O ritmo quente do forró, o brilho das fogueiras e o colorido das bandeirolas vão tomar conta da Marquês de Sapucaí no desfile da Acadêmicos de Niterói, que leva para a avenida uma homenagem ao São João, uma das maiores festas populares do Brasil, celebrada com fervor no Nordeste. Com o enredo “Vixe Maria”, a agremiação promete transportar o público para o universo das festas juninas, exaltando a história e os santos padroeiros São João, Santo Antônio e São Pedro. O enredo também destaca as tradições culinárias, como a pamonha e o milho assado, e os elementos culturais que fazem do São João um espetáculo de cores, sons e devoção.
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Durante a pesquisa do enredo, o carnavalesco Tiago Martins comenta o que achou de mais interessante. “Eu venho de quadrilha, através da quadrilha que eu conheço o carnaval. Várias pessoas que eram da quadrilha, quando entrei comentavam muito sobre o carnaval, mas ninguém me trouxe para o Carnaval, eu peguei o trem vim sozinho, comecei a entrar nos barracões e pedir vaga. Quando chegou esse enredo para mim, que eu consigo dominar muito bem, mas também que eu tenho minhas dificuldades no sentido de tentar trazer uma plástica diferente do que já se passou na sapucaí. Nunca foi falado de um enredo sobre quadrilha, mas já teve enredos aonde tinha quadrilha, festa junina e geralmente as pessoas trazem muito aquela questão do tradicional”.
Procurando relacionar o tradicional com o contemporâneo trazendo referência de outros artistas do Nordeste que usa a quadrilha como um pano de fundo, que é um estilo de dança folclórica cultural no Brasil que misturada ao carnaval, reflete a identidade brasileira. O carnavalesco propõe mostrar a influência do São João na cultura brasileira e sua ligação com as raízes afro-indígenas.
“Quando eu começo fazer a pesquisa, ela se torna mais gostosa ainda quando você começa a entender o caminho disso tudo, que começa através dos bares europeus, que aí através da família real chega ao Brasil e aqui sofre um processo de aglutinação, onde a gente vai entender o porquê que tem a questão dos indígenas, porquê que tem a cultura do povo negro”, destaca Tiago.
Sobre o processo de criação, o carnavalesco da escola declara como transforma tudo isso para não ficar uma mistura de estética. “Eu pensei em fazer algo mais jocoso, aonde eu trago as alas representando com as suas representatividade, mas não perdendo essa característica de festa junina, de quadrilha, onde você vai ver bandeirinha, onde você vai ver comida típica, onde você vai ver a beijoqueira, a fofoqueira, onde você vai ver o artesanato, aonde você vai ver a quadrilha, onde você vai ver o arraiá. É uma mistura onde você vai ver a parte religiosa também”.
O grande trunfo do desfile da Niterói está no símbolo da fogueira, que tem uma forte representação no enredo. “A gente fala muito da questão da fogueira. É um símbolo religioso de lá de trás, um símbolo também dos povos pagãos de purificação. Eu fiquei pensando como que eu ia trazer essa fogueira, o abre-alas vai ter uma fogueira super diferente, que eu acredito que o público vai gostar muito”, afirma Martins.
A agremiação irá desfilar com três alegorias, contando com o abre-alas, e um elemento cenográfico da comissão de frente. Tiago diz sobre a dificuldade da série Ouro em relação às condições financeiras para o conjunto de alegorias. “Eu procurei fazer algo diferente, que às vezes é muito difícil de fazer por questões de condições. A situação financeira no grupo é muito complicada e a subvenção já caí muito em cima para a gente ter que resolver tudo em pouco tempo. Eu costumo falar que dinheiro compra tudo menos o tempo, que é o nosso maior inimigo nesse momento”.
Para driblar as dificuldades, a Niterói irá apostar em movimentos e interação nos carros alegóricos. “Em vez de trazer uns carros só quadrados, com esculturas e tal, eu vou trazer pessoas em cima do carro, fazendo coreografia e trazendo esse entretenimento com o público, mexendo com o público, com a galera de casa mexendo com a galera da arquibancada, acho que vai ser muito bacana. É a primeira vez que eu estou fazendo essa questão das pessoas em cima do carro, mas é uma proposta que eu acho que vai dar muito certo”, destaca o carnavalesco.
Usando uma paleta de cores coloridas, porém mantendo o azul da escola, o artesanato, as palhas, as miçangas, a chita (um tecido com estampas de cores fortes), as tendas, etc, são os materiais utilizados para as alegorias e fantasias. Em relação aos componentes, há uma estimativa de 1.200 desfilantes.
Conheça o desfile da escola
Setor 1: “A gente abre com a comissão de frente, que é um pau de arara, só que é um pau de arara totalmente diferente. A comissão é totalmente diferente, não vou dar muito spoiler, mas para vocês já terem uma ideia, esse pau de arara, ele vai se transformar e as pessoas vão começar a mostrar dentro da Sapucaí a saudade e trazendo as suas tradições, a sua cultura e mostrando um pouco mais ali do que do que o São João oferece. Depois a gente tem o Mestre-Sala e Porta-Bandeira, que é totalmente segredo e as pessoas vão entender depois. Eu tenho uma ala da quadrilha, a ala dos Povos Pagãos, Logo depois em seguida tem um abre ala, acho que é um grande arraial, mas vocês vão ver um arraial totalmente diferente, que é o arraial da Niterói”.
Setor 2: “No segundo setor a gente começa a trazer, a contar um pouco da formação da quadrilha, do baile europeu, da corte francesa, da tradição da da tradição dos indígenas, da cultura do povo preto, o porquê que a sanfona foi introduzida, o porquê que a Zabumba foi introduzida. A gente traz as minhas baianas, elas trazem a questão do milho porque é uma comida muito usada, é um ingrediente muito usado nas comidas típicas e em seguida, a gente traz o segundo carro que a gente faz uma brincadeira, porque o nome do enredo é Vixe Maria. No segundo carro eu já trago as Marias quituteiras, Marias artesãs, porque para fazer essas roupas as pessoas acham que é da noite para o dia, mas não é, elas já estão bordando, elas estão com as miçangas, com as suas agulhas, com seu bordado.eu trago a questão dos quitutes, porque quem não gosta da pamonha, do bolo de milho, do bolo de fubá? E no carro tem essa brincadeira das meninas quituteiras que vão estar oferecendo bolo, pamonha, milho, maçã do amor, pipoca. Vocês vão ver tudo isso”.
Setor 3: “A gente entra no setor onde traz a questão dos Santos, mas eu procurei fazer o máximo de diferente, por exemplo, tem uma ala que representa as bandeirinhas e tem a história de São João, porque antigamente pendurava as bandeirinhas com as fotos de São João e depois eles jogavam no rio e aquela água era de purificação. Eu fiz meio que essa brincadeira para não se tornar uma romaria, e sim continuar com essa brincadeira. Tem a brincadeira do pau de sebo, tem a Maria quer casar, quem não quer casar? botar o Santo Antônio de cabeça para baixo. Logo depois eu trago o carro que são as Marias de fé, aonde vai ter a festa da igreja, onde vai ter um coreto com uma quadrilha dançando, onde vocês vão conseguir ver os santos, eu já trago os santos nesse carro, São João, São Pedro e Santo Antônio, e no final do carro, eu trago o Padre Cícero para poder abençoar nosso desfile e dê tudo certo”.