Por Gustavo Lima
A reportagem do CARNAVALESCO foi ao barracão do Colorado do Brás e entrevistou Leonardo Catta Preta, que irá para o seu quarto ano na escola, sendo mais uma vez responsável pela montagem do desfile da agremiação. A escola, que irá para seu segundo ano consecutivo na elite do carnaval paulistano, abordará desta vez o enredo “Que rei eu sou?”, uma homenagem a Dom Sebastião.
“Esse enredo é uma ideia que eu tinha há algum tempo e esse ano o presidente Ka me deu a oportunidade de trazer um enredo próprio pra escola. Além de ser um trabalho que eu faço pra agremiação, também tem essa questão de ser uma ideia minha, então tem um amor a mais nessa questão do enredo”.
Leonardo explicou como faz para transformar um enredo “mais pesado” por conta das guerras que envolve a história de Dom Sebastião, em algo mais descontraído.
“A história de Dom Sebastião nós iniciamos ela em uma guerra, só que quando eu projetei esse enredo, quem acompanha o meu trabalho sabe que eu não faço enredo crítico e nem essa parte política, e eu transformei um enredo que automaticamente seria crítico, com essa parte pesada das guerras, eu transformo em algo lúdico, em colorido, que é a minha pegada. Também quebro a paleta de cores, não sigo nenhum padrão, muitas pessoas me perguntaram ‘Léo, vai ter muito dourado?’ Não, pelo contrário, eu vou fazer a mesma coisa do ‘Hakuna Matata’, que era África, todos imaginaram algo voltado pra essa questão do preto e eu quebrei também, e esse ano não será diferente, eu quebro essa questão da paleta de cores, venho com algo mais lúdico e brinco com o enredo na avenida”.
O Colorado do Brás teve a responsabilidade de abrir o carnaval paulistano, além do fato de a agremiação não ter disputado o Grupo Especial desde 1993 até então, o que joga uma certa pressão, mas a escola veio bem e está tentando se firmar cada vez mais na elite do carnaval de São Paulo.
“Na verdade, eu sabia que eu tinha a responsabilidade de abrir o carnaval do Brasil, eu trabalhei em cima desse enredo, voltado para o projeto de abrir, mas dessa vez eu não vejo como diferente, eu abro o carnaval para o Paulo Barros, que eu sou fã, então eu sei que vem um trabalho belíssimo e é uma honra ser novo como carnavalesco e abrir para um cara que é um marco, não tem o que falar desse profissional e está sendo uma honra, um grande trabalho, então eu fiz o carnaval do Colorado pra abrir para o Paulo Barros. Então a mesma questão da comissão de frente que abriu o desfile do Colorado, eu me baseei pra esse ano, então eu tenho uma grande abertura, que vai gerar o mesmo impacto do ano passado e preparei esse carnaval pra gente se manter, o que é difícil. Muitas pessoas podem falar que deu sorte, que o enredo ajudou, mas esse ano eu estou fazendo o trabalho pra permanecer com o Colorado e quem sabe, buscar o lugar ao sol”.
Leonardo também afirmou que faz um carnaval voltado para o manual que as escolas recebem, para poder alinhar a visão de quem está assistindo no Anhembi, do telespectador e jurados. O carnavalesco ressalta que o uso do colorido facilita a leitura de todas as vertentes.
“Eu faço um carnaval direcionado pelo manual que nós temos e eu trabalho com essa coisa lúdica, colorida, que é mais fácil de leitura também. Eu faço algo que não só eu entenda, mas que quem está assistindo possa identificar o que eu estou levando pra avenida. Esse enredo como tem bastante parte histórica, poderia se tornar um pouco difícil na questão de alegorias e fantasias, mas eu fiz uma coisa mais leve, pegando apenas pinceladas deste século, pois muita gente não conhece a história, mas o pincelei tudo isso para fazer fantasia leves e que seja de fácil entendimento”.
Abertura e encerramento serão destaques do desfile da agremiação
O carnavalesco falou sobre o andamento do barracão e comentou sobre as injustiças que as escolas que estão localizadas na Fábrica do Samba II, sofrem.
“É o que eu sempre falo para as pessoas que me perguntam e hoje eu posso dizer que está 80% pronto, mas assim, o Colorado me dá a oportunidade de fazer um carnaval grande, porque eu venho da Império de Casa Verde e tenho essa pegada do gigantismo.
A única coisa que atrapalha e de a gente não ter finalizado o trabalho, é a questão do ambiente, o barracão nosso todo mundo sabe que é pequeno ainda, diferente das outras que estão na Fábrica do Samba, então a gente perde um pouco disso e eu sinto uma injustiça em relação a isso. Algumas tem um espaço melhor do que as outras, mas isso também não tira o nosso mérito, nós estamos fazendo um trabalho digno do Grupo Especial e eu acho que até no dia do desfile, estará tudo pronto”.
Leonardo Catta Preta disse que, para surpreender o público, assim como no ano passado, a abertura do desfile será gigante, assim como o encerramento, onde fará uma união entre Brasil e Portugal.
“O que eu preparei para esse desfile do Colorado foi uma grande abertura, eu julgo que hoje é muito importante prender as pessoas que estão te assistindo e terei essa ‘big’ abertura. É uma coisa minha, eu gosto de misturar essa coisa de Brasil e trago esse ano Portugal, então será uma mistura entre os dois países, especialmente no Nordeste, eu trago São Luís do Maranhão. Depois o grande impacto vai ser a última alegoria, em que eu faço a união de Dom Sebastião com a Praia dos Lençóis, como foi a aranha no ano passado. Então nós criamos essa ideia de impactar no início e no fim do desfile”.
Conheça o desfile:
A escola levará 2200 componentes, em 23 alas e 5 alegorias.
SETOR 1: ENCANTARIAS
“No setor 1 nós falaremos das encantarias de Dom Sebastião. Na verdade, a gente faz a junção dos três anos até os vinte e quatro anos quando ele desapareceu. Nós também vamos trabalhar com essa questão do céu, do encantado e traremos também São Luís do Maranhão. Essa será a abertura da escola”.
SETOR 2: MARROCOS
“No meu segundo setor eu abordo a questão da guerra, dizem que ele desapareceu, que é o Marrocos, e eu conto todas as pessoas que ajudaram, todos os países que estavam junto com ele e com Portugal nessa guerra”.
SETOR 3: IGREJA CATÓLICA
“No terceiro setor eu conto a questão da religião de Dom Sebastião, que ele era muito católico. Falo da questão da inquisição, o caça às bruxas, o poder da igreja católica na época. Coloco também o fato da monarquia e o clero estarem juntos”.
SETOR 4: LENDAS DO REI
“No setor quatro eu já conto as lendas que partiram depois que ele sumiu. Criaram lendas que o rei foi pra Veneza, pro Egito, então tudo que envolve o sumiço do rei, estará neste setor”.
SETOR 5: DOM SEBASTIÃO NO BRASIL
“E no último setor eu já trago ele pro Brasil, então eu já trago Antônio Conselheiro, o boi-bumbá, que é uma referência, a lenda do boi encantado. Toda essa parte do rei do Brasil estará representada no meu último setor”.