A dupla de intérpretes do Águia de Ouro possui uma identificação imensa com a escola e com toda a comunidade da Pompeia. Se Douglinhas Aguiar também deixou seu nome em outras escolas da maior cidade da América do Sul, Serginho do Porto está intimamente ligado ao azul e branco quando se fala no Grupo Especial de São Paulo. Em entrevista ao CARNAVALESCO, durante o evento que lançou “Mokum Amesterdã: o voo da Águia à cidade libertária”, enredo da agremiação para 2026, o intérprete relembrou sua extensa trajetória na escola, declarou-se torcedor da agremiação e destacou que entrou até mesmo no Guinness Book por conta do Águia de Ouro.

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Foto: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Chegada

Se Serginho do Porto já é um nome histórico na agremiação da Zona Oeste paulistana, obviamente houve um começo. E o início dessa história foi antes mesmo do primeiro desfile dele como intérprete:

“Eu cheguei aqui antes do Mário de Andrade! Fora a brincadeira, eu vim para cá no dia 08 de agosto de 2000, quando teve o Festival da Globo. A gente veio conhecer a quadra do Águia, que era lá embaixo do viaduto. Vim conhecer os então puxadores Dominguinhos, Preto Joia, Vantuir e o Jackson Martins. Eu não consegui vir no dia 07 porque tinha perdido a minha carteira no teatro. Vim no outro dia, no dia 08. Vim e fiquei!”, destacou.

A brincadeira com o nome do grande modernista, homenageado em “Vou à luta sem pedir licença. Tupy ou não tupi? Sampa é a resposta”, enredo da agremiação em 2002, não é por acaso. Esse foi o primeiro desfile em que o intérprete apareceu creditado como oficial na escola. Outra referência importante é a antiga quadra do Águia, que ficava abaixo do viaduto Pompeia.

Sambas para um sentimento verdadeiro

Ao ser questionado sobre o tamanho do sentimento que possui pela agremiação, Serginho do Porto surpreendeu: “O sentimento é tão grande que a Águia está tatuada no meu corpo”.

A reportagem pediu para ver onde está a tatuagem, e ele logo puxou a calça na parte esquerda, deixando o tornozelo à mostra. Lá estão uma águia dourada e um leão.

O intérprete prossegue: “A gente viveu momentos loucos aqui, momentos muito complicados. Mas, como fala um segundo samba-exaltação, ‘só eu sei porque te quero tanto, eu sei como é gostoso te amar’. Essa coisa se tornou muito grande dentro de mim”, explicou.

Em outro momento da entrevista, Serginho do Porto novamente relembrou sua composição para a escola: “Quando adentrei a escola, a empatia foi muito grande pela semelhança com a Portela, pela lembrança de toda a minha família. Dessa inspiração eu escrevi o ‘Bate Forte Coração’, que se tornou um samba-exaltação do Águia. Já são 26 anos por aqui”, relembrou.

Vale destacar que o intérprete é nascido no tradicional bairro de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, e é declaradamente torcedor da Portela – por isso a citação à outra águia azul e branca.

Outros grandes nomes

O intérprete aproveitou para destacar mais duas pessoas fundamentais em sua trajetória no Águia de Ouro: “Hoje, eu falo que tenho duas escolas de samba: aqui é a escola que eu aprendi a gostar, aprendi a amar. Fiquei oito anos, fiquei na frente da escola com o Sidnei, como vice-presidente. Ajudei muita coisa com ele, trabalho com ele direto. O Douglinhas Aguiar, agora, é o vice-presidente da escola. A gente sempre trabalha junto, correndo, sempre para o melhor da escola”, lembrou.

A parceria com Douglinhas Aguiar na escola, por sinal, merece ser destacada. Desde 1991, apenas uma única vez a escola não teve ao menos um dos dois como intérpretes oficiais – em 2005, quando Paulinho Mocidade recebeu a honraria.

No outro lado da Dutra

Serginho do Porto também ressaltou a identificação que possui com outras agremiações da Cidade Maravilhosa:

“E, no Rio de Janeiro, a minha Estácio de Sá… não minto para ninguém. Eu cantei dez anos no Salgueiro. Era para eu ser salgueirense, não era? Eu tenho 26 anos no Águia e tenho 23 anos de convivência com o Estácio. Depois do Dominguinhos, a minha voz tem uma identificação muito grande com o Estácio de Sá, mas muito grande. Eu posso cantar em qualquer outro lugar, mas a identificação com a quadra é única, eu sei cantar todos os sambas”.

Livro Guinness

Em uma conversa prévia à entrevista, Serginho do Porto destacou que as duas escolas pelas quais tem mais admiração o fizeram entrar até mesmo no conhecido livro dos recordes: “Carnaval de 2002: a Estácio era a sétima escola a desfilar na Marquês de Sapucaí e o Águia era a sexta aqui em São Paulo. A gente cantou, pegou o avião, veio para cá e cantou também”, relembrou.

Vale destacar que os desfiles do então Grupo A (equivalente à Série Ouro contemporânea, segundo pelotão do carnaval carioca), à época, começavam ainda com o céu claro.

Anos mais tarde, a situação se repetiu: “Carnaval de 2010: o Águia foi a primeira escola a desfilar, cantando Ribeirão Preto – subimos em 2009 com cinco pontos de diferença para a segunda colocada. Fomos a primeira aqui e a quinta lá no Rio de Janeiro. E agora, em 2026, isso tudo começa de novo a acontecer: o Águia é a segunda escola aqui e a Estácio a quinta lá no Rio de Janeiro”, destacou, afirmando que novamente terá seu nome grafado no Guinness Book.

Na visão de Serginho do Porto, entretanto, tudo é válido pelas escolas e pelos companheiros que fez na Pompeia: “Pelas duas escolas eu faço qualquer sacrifício. São duas escolas que, primeiro aqui, com respeito máximo pelo Sidnei, pela parceria que a gente tem até hoje com o Douglinhas – já que falamos a mesma língua. A gente tem uma coisa muito boa entre nós. Não tem aquela história de deixar para amanhã o que tem que falar hoje. A gente fala, e isso nos dá transparência. É a mesma coisa que a gente tem dentro da Estácio”, finalizou.