O segundo dia dos mini desfiles na Cidade do Samba trouxe novidades e comprovou certezas dos último carnavais. A supresa foi a performance das escolas. O nível de quem vai desfilar na segunda-feira ficou mais alto, pelo menos, neste primeiro teste. Ainda teremos os ensaios de rua e técnicos para ter “certeza”. Como já era esperado, a Viradouro fez uma exibição de alta qualidade. A Verde e Rosa passou sacudindo o público. Com a força do samba e da bateria, a Portela também teve grande destaque. O Paraíso do Tuiuti valorizou a festa e levou para “pista” quase um desfile oficial. Já a Vila Isabel, com a reedição de “Gbalá”, fez uma apresentação tecnicamente perfeita. Abrindo o dia, a Mocidade mostrou que a relação do público com o samba é o trunfo para 2024. Abaixo, você pode conferir a análise de cada escola.
MOCIDADE: Zé Paulo virou a chave. Após ser injustamente penalizado no quesito Harmonia em 2023 o cantor chegou na Estrela Guia e caiu nas graças dos Independentes. A parceria com mestre Dudu funcionou bem demais. Apesar dos resultados nos dois últimos carnavais, a escola está feliz e confiante. Isso é inegável. Comandada pelo coreógrafo Paulo Pinna, a comissão de frente apresentou muita dança e movimentos sensuais, como pede o enredo. Grupo muito sincronizado e repleto de jovens. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo e Bruna, manteve o patamar elevado do último desfile. Ele muito solto e dando grito na hora que apresenta o pavilhão. Ela, um dos maiores talentos do carnaval, dançou demais, com pedaços coreográficos em cima do samba, mas sem perder a essência do quesito. * VEJA FOTOS
O mascote Castorzinho veio no tripé exibindo todo o seu carisma. A comunidade cantou com vontade o samba-enredo. Sempre impulsionada por Zé Paulo, que passeava pela escola. Sob comando de George Louzada, a ala de passistas deu seu show, inclusive, com belo figurino dos integrantes. Tudo acontecia muito bem, mas a escola bobeou na saída da bateria do espaço reservado. Ao entrar na pista, foi formado um grande clarão. É preciso treinar na rua para que isso não aconteça no dia oficial. Ainda tem tempo e vontade é o que não falta esse ano na agremiação.
PORTELA: A maior campeã do carnaval sofreu com o som do mini desfile. Por dificuldade com o carro de som, a escola aguardou mais de 20 minutos para tudo ser resolvido. O presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, desculpas pelo ocorrido. Obviamente, o clima foi afetado, principalmente, nos integrantes da direção. É injusto trabalhar tanto na quadra e na rua e ser prejudicado. Fora isso, Gilsinho foi pra luta e fez bonito. Tendo um dos melhores samba do ano, os portelenses cantaram e muito. O cantor mostrou todo seu talento conduzindo os portelenses, sempre com o suporte da bateria de mestre Nilo Sérgio. A Portela segue muito bem servida no quesito harmônico, além da evolução forte dos componentes. Não mais o calcanhar de Aquiles, a comissão de frente contou somente com mulheres, dançando com muita vibração e cantando o samba o tempo inteiro. * VEJA FOTOS
Destaque também para o casal Marlon e Squel. Dança já bem sincronizada, apesar de ser o primeiro ano da dupla. Ela com toda elegância nos movimentos e ele crescendo a cada ano que passa no carnaval. Tia Surica veio no tripé com a águia. O show de canto nas alas deu a tônica do mini desfile. Vale frisar o crescimento da musa Weny Isa que participou ativamente da exibição da escola. No quesito “musas” a Portela está muito servida com todas mulheres, sambistas de DNA raiz. No comando dos passistas, referência, Nilce Fran é sempre um capricho e sinônimo de samba no pé. A rainha Bianca Monteiro, como sempre, sambou e distribuiu carisma. A homenagem para Vilma Nascimento, que recentemente sofreu ataque racista, foi emocionante. A eterna porta-bandeira, o Cisne da Passarela, foi rodeada por bolas de gás, em forma de coração, e ovacionada pelo público. O portelense pode se animar demais com o Carnaval 2024. O passado do desfile de 2023 foi “apagado” para 2024.
VILA ISABEL: Com a reedição de “Gbalá”, a escola já sabe que terá canto e evolução mais tranquilos, afinal, a comunidade conhece a obra. A parte do Gbalá mexeu com os componentes. A apresentação foi uma das mais técnicas dos dois dias de mini desfiles. Nada para corrigir foi visto na escola do Morro dos Macacos, pelo contrário, os acertos foi diversos, principalmente, na exibição do casal Marcinho e Cris, a bateria e o trabalho de harmonia com o carro de som da agremiação. Impressiona a performance do primeiro mestre-sala e da porta-bandeira seja na dança, muito sincronizada, mas também com vibração. * VEJA FOTOS
O tripé teve a coroa da escola, o nome do enredo e crianças. Emocionou pelo simbolismo envolvido. Tinga segue “voando” na condução do samba. Parece vinho, melhora a cada ano que passa. Como falado a “Swingueira de Noel” deu show. Mestre Macaco Branco não pode estar presente, mas quando está tudo encaixado o trabalho flui sem a presença do líder. A rainha de bateria, Sabrina Sato, chegou em um carro conversível e com seu carisma ajudou a trazer o público para perto da Vila. O que foi visto na Cidade do Samba deixa no ar que é muito possível a escola brigar pelo caneco do Grupo Especial, que não vem há 10 anos. Se Paulo Barros acertar na plástica, como fez em 2023, vai ser difícil segurar. A conferir!
