Por Victor Amancio
Levando para avenida o enredo mais esperado pelo torcedor da Mocidade Independente de Padre Miguel, Jack Vasconcellos apresentará na avenida a pluralidade e luta da vida e carreira da “Elza Deusa Soares”, título do enredo. Em visita do site CARNAVALESCO ao barracão da agremiação, Jack contou que, por mais que seja uma figura pública, descobriu uma Elza diversa e que poderia fazer uma trilogia sobre a cantora. Recém chegado na agremiação, Jack segura a responsabilidade de fazer o desfile mais esperado pela comunidade da Vila Vintém. Ele diz que pretende fazer um desfile épico e que para ele ser enredo é o ápice da homenagem para qualquer artista.
“Tenho a responsabilidade de fazer um desfile épico. Estou fazendo um desfile que será definitivo. Elza tem a biografia escrita, tem filme e agora terá um desfile de escola de samba. Para mim, o ápice de homenagem a qualquer artista brasileiro é ter um desfile onde se concentra todas as formas de expressão popular de arte do Brasil em um único espetáculo. É a homenagem mais importante para um artista. Elza terá”.
Sobre a pesquisa, Jack fala que encontrou uma Elza com diversas faces, mas que é preciso ter um cuidado para não se perder em meio a tantas informações e não dizer ao que veio.
“Quando eu comecei a pesquisa, me deparei com uma Elza de várias faces. Ela tem várias passagens da vida, são muitas experiências que eu poderia agrupar que daria uma história com começo, meio e fim tranquilamente. É o fator mais importante do enredo. Por vezes um enredo que se abre muito acaba virando um tema que não se dá conta, e a gente não diz ao que veio e não explica nada. Todo enredo precisa de um começo, de um meio e um fim. Um dos motivos para eu aceitar o convite para fazer o carnaval da Mocidade foi justamente a Elza Soares, já saber que seria uma homenagem para ela. Engraçado é que a gente acha, por conhecer a Elza e ela ser uma figura pública, que já a conhece. Quando comecei a ler sobre ela, estudar, ouvi-la a gente descobre que ainda tem um monte de Elza’s que dariam uma trilogia na avenida, tranquilamente, sem se repetir”.
Jack fala que durante sua pesquisa o que mais chamou a sua atenção foi a Elza dona de si. Ele explica que essa mulher passional o inspirou e esse sentimento será traduzido no seu trabalho.
“Dentro da pesquisa, o que saltou meus olhos foi a questão da Elza ser dona da vida dela, até mesmo quando ela se entrega. Dá para ver nitidamente que a Elza é uma mulher de coração em primeiro plano, ela segue a intuição dela, vai no que ela acredita. Por mais que em alguns momentos pareçam que sejam uma borrada, ela vai lá e no final ela estava certa. Foi muito bom ver essa personagem passional pois, esse sentimento, passa na história e para mim como artista e criador, vai passar na cor, nas formas. Ela é uma pessoa forte, que luta, foge das mocinhas clássicas de romance. Eu acredito que será um desfile que tem uma teatralidade, há algo de épico envolvendo tudo. Não será um desfile que terá o belo pelo belo, por exemplo. Será um desfile dramático em todos os sentidos que esta palavra pode ter. Esse é o trunfo do enredo e que acaba passando para o desfile como um todo. Eu não costumo pensar em efeitos, em abrir ou fechar uma traquitana, penso no que eu preciso fazer ou montar para que as pessoas entendam a mensagem naquela parte. Esse enredo acaba me levando novamente para o teatro, que é uma área que eu já trabalhei, tem muito disso, a coisa carregada da emoção teatral no desfile”.
Sobre estética e luxo o carnavalesco diz que o mais importante para o enredo e o desfile não precisa de luxo ou algum tipo de material, somente precisa que a história seja entendida e atinja a todos.
“Primeiro temos que pensar no que precisamos para o enredo ser entendido, daí já tira um monte de carga ou pressões, de ser luxo, por exemplo. Não tem que ser nada, tem que ser o que a história precisa para ser entendida. Eu fui enveredando para um lado mais teatral e isso já me tirou muitas responsabilidades de materiais clássicos de carnaval. Experimentamos muita coisa e o que temos a favor é o histórico de vanguarda da Mocidade em relação ao desfile. Não sei dizer se isso andava sendo deixado de lado mas eu consigo enxergar um desfile com uma cara jovem, uma cara vanguardista que eu por exemplo tenho formação do que eu vi na década de 80 e 90 na escola. São essas minhas referências de Mocidade e acho que essa cara meio que foi atualizada, será uma escola muito contemporânea”.
