Por Diogo Sampaio
No carnaval de 2020, o Império Serrano retorna a Série A, após dois anos consecutivos no Grupo Especial, e quer se reencontrar com sua identidade. Ao homenagear as mulheres empoderadas, que marcaram a história e mudaram os rumos de gerações, o menino de 47 reverenciará logo em sua abertura alguns nomes importantes de sua trajetória, como Dona Ivone Lara, Tia Eulália e Jovelina Pérola Negra. De acordo com o carnavalesco Júnior Pernambucano, o objetivo é arrebatar o coração do imperiano.
“Aposto muito no início da escola, porque eu quero resgatar o Império antigo. O Império Serrano é uma escola mega tradicional, que tem pessoas diariamente cultivando essa tradição. A minha ideia é trazer um Império que se enxergue, logo na entrada, que é aquele Império que todos gostam de ver: forte e bonito”, declarou o artista.
O site CARNAVALESCO visitou o barracão do Império Serrano e conversou com Júnior sobre o enredo “Lugar de mulher é onde ela quiser!”. Para a reportagem, ele contou que a ideia de falar sobre as mulheres empoderadas já existia antes de seu acerto com a escola e ele apenas adaptou a proposta para o perfil da verde e branco da Serrinha.
“Eu vim acompanhando ultimamente esse movimento das mulheres empoderadas e surgiu essa vontade. Só que a princípio, a minha ideia era falar sobre o empoderamento feminino sem foco nenhum na escola, mas como o Império Serrano tem várias mulheres que fizeram e que fazem ainda história dentro da própria agremiação, houve essa necessidade de incluir. Então, foi uma junção perfeita: a gente fala do empoderamento feminino, que é um tema muito atual, e ao mesmo tempo faz essa grande homenagem a várias mulheres imperianas que foram empoderadas em seus cargos e nas suas participações dentro da agremiação”, explicou.
Sobre como foram feitas as escolhas de quais seriam as empoderadas mencionadas dentro do desfile, Júnior comentou: “Com a pesquisa e desenvolvimento da sinopse, a gente começa a descobrir um pouco mais de cada personagem. Alguns são muito ricos e esquecidos dentro da história como, por exemplo, Margarida Maria Alves. A gente traz essas figuras marcantes, que não são conhecidas, e fazemos essa grande homenagem. Então é muito legal encontrar esses personagens e formar esse grupo de mulheres empoderadas”.
Para conduzir o enredo, a personagem escolhida foi outra figura lendária do Império: Tia Maria do Jongo. A baluarte faleceu em maio do ano passado, aos 98 anos, e era considerada a maior referência do Jongo da Serrinha.
“A ideia de homenagear a Tia Maria do Jongo veio antes do falecimento. A gente já pensava nisso, de ter a figura dela como um fio condutor do enredo. Ela iria desfilar e tudo mais, mas infelizmente não deu tempo”, lamentou. “Brinco aqui no barracão que é a única viva que tem é a presidente Vera (Lúcia, do Império Serrano). Ela é homenageada dentro das mulheres empoderadas do Império, mas também são reverenciadas a Neide Coimbra, que foi uma presidente muito forte e muito marcante; a Tia Eulália; a Olegária, que foi uma destaque que marcou muito dentro da agremiação; além é claro de Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara e por aí vai”, completou em seguida.
Falta de verba, crise no Império e boatos de atraso
Neste ano, as escolas da Série A, assim como as agremiações do Grupo Especial, foram surpreendidas com o corte completo no repasse de verba oriunda da Prefeitura do Rio de Janeiro. A ausência desse dinheiro só agravou a crise que a festa atravessa nos últimos tempos. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Júnior Pernambucano falou sobre os desafios de se construir um carnaval nessas circunstâncias:
“Em uma fase dessas, um momento difícil para o carnaval, que todas as escolas, de todos os grupos, passam por dificuldades, a gente tem que ter toda uma preocupação e cuidado para que saia tudo bem feito e desenvolvido. É um leão a cada dia. É até difícil de falar como a gente consegue. É mágica. Vai se construindo, vai se montando, usando o que têm e pensando a melhor maneira para que o resultado saia o mais perfeitamente. Tudo isso com o tempo curto, sem dinheiro, tendo de controlar toda a ideia e a formação, para não mudar o projeto, e tentar conseguir colocar o máximo possível”, desabafou Júnior.
Uma solução encontrada por muitos carnavalescos diante a falta de verba foi o reaproveitamento de estruturas, materiais e até esculturas de desfiles anteriores. Porém, de acordo com Júnior, no caso do seu trabalho no Império Serrano isso não foi plenamente possível.
“Eu gostaria muito de ter aproveitado a estrutura que veio do desfile passado. Infelizmente, o projeto que foi feito pela escola no último carnaval dificultou um pouco desenvolver esse. Tem alegorias que a gente só salvou a base do carro e está reconstruindo”, revelou.
E se não bastasse os problemas financeiros e estruturais compartilhados com boa parte das agremiações do grupo, o Império Serrano enfrentou algumas situações que tumultuaram os preparativos para o carnaval 2020. Um deles foi o princípio de incêndio no seu barracão, em novembro do ano passado, que não deixou nenhum ferido e nem danos materiais relevantes.
O artista também fez questão de desmentir, quando questionado durante a entrevista, os rumores que circulam acerca de seu barracão: “O trabalho aqui está andando. Desde setembro para outubro, a gente está trabalhando diariamente. A dificuldade que está sendo aqui, esta sendo para todo mundo. Estamos desenvolvendo todo o carnaval, as alas estão sendo confeccionadas, os seguimentos estão bem encaminhados… Então, esses boatos que estão correndo de que está tudo parado não procedem. O que está faltando é dinheiro para concluir. Mas está saindo”.
Entenda o desfile
O Reizinho de Madureira terá a missão, em 2020, de encerrar a primeira noite de desfiles da Série A, sendo a última escola a se apresentar na sexta-feira de carnaval. O Império irá para Avenida com 26 alas, três alegorias (com o abre-alas acoplado) e um tripé. Ao todo, contará com uma média de 1600 componentes.
E mesmo com as mudanças no regulamento do grupo, a verde e branco da Serrinha contará a história do enredo “Lugar de mulher é onde ela quiser!” através de quatro setores. O carnavalesco Júnior Pernambucano explicou como funcionará esta divisão:
Setor 1: “No início da escola a gente traz uma homenagem ao empoderamento feminino dentro do Império Serrano, onde brinco e faço de forma poética um jardim imperial, no qual desabrocham essas mulheres”.
Setor 2: “A partir de uma narração da Tia Maria do Jongo, a gente invade a história do Brasil e começa a falar desde as primeiras mulheres empoderadas, que na verdade não tinham noção da sua força”.
Setor 3: “Já no terceiro setor, trago a mulher empoderada que já tem uma noção, um estudo, uma base. Uma mulher que já sabe o que ela quer, que luta por um Brasil diferente. É uma mulher mais consciente, que tem uma formação maior do que as primárias, não que o peso delas tenha sido mais forte, mas elas tem mais visão do empoderamento”.
Setor 4: “O último setor é o empoderamento em todas as áreas: no esporte, na dança, no cinema, na televisão. Traz a mulher brasileira que é do lar, que sai em busca de seu reconhecimento profissional, pessoal… Então, isso é a mulher empoderada. A gente não só fala da mulher, por isso que houve uma seleção. Nem todas são homenageadas nesse desfile”.