Por Gustavo Lima

A reportagem do CARNAVALESCO visitou o barracão do Pérola Negra e entrevistou o carnavalesco da agremiação, Anselmo Brito. O profissional vai para seu quarto carnaval a frente da escola, sendo o primeiro na elite do carnaval paulistano. O Pérola Negra está voltando ao Grupo Especial após ser campeão do Grupo de Acesso em 2019, e abordará o enredo “Bartali Tcherain. A Estrela Cigana Brilha na Pérola Negra”, que fará uma homenagem e contará a história do povo cigano.

Na entrevista, Anselmo revelou que faz parte da cultura cigana e o enredo é uma promessa pelo campeonato de 2019.

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“O enredo do Pérola Negra é um presente, primeiro porque é uma promessa. Sou eu pagando uma promessa por um carnaval difícil que a escola passou ano passado e eu vim de outros problemas aqui dentro da escola, porque no primeiro ano da presidente Sheila nós tivemos um incêndio aqui, perdemos todo nosso patrimônio, mesmo assim nós fizemos um grande desfile e por causa de um décimo deixamos de ir para o grupo de elite. No ano seguinte, eu fiz uma promessa, até porque faço parte da cultura cigana. Tudo estava muito difícil, a escola não tinha verba e estava com vários problemas financeiros e fiz essa promessa para uma santa de devoção que eu tenho, que é a Santa Sara, que se a gente conseguisse chegar ao campeonato da escola, eu levaria como enredo para a avenida a história do povo cigano, e assim aconteceu”.

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O carnavalesco também contou sobre como foi a aceitação da diretoria, já que não é um enredo proposto pela agremiação e não tem patrocínios. Também ponderou que ele tem uma liberdade na escola, onde pode tranquilamente colocar as suas ideias e o que acha que vai ser melhor para o Pérola Negra.

“A escolha foi em conjunto com a própria diretoria, com a presidente na minha casa, em conversas, e aqui dentro do Pérola Negra eu sou muito grato e tenho a oportunidade de expor as minhas vontades, meus sonhos, aquilo que eu acredito que seja melhor para o projeto e para a escola. Claro que se tratava de um apelo de um devoto, tinha aquela emoção do devoto, e a escola viu que a promessa tinha dado certo, mas é claro que chegaram muitos outros enredos, até com possibilidade de patrocínio, mas aquilo que está profetizado não é mudado, parecia que a gente iria para um caminho de um enredo patrocinado, mas na hora das negociações, nenhuma delas deu certo por vários motivos e eis que ficou o enredo que era pra ser. Então eu digo que não há acasos, foi e será um enredo que levará bem longe e enaltecer essa comunidade e o Pérola Negra”.

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Sobre a questão de alinhar os pontos de vista entre público, jurados e telespectadores, Anselmo falou que por ser uma manifestação cultural, tem que pensar no povo, mas acima de tudo é um campeonato, e a escola vem em primeiro lugar.

“Lembrando que além de ser uma grande manifestação cultural, o carnaval é uma festa do povo e para o povo, então eles são a minha preocupação, mas eu não posso esquecer que é uma competição, e como competição, tem regras, e eu tenho me baseado junto com a diretoria em cima das regras do carnaval, então é claro, tem muitas coisas que gostaria de colocar, mas estou até tirando por conta do regulamento, porque eu acho que deve estar nas regras do jogo. O regulamento do carnaval de São Paulo nos ajuda bastante pra que a gente possa fazer um grande espetáculo, e eu acho que o único cuidado que a escola e o carnavalesco deve ter é a interpretação, como você interpreta ele, pode te levar a uma direção e se você souber interpretar ele, você consegue fazer um grande carnaval. Nós estamos trabalhando em cima do regulamento e interpretação do mesmo”.

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Os ciganos são um povo de muita história, muito misticismo e tem muita coisa para contar na avenida. Diante disso, quando tem algo que aborda um assunto amplo, o carnavalesco tende a optar por um lado, neste caso seja a vertente histórica ou mística.