Jack explica que não é chegado em fazer homenagens, mas que Elza tem um por que forte para ser homenageada e que irá retratar a história de luta e sobrevivência dela.
“Elza Soares ela tem uma história de vida de muita luta e sobrevivência, não tem como deixar de lado certos assuntos quando você trata da vida dela. Ela nos deu vários exemplos de como o pobre, a mulher, as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade podem ser vistas, podem sobreviver. Ela foi usando a arte dela a favor dessas lutas, é um enredo que vai andar por esse sítio. Nossa homenageada tem um comportamento político mas é apartidário, ela tem o ativismo em cima das causas sociais principalmente, desde cedo, não foi algo de agora. Isso estará presente no desfile e me deixou à vontade de fazer o tema, eu fico com mais vontade de fazer as coisas. Eu particularmente não sou chegado a homenagem, acho que tem que ter um por que forte e a história de vida da Elza justifica isso e eu vejo meu trabalho dentro dessa história várias vezes”.
Sobre o contato com a cantora, Jack revela que ela fez um único pedido:
“Elza só me fez um pedido que foi homenagear os professores no desfile. E no final do desfile vamos fazer isso através da ala dos compositores que adoraram a ideia”.
Falando sobre os enredos da Mocidade que Jack gostaria de ter feito, ele indica dois que para ele são primordiais.
“Mocidade tem dois enredos e consequentemente artisticamente falando que são ao meu ver definitivos e primordiais que são ‘Ziriguidum’ e ‘Tupinicópolis’, para mim são os dois enredos que qualquer carnavalesco gostaria de ter feito e incrivelmente são atuais. São os meus prediletos”.
Durante o pré-carnaval espalhasse boatos e a Mocidade se depara com dois distintos. Um lado diz que a escola passa por dificuldade financeira e o barracão está atrasado, do outro lado, que a escola está muito bem financeiramente e com o cronograma. Em sua fala o carnavalesco pede para que esperem o desfile.
“Eu digo para os torcedores e apaixonados pela Mocidade esperarem o dia do desfile para verem quem tem razão, se é quem diz que estamos atrasados ou que tudo está fluindo dentro do planejado”.
Entenda o desfile:
A Mocidade Independente de Padre Miguel contará o enredo “Elza Deusa Soares” através de cinco alegorias, com o abre-alas acoplado, e dois tripés, sendo um da comissão de frente. O carnavalesco explica que prefere que o público preste atenção no todo ao invés de setorizar pois acredita fechar a ideia do enredo mas explicou para o site CARNAVALESCO os caminhos do enredo.
“Eu prefiro que as pessoas prestem atenção no desenvolvimento da história, mais do que fatiado por setor pois acho isso triste e acaba fechando muito a ideia do enredo. Eu acho que é uma história que vai continuando e vai se desenvolvendo”.
Ele explica que a abertura do desfile se dá com Elza ainda menina que acontece no programa de rádio de Ari Barroso, quando dá aquela resposta histórica para o apresentador.
Setor 1: “Eles vão ver aquela criança, aquela menina que nasceu na Moça Bonita, que foi criada na Água Santa e que teve seu histórico de vida infantil de muito trabalho mas que acontece num programa de rádio onde ela dá aquela resposta para o Ari Barroso, que tentou diminui-la. Ela responde para ele que veio do Planeta Fome e ele decreta “Senhoras e senhores, nasce uma estrela. Desse início a gente vai contando como essa menina vai ganhando as capas, as experiências para se tornar essa Deusa do final do desfile”.
Setor 2: “Passamos pela Elza feiticeira, mística, religiosa do jeito dela”.
Setor 3: “Elza cantora da noite, cantora de rádio a grande artista vendedora de discos, madrinha da seleção, cantando com as grandes estrelas do mundo”.
Setor 4: “Elza pioneira puxando samba enredo”.
Setor 5: “Elza enfrentando todos os problemas e obstáculos que ela passou. O grande encerramento que é essa deusa que fala pelos excluídos e essas pessoas que precisam de representatividade. Essa grande deusa que partiu do Planeta Fome, que saiu de uma situação severa mas que agora através da sua arte consegue oferecer um grande banquete para quem tem fome de justiça, educação e etc”.