O torcedor nilopolitano que foi a Marquês de Sapucaí esperando ouvir o tradicional “Olha a Beija-Flor aí gente”, na voz de Neguinho da Beija-Flor, se surpreendeu na arrancada do ensaio técnico da agremiação, mas certamente não teve motivos para ficar desapontado com a ausência do cantor. Isso porque, Bakaninha, intérprete de apoio da agremiação, assumiu a responsabilidade em substituir uma das lendas do carnaval brasileiro, e fez seu papel com brilhantismo. Junto às apresentações de Selminha Sorriso nos módulos de julgamento, o cantor foi um dos destaques do treino da Azul e Branca de Nilópolis, que encerrou o calendário de ensaios técnicos na Sapucaí, na noite deste domingo, 24 de fevereiro.
Selminha, aliás, deu um show a parte durante suas apresentações. Uma das identidades mais marcantes da Deusa da Passarela, a porta-bandeira mostrou um preparo físico invejável e um exemplo a ser seguido, realizando muito bem suas apresentações.
“Nossa comunidade cantou com alegria e acredito que tenhamos encerrado com chave de ouro essa temporada de ensaios técnicos. Todas as escolas e a Liga estão de parabéns por terem conseguido viabilizar esse evento tão importante para a cultura do carioca. O Neguinho já havia firmado um compromisso profissional, pois ainda não havia a confirmação dos ensaios, e não foi possível desmarcar. Mas ficamos satisfeitos com a condução do Bakaninha”, disse Almir Reis, vice-presidente da Beija-Flor.
Comissão de frente
Coreografada por Marcelo Misailidis, a comissão de frente da escola nilopolitana fez apresentações que mesclaram teatralização com muito samba no pé. Com 15 componentes, o quesito fez por diversas vezes ao longo da apresentação frente a cabine de julgamento, menções ao beija-flor, pássaro que dá origem ao nome da agremiação.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal da Beija-Flor, Claudinho e Selminha Sorriso, mostrou porque é uma referência no quesito no carnaval brasileiro. Selminha deu um show a parte, com muito carisma e mostrando um preparo físico invejável, bailando com muita categoria em uma apresentação que, mais longa, exige muito da parte física. O casal, como de costume, mostrou sincronismo ao longo das apresentações diante das quatro cabines de julgamento.
“Foi 100%, nota 10. Eu amo esse samba, eu amo essa comunidade, eu amo essa história que eu vivo com o Claudinho na Beija-Flor há quase 24 anos. Esse ano é especial porque são 70 anos da escola e vão ser 30 anos de ‘Ratos e Urubus’ e 30 anos também da Selminha. Eu desfilei com gratidão. A nossa rotina de ensaios está bem puxada, nós não relaxamos e não nos acomodamos apesar de 27 anos juntos. A fantasia está totalmente dentro do enredo. É uma viagem essa roupa, ela sempre foi um sonho. Eu sonhava em vir com essas cores”, revelou Selminha Sorriso.
“Hoje a gente testou tudo que a gente ensaiou durante esse tempo todo e deu certo. Isso é sinal de que a gente está no caminho certo em busca da nota 10 para a nossa escola. Eu sou grato a Deus, aos meus orixás e à minha porta-bandeira Selminha. Esse ano completamos 27 anos juntos e 24 na Beija-Flor. A Beija-Flor é uma escola aguerrida, não é só uma escola de samba é uma escola de vida. O ensaio hoje foi positivo e estamos no caminho certo”, completou o mestre-sala.
Harmonia
A grande curiosidade do público e da crítica que acompanhou o ensaio técnico da Beija-Flor foi de analisar como a escola se comportaria em quesitos que anteriormente eram capitaneados por Laíla, hoje na Unidos da Tijuca. Em Harmonia, a escola mostrou canto contínuo ao longo do ensaio, mas em nenhum momento houve uma “explosão” do canto da comunidade. Atuação que, vale registro, atende ao que normalmente o regulamento pede, mas que ainda pode ter o canto ampliado até o carnaval.
Samba-enredo
Teve rendimento bem satisfatório, graças ao empenho e trabalho bem executado do carro de som da Beija-Flor. Neguinho, intérprete da escola há décadas, não esteve presente no treino da Deusa da Passarela na Sapucaí, mas foi muito bem substituído por Gilsinho Bakaninha, principal apoio da agremiação. O cantor assumiu a responsabilidade e foi muito bem durante os mais de 700 metros da Marquês. Bastante identificado com a agremiação, Bakaninha não conteve a emoção e foi às lágrimas ao fim do ensaio, certamente orgulhoso da primeira vez que defendeu a Beija-Flor como principal voz na Sapucaí.
“Foi uma emoção muito grande o que vivi hoje. Estar no carro de som do maior intérprete do carnaval de todos os tempos que é meu padrinho Neguinho da Beija-Flor pra mim é uma grande honra. É ele que me dá sempre os conselhos. Está com uma agenda muito corrida de trabalho, mas infelizmente ele pode estar presente. Já estava tudo preparado pra gente fazer o “feijão com arroz” caso ele não viesse. Hoje estou sem palavras pelo momento vivido. O canto da comunidade que representa tudo desse ensaio. A escola fez o que era pra ser feito: cantar com o coração. Estamos muito felizes mesmo”, comentou Bakaninha.
Bateria
Comandada por Mestre Rodney, a bateria da Deusa da Passarela, mais uma vez, jogou com o samba-enredo e fez uma apresentação que arrancou aplausos do público presente na Sapucaí. Destaque para a bossa do fim da segunda parte do samba, que levantou o público que apreciava o ensaio nas arquibancadas e frisas do Sambódromo.
“No ensaio de hoje, a nossa bateria passou perfeitamente. Vamos com 280 ritmistas e no dia vai ser isso mesmo que passou hoje na Avenida, tudo o que foi mostrado, a diferença mesmo vai ser só que no dia vai ter a fantasia. Foi um bom treino, agora é descansar pra fazer isso na Avenida”, explicou mestre Rodney.
Evolução
Outro quesito que havia muita expectativa sobre como iria se desenvolver com a saída de Laíla. Coordenado por Gabriel David, que puxou a escola em seu início de apresentação, o trabalho foi bem desenvolvido. Apenas uma leve oscilação no andamento da escola um pouco antes da chegada da bateria no terceiro módulo de julgamento, mas rapidamente ajustado. O movimento de entrada e saída da bateria no segundo recuo foi executado com perfeição.
A Deusa da Passarela encerrou sua apresentação com 73 minutos. Com uma homenagem aos seus 70 anos de história, a Beija-Flor será a quinta escola a desfilar no domingo de carnaval, na Marquês de Sapucaí.
Por Antonio Junior, Guilherme Ayupp, Dandara Carmo, Geissa Evaristo e Lucas Santos. Fotos: Magaiver Fernandes