“Será um misto dos dois, até porque o objetivo foi esse, contar a história. Eu quero que todos conheça o outro lado dos ciganos, eu quero que as pessoas entendam que o cigano é um povo, tem uma língua, que é o romani, tem seus clãs fechados, tem uma santa de devoção, tem sua história, cultura, culinária, então é isso que eu quero mostrar, e, acima de tudo, mostrar o lado místico. E eu fico muito feliz porque a história vem do meu povo, eu faço parte desse clã, então eu sei da luta do povo cigano, como é visto e qual é o olhar das pessoas ao ser cigano. Lembrando que durante anos o povo cigano sofreu várias intolerâncias, então eles tinham medo de dizer ‘eu sou cigano’.

Versatilidade do povo cigano será um trunfo no desfile do Pérola Negra

O povo cigano apesar de ter suas crenças, muitos deles frequentam outras religiões, como a igreja católica, umbanda, candomblé e demais fés. É um povo que respeita tudo e prega a paz, além das famosas romarias, onde determinados clãs saem em procissões e se estabelecem em locais variados, dizendo que o “teto é o céu”.

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“Hoje o cigano também sofre com a modernidade, há algumas adaptações. Existem clãs, como os Calons, que tem esse costume de estarem em barracas, mas tem muitos ciganos hoje que têm suas casas, profissões, tem uma vida normal, mas não deixa de ter sua cultura. O que o cigano não perde, é a sua essência, mas se modernizaram bastante. Sobre as religiões, isso é pra você ver como esse povo é diferente, um presente dos deuses. Eu conto em uma das lendas em um momento importante do nosso desfile, justamente isso, que foi um presente, foi pedido para que Deus Crisma desse ao povo indiano pessoas felizes, e trouxeram esse povo, que são os ciganos, é um povo que respeita todas as crenças. Ele tem suas hierarquias, claro, mas ele respeita a todos. A bandeira dos ciganos é a bandeira da paz”.

Conheça o desfile:

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SETOR 1: O INÍCIO DO POVO CIGANO
“O primeiro setor da escola a preocupação é bem histórico. É mostrar no nosso abre-alas que começa na Índia, vamos apresentar que eles têm uma língua, como que foi o processo dentro da Índia, o porquê ele saiu de lá, o que ele traz dentro desse grande baú de cultura em duas andanças”.

SETOR 2: CIGANOS NO EGITO
“O segundo setor é mostrando o momento em que os ciganos saem do seu solo rumo à novos horizontes e é surpreendido no Egito, onde começa a ter várias atividades e em determinado momento começa a ser escravizado”.

SETOR 3: CIGANOS NA EUROPA
“A chegada do povo cigano na Europa, onde a intolerância foi presente na questão religiosa, cultural, tem a questão do holocausto, mas lembrando que por essa razão o povo cigano tem uma cultura muito vasta. Ele pega consigo um pouco de cada cultura e cada língua”.

SETOR 4: MISTICISMO
“Até chegar no setor místico, pra apresentar todas as formas de adivinhar que esse povo tem, seja na bola de cristal, leitura de mãos, cartas e outros tipos de técnicas que existe onde as pessoas terão o prazer de conhecer”.

SETOR 5: CHEGADA DOS CIGANOS NO BRASIL
“Nosso quinto e último setor é a chegada deles em solo brasileiro, aqui no Brasil, no novo mundo, aonde eles se instalam e trazem todo esse tipo de riqueza conquistado em tanto tempo de andanças, e aqui nos apresenta como uma figura totalmente diferente, e não foi diferente da chegada do povo cigano nos outros lugares, chegam com muita alegria, mostrando muita cultura, mas chega com muito espanto, mas nesse último setor a gente vai celebrar grandes nomes que são ciganos, que colaboraram pra levantar essa bandeira em prol da cultura da cigana”.

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