MANGUEIRA: A Verde e Rosa vem colhendo os frutos de rejuvenescer seus quadros, seja na bateria, comissão de frente, na parte plástica ou no casal de mestre-sala e porta-bandeira. O mini desfile calou a boca de abutres que desconfiavam do rendimento do samba-enredo que vai homenagear a cantor Alcione. Está longe de ser uma obra-prima, mas é repleto de vigor. Pode “contaminar positivamente o quesito”. Foi cantado a plenos pulmões pelos componentes. Fundamental ressaltar o trabalho dos cantores Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, além da bateria, que traz dois jovens e craques à frente dos ritmistas: Rodrigo Explosão e Taranta Neto. Foi um sacodão da Estação Primeira! A rainha Evelyn Bastos, como é de praxe, brilhou no samba no pé e no carinho com o povo. * VEJA FOTOS
O casal Matheus e Cintya foi impecável. Dança sincronizada e vigor de emocionar. Tem que sentir muito insensível para não sentir toda vibração e talento da dupla. A gestão da presidente Guanayra Firmino vem representando e muito o que é o mangueirense. Foi bonito ver os integrantes fantasiados e radiantes cantando o samba-enredo. Estreia muito boa dos coreógrafos da comissão de frente, Lucas Maciel e Karina Dias, que exibiram um grupo de jovens, dançando muito e realizando os movimentos em cima do samba. O aviso está dado: não descarte o “Jequitibá do samba”.
PARAÍSO DO TUIUTI: Quinta escola a se apresentar na Cidade do Samba, a escola de São Cristóvão praticamente fez um desfile oficial na pista. Após uma bela apresentação em 2023, que poderia render uma vaga no sábado das campeãs, o Tuiuti vem que vem para 2024. Em termos de estrutura de apresentação, sem dúvida, foi a melhor dos dois dias, destaque para os figurinos dos componentes. A agremiação, que certamente é a que possui menor recursos no grupo, não está nem aí pra isso. É feita por sambistas e nunca vai pequena, seja em componentes ou figurinos, ou meia-boca quando é chamada para exibições. * VEJA FOTOS
A comissão de frente levou o figurino deste ano, decisão espetacular para presentear o público presente. Em uma apresentação perfeita, o casal Raphael e Dandara estava fantasiado e dançou demais o tempo inteiro. O tripé com São Sebastião parecia mais uma alegoria. O samba-enredo, um dos melhores do ano, teve ótimo rendimento. A equipe do carro de som segurou a barra, já que o intérprete Pixulé não conseguiu chegar a tempo do mini desfile, pois estava na festa dos sambas em São Paulo. Muitas vezes questionada, a harmonia da escola funcionou bem, os componentes cantaram o tempo inteiro. Com o craque na frente dos ritmistas, a bateria é o ápice da excelência do ritmo. Mestre Marcão é muito craque, a bossa dos marinheiros é espetacular. Trabalho primoroso. E o Tuiuti ainda tem a Mayara Lima, a principal rainha do momento atual do carnaval. O “acredita, Tuiuti” está muito vivo.
VIRADOURO: Mini desfile com o “padrão Viradouro”, ou seja, com perfeição em tudo. É chover no molhado como a escola de Niterói é na pista, seja da Sapucaí, Amaral Peixoto ou da Cidade do Samba. É um show de técnica em todos os quesitos. O trabalho incansável da gestão Calil transformou a agremiação. Com os gênios do quesito, Rodrigo Negri e Priscila Mota, a comissã de frente já poderia ser apresentada no desfile oficial. Vigor surreal, muita dança e ainda o ápice com uma integrante sendo alçada ao ar e simulando uma cobra. Impactante! * VEJA FOTOS
O casal Julinho e Rute, um dos mais experientes, exibiu o talento que faz da dupla a melhor atualmente do Grupo Especial. Rute, com seus giros, parece que vai voar. Ele é um craque da dança, dos gestos e da cumplicidade com sua parceira. Sem dúvida, Julinho é um dos melhores da história no quesito. A rainha Erika Januza segue brilhando a frente da bateria e participando ativamente do dia a dia da escola. Mestre Ciça se adaptou ao andamento pedido pelo samba-enredo e tem totais condições de buscar a nota 40, que ficou faltando nos últimos anos. Parte harmônica foi espetacular, conduzida pelo craque Wander Pires. Os componentes sabem que possuem um dos melhores sambas do ano e isso impulsiona demais o canto e a evolução. Fechando o carnaval em 2024, como fez em 2023, e tendo todos esses “ingredientes” é esperar para ver se na pista vai “alafiar” (significado confirmação) o “pra vitória da Viradouro”.