval, os mais aguardados são Renato Aragão e Dedé Santana, ambos marcaram toda uma geração com os Os Trapalhões, programa de televisão humorístico brasileiro, estrelado pelo grupo cômico de mesmo nome, composto por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, cada um desenvolveu um personagem distinto.

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“Não sei dizer se vão de fato desfilar, mas muitos confirmaram, sei que o Renato Aragão quer desfilar, falou que pretende vir, o Dedé também, assim como todos os que pertencem a esse momento de televisão, de cinema, então eu acho que há essa comoção entre a classe artística e a família”, informou Rai Menezes.

Entenda o desfile:
A Lins Imperial terá a missão de ser a primeira escola a desfilar no dia 21 de abril, quinta-feira, pela Série Ouro. A escola levará para a avenida cerca de 2100 componentes, distribuídos em 24 alas, três alegorias e um tripé.

Setor 1
“O primeiro setor é propriamente o Carlinhos da Cachoeirinha, é o morro sendo retratado de uma forma lúdica, como se os barracos fossem construídos de patchwork de tecidos bordados pelas mulheres costureiras do morro. No final essas mulheres bordam o rosto de seus filhos, é uma surpresa que levaremos para avenida com o intuito de homenagear a mãe do Mussum”.

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Setor 2
“No segundo temos o Carlinhos do Reco Reco, com a criação dos Originais do Samba, tem um tripé que irá representar esse momento, com as músicas de sucesso, as fantasias representam algumas dessas músicas”.

Setor 3
“No terceiro setor temos o Mussum da Mangueiris, o Mussum que representa essa paixão em verde e rosa, e também pelo Flamenguis, é o momento que o público vai se identificar bastante, o povão na hora vai enxergar isso. Neste setor teremos também alguns de seus personagens, como a Branca de Nevis e Tina Tanis”.

Setor 4
“O final é o é quando o Carlinhos vira Mussum, faremos uma ligação com o presente, que é quando muitos jovens passam a conhecer o Mussum através de seus memes, todos esses memes e personagens estarão girando no último carro, causando identificação direta com o público”.

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