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Série Barracões: Encantaria paraense na Avenida com a Grande Rio

Gabriel Haddad e Leonardo Bora são as mentes criativas por trás de mais um carnaval da Grande Rio. Na agremiação da Baixada Fluminense desde que estrearam no Grupo Especial em 2020, a dupla chegou trazendo um vice-campeonato para a escola e foi responsável pelo primeiro título do Grupo Especial da Tricolor de Caxias — e também o primeiro título da carreira de ambos — em 2022, com um desfile histórico sobre Exu. Após um terceiro lugar no último Carnaval, a dupla Bora e Haddad mergulhou no Tambor de Mina do Pará para criar o enredo “Pororocas Parawaras – As águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”, que narra a saga das três princesas turcas do Tambor de Mina e sua influência no carimbó, ritmo originário da cultura paraense.

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Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO

Da oralidade à Avenida: o processo de criação

Em entrevista ao CARNAVALESCO, Leonardo e Gabriel destacaram a importância da oralidade na construção do enredo, além do legado de Dona Onete, ícone do carimbó cuja obra inspirou a narrativa:

“Todo enredo tem um processo único. Para 2025, foi essencial vivenciar os terreiros de Tambor de Mina, conversar com pajés, pesquisadores e artistas. Essa história é transmitida oralmente há gerações e fala das princesas que se encantaram na Amazônia, tornando-se protagonistas do carimbó. Dona Onete foi central nesse processo: sua música Quatro Contas, inspirada nas contas recebidas de suas protetoras durante uma festa na infância, guiou nossa narrativa”, explicou Leonardo.

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Gabriel complementou: “A pesquisa revelou a força desse enredo. Foram mais de 28 entrevistas, com relatos apaixonados sobre as princesas e caboclos como a Jurema. A conexão com a Grande Rio, cujo nome remete ao “Grão-Pará”, não é coincidência. Trouxemos essa potência para a avenida”.

Imersão na encantaria Amazônica

A dupla destacou a experiência única de participar de festas em terreiros como o Dois Irmãos (Belém) e o de Mãe Fátima (Ilha de Marajó). “Convivemos com as entidades, tomamos pomosa na cuia e absorvemos a energia da floresta. Isso diferencia de pesquisas apenas bibliográficas. Até o muiraquitã, símbolo de Santarém, estará no desfile”, contou Gabriel.

Visual grandioso e detalhes manuais

Sobre as alegorias, a dupla promete grandiosidade aliada a técnicas artesanais: “A Grande Rio é conhecida por carros imponentes, mas equilibramos isso com detalhes minuciosos. O abre-alas, iniciado em agosto, ainda está em produção. Usamos materiais diversificados, desde esculturas de animais fotografados na Amazônia até técnicas inspiradas nos bordados dos terreiros”, explicou Leonardo.

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As fantasias também refletem a riqueza cultural: “Incorporamos técnicas de costura dos terreiros e cores vibrantes. As princesas bailam em roupas ritualísticas, e isso se traduzirá em sobreposições de tecidos e elementos simbólicos”, acrescentou Gabriel.

O conjunto como trunfo

Para 2025, a aposta é no conjunto: “O samba, a comunidade empolgada e a narrativa visual coesa são nosso trunfo. O ensaio de quadra mostrou essa sintonia”, afirmou Bora.

Como será o desfile

A Acadêmicos do Grande Rio traz cinco alegorias, três tripés, e 3.200 componentes em cinco setores. Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora explicaram ao  CARNAVALESCO setor a setor de como será o desfile da agremiação.

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Setor 1: “Na abertura do desfile, apresentamos o momento do encantamento das princesas, o momento em que elas saem da Turquia e se encantam no meio do mar, no meio do oceano, após uma grande tempestade. O enredo já começa em movimento, com esse processo de encantamento. A gente não vai a solo turco. A abertura é o momento do encantamento delas, quando elas se tornam encantadas”.

Setor 2: “Atravessam o espelho do encante e vai ligando já o segundo setor, que é o momento que elas chegam ao Pará e ao território brasileiro. Aportam nessas praias e vão conhecendo matrizes religiosas muito antigas que existem nesse solo, que é o caso da pajelança, a vida que brota do mangue, esse saber guardado como samba canta, quem é de barro no igapó é caruana”.

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Setor 3: “O terceiro setor é o processo de ajuremamento, o mergulho nas águas dos igarapés e a entrada na floresta amazônica, o encontro com toda essa sabedoria e os demais encantados da floresta. Entendendo essa relação com os povos originários, que já tinham esse conhecimento, já conversavam, se transformavam e buscavam a cura junto aos encantados da floresta. Então, nesse momento, as princesas ali já em processo de ajuremamento se encontram com esses encantados que já viviam aqui. E se transformam em animais de poder: A onça, a arara e a jibóia”.

Setor 4: “O quarto setor é o processo de formação da Mina paraense, que é muito específica, é um complexo religioso único justamente porque é produto dessa fusão de religiões de matrizes africanas com religiões de matrizes indígenas, do alto território da floresta amazônica e demais cultos. Então, a partir muito dos relatos coletados nas entrevistas realizadas, da vivência no terreiro de mina Dois Irmãos, o mais antigo do Pará, a gente conta um pouquinho desse processo da formação do Tambor de Mina”.

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Setor 5: “As princesas são protagonistas desse sistema religioso e se transformam em temas de carimbós, que é justamente o quinto e último setor do desfile, quando a gente apresenta, segundo as narrativas, o destino delas, fazendo um diálogo com o Quatro Contas, a composição de Dona Onete, e o carimbós sendo também esse complexo cultural, essa força, uma síntese cultural paraense exaltando essas entidades encantadas. É como se reunisse no final, o carimbó sendo a voz desses encantados hoje aqui na terra. As músicas de Dona Onete, de outros tantos mestres, mestre Dikinho, mestre Chico Malta, mestre Verequete, cujo nome se confunde com o do Tóia Verequete, que é o patrono da Mina, como a gente ouviu nas entrevistas, se confunde com a espuma do mar e é quem reúne a encantaria, quem recepciona as princesas em solo brasileiro. E até outras compositoras, como a própria Marcela Almeida, Jânia Cerdeira, que participaram e escreveram uma música, um carimbó para o nosso enredo. Então, como tudo foi se transformando e como esses encantados começam a aparecer. A gente em Alter do Chão, antes deles abrirem a roda de carimbó, eles chamaram os encantados para participar também daquele momento. A gente falou, é nosso enredo, acho que está no caminho certo, porque é tudo aquilo que a gente imaginou. É a música servindo de voz para esses encantados e vai desenvolvendo como que eles foram, no caso as três princesas turcas, como que elas foram desenvolvendo a chegada delas, passando pelo processo de encantamento, conhecendo os encantados daqui, se tornando chefes do Tambor de Mina, chefes de linhas, diversas linhas, são muitas, e como que isso tudo se transformou em carimbó. É um enredo que ele tem esse desenvolvimento bastante linear, mas que vai sendo desenhado por outras questões no meio dele. É por isso que a gente fecha com carimbó, a gente abre com o momento do encantamento e fecha com os carimbós”.

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