A Em Cima da Hora promete emocionar a Sapucaí em 2025 com o enredo “Ópera dos Terreiros – O canto do Encanto da Alma Brasileira”, uma celebração da cultura negra, da ancestralidade e da resistência. Inspirado pela história de amor contada pelo Núcleo de Ópera da Bahia e nos blocos afros Ilê Aiyê, Olodum e Malê Debalê, o desfile abordará temas como racismo, preconceito e a força da identidade negra. Apesar das dificuldades financeiras e da estrutura precária dos barracões da Série Ouro, a escola apostará na superação e na fé, representada por 80 mil fitas do Senhor do Bonfim, que adornarão uma das alegorias. Com fantasias e carros em fase final de acabamento, a agremiação de Cavalcante busca conquistar seu espaço no carnaval carioca e reafirmar a importância da cultura negra na sociedade.
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![Série Barracões: Em Cima da Hora canta a alma negra e desafia as dificuldades com 80 mil fitas do Senhor do Bonfim 1 emcimadahora barracao25 6](https://carnavalesco.com.br/wp-content/uploads/2025/02/emcimadahora_barracao25_6.jpg)
Em entrevista ao CARNAVALESCO, Rodrigo Almeida, carnavalesco da agremiação, revelou a motivação que teve para desenvolver o enredo.
“Quando acabou o carnaval do ano passado, a gente saiu com a ideia de fazer algo social. Eu estava ajudando uma escola da Intendente Magalhães e na porta do barracão, que é um barracão coletivo, tinha um menino que estava andando de moto e que me chamou a atenção. Não sabia se era um menino ou um adulto. Em dado momento eu fui conversar com ele e disse: “você tem que estudar”. E ele olhou para mim e foi um pouco ríspido: “Eu sou preto, pobre, favelado, para mim não deu. Eu tenho que sustentar minha casa”. A gente sempre fala do alto da nossa burguesia branca, elitista, do alto dessa ideia do estudo como a primeira coisa que vem à nossa cabeça. Como se todo mundo tivesse essa oportunidade e não faz porque não quer”, revelou Rodrigo.
A partir dessa experiência marcante para o carnavalesco, surgiu a ideia de abordar temas como a negritude e o racismo. “O enredo surgiu de uma situação de preconceito. E surge daí uma questão: como se falar de negros, falar de preconceito, não sendo negro, não sendo um porta-voz desse povo, apenas tentando abrir espaço para que eles mostrem o trabalho deles, já que eu tenho a possibilidade, o espaço”, afirma Almeida.
Durante o processo de pesquisa do enredo, o carnavalesco encontrou e se encantou com a “Ópera dos Terreiros”, composta por Jorge Portugal e Aldo Brizzi, do Núcleo de Ópera da Bahia. O espetáculo narra a história de amor entre um homem negro banto e uma mulher negra nagô e toda a trama que envolve as diferenças de crenças e costumes entre essas duas nações africanas. No elenco, artistas negros oriundos de favelas baianas como o Curuzu, que se reúnem no Pelourinho para cantar ópera e que já se apresentaram em São Paulo e em países da Europa.
Para contar essa história na Marquês de Sapucaí, a Em Cima da Hora recontará a travessia atlântica dos negros escravizados e o surgimento dos blocos afros em Salvador que, junto com a Ópera dos Terreiros, reafirmam a ancestralidade nas diferentes performances da voz negra.
Rodrigo Almeida reforça que o grande trunfo da Em Cima da Hora é o povo preto e sua ancestralidade. “O trunfo é o povo preto, é Cavalcante, é ancestralidade, é a escola de Jovelina, é a escola do jornalista Sérgio Cabral, é a escola do Reinaldo do Pagode”, diz. Ele acredita que a escola está pronta para conquistar seu espaço na Sapucaí, honrando sua história e mostrando ao mundo a força de sua identidade.
Sobre as condições para fazer o carnaval no Série Ouro, Rodrigo Almeida reconhece os esforços da diretoria para proporcionar melhores condições de trabalho, mas acredita que a estrutura dos barracões precisa melhorar. “As estruturas de barracão hoje elas são precárias em altura e largura. O fato de eu não conseguir montar uma alegoria inteira dentro do barracão é angustiante. Acho que a Cidade do Samba 2 vai trazer conforto para a gente. Uma infraestrutura melhor, de logística, para montar um carro inteiro dentro do barracão e analisá-lo por todos os lados. E tem a questão das dificuldades financeiras, o atraso da subvenção. Eu dei a sorte de ter uma diretoria que comprou a briga e começou a fabricar fantasia, por exemplo, em outubro. Eu tenho colegas que não conseguiram. É legal quando está todo mundo partindo do mesmo ponto”, afirmou o carnavalesco.
Com uma evolução estética marcante, fantasias e alegorias já em fase de acabamento e testes de luz, a Em Cima da Hora promete um desfile emocionante. Para a segunda alegoria, que homenageia os blocos afros Ilê Aiyê, Olodum e Malê Debalê, serão amarradas quase 80 mil fitas do Senhor do Bonfim abençoadas na Bahia e trazidas especialmente para o desfile da escola de Cavalcante. Já para a terceira e última alegoria, ainda em finalização, a ópera barroca vai se transformar em um grande gira. Segundo o carnavalesco, a palavra da escola é conquista: “Conquista do povo preto, conquista da Sapucaí, conquista do mundo”.
Entenda o desfile
A Em Cima da Hora levará para a Sapucaí em 2025 cerca de 2100 componentes e 3 carros alegóricos. O carnavalesco da escola destrinchou um pouco os setores que serão apresentados no desfile oficial.
Setor 1: “No primeiro setor a gente vai narrar a travessia dos negros, só que de uma maneira diferente, é uma África lúdica. É uma África que vai simular tempestades, que vai trazer muita cor, embora seja branco, com muita luz. É uma África diferente com materiais mais reflexivos, pedrarias, espelhos, fitas, um palácio que vai se erguer. Teremos uma ala que representa os espíritos do mar, Olókun. É uma abertura que não narra dor, que narra esse lúdico da ancestralidade chegando”.
Setor 2: “Surgem as casas de santo, surgem as casas de terreiro, o Candomblé, que é onde o Banto vai se encontrar com o Banto, o Nagô com o Nagô, o Iorubano com o Iorubano. Então, vão se formando embaixadas, quilombos, lugares onde eles podem proliferar sua comida, sua fala, sua dança. Ali é o país deles aqui. É o lugar deles longe do lugar deles”.
Setor 3: “Vão surgindo dentro dos terreiros os blocos de carnaval de Salvador: Ilê Aiyê, Olodum, Malê Debalê. Esses blocos são o extravasamento dessa cultura, ou seja, a dança, o canto, a oralidade do corpo negro começou a explodir e começa a surgir o carnaval de Salvador. Eles vão modelando essa festa em Salvador como uma resposta direta às escola de samba do Rio e a gente vai narrando cada um desses blocos e fala o motivo de cada um deles existir, de se reafirmar. Encerramos com um carro que traz o Pelourinho em uma estética altamente futurista”.