Por Gabriel Gomes, Luan Costa, Juliana Henrik e Rhyan de Meira
Por volta das 5h40 da manhã deste sábado, a Unidos do Viradouro definiu o samba que vai embalar seu desfile no Carnaval 2026. A obra vencedora, que homenageia o mestre de bateria Ciça, é assinada pelos compositores Cláudio Mattos, Renan Gêmeo, Rodrigo Gêmeo, Lucas Neves, Rodrigo Rolla, Ronaldo Maiatto, Bertolo, Silvio Mesquita, Marcelo Adnet e Thiago Meiners. A vermelho e branco de Niterói será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, pela Marquês de Sapucaí, com o enredo “Pra cima, Ciça!”, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon e pelo enredista João Gustavo Melo. A final, considerada uma das mais emocionantes da história da escola, teve clima de grande festa popular, com a quadra lotada e a comunidade entoando em coro os versos do samba campeão. * OUÇA AQUI O SAMBA DA VIRADOURO PARA 2026

O compositor Cláudio Mattos destacou a emoção da noite: “É a minha sétima vitória aqui na escola. Eu cresci aqui. E, sendo bem sincero, nunca vivi uma final tão emocionante na minha vida. A escola inteira cantando o samba junto comigo… isso nunca tinha acontecido antes. Fiquei muito feliz de verdade, foi muita emoção”.
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Cláudio lembrou ainda do processo de criação: “Durante todo o processo de feitura, da gravação, eu tive várias partes preferidas. Na metade da segunda, eu já sentia que o samba tinha força. Mas quando chegou na quadra, o refrão foi absurdo, explodiu demais”.
Estreando entre os campeões da Viradouro, o compositor e humorista Marcelo Adnet não escondeu a alegria: “Primeira vitória na Viradouro, essa escola maravilhosa. É muito gostoso quando a gente luta, luta, tenta, tenta e consegue. Estou feliz pra caramba. Foi uma história merecida. Hoje é comemorar um pouco, porque é muito bom fazer uma homenagem e ver esse desfecho do palco, com a comunidade apoiando o nosso samba”.
O compositor Thiago Meiners celebrou mais uma conquista marcante em sua trajetória na Viradouro. Integrante de uma parceria formada por torcedores da escola, ele destacou o caráter especial do samba de 2026, que homenageia o mestre Ciça.
“Para nós, é indescritível. Já vencemos outras vezes na Viradouro, mas cada samba tem sua particularidade. Este é ainda mais significativo, porque, pela primeira vez, toda a parceria é formada por vinadorenses de coração. Estamos muito felizes e emocionados, especialmente pelo que vivemos hoje na quadra. Foi imensamente gratificante”, afirmou.
Segundo Thiago, o ponto alto da obra é o refrão principal, que rapidamente conquistou a comunidade: “Não esperamos a saudade pra cantar. Se eu for morrer de amor, que seja no samba.” Para ele, a força da mensagem traduz a relação da Viradouro com o carnaval e explica a identificação imediata do público.
Com a vitória, Meiners chegou ao quinto samba-enredo assinado na escola. Entre eles, estão sucessos como Rosa Maria e Roboboi. Ainda assim, a emoção se renova a cada conquista. “O próximo é sempre o mais especial. Este tem um sabor único justamente por ser dedicado ao Ciça e por reunir apenas torcedores da escola”, ressaltou.
Um dos momentos mais marcantes da noite foi quando o próprio homenageado subiu ao palco antes mesmo do fim da disputa, em meio à apresentação do samba da parceria de Meiners. A cena emocionou os compositores. “No início pensamos que fosse uma menção a todos os concorrentes. Mas, ao observarmos a reação da Priscilla e do Rodrigo, percebemos que se tratava de uma aclamação da escola. Foi inestimável para nós”, contou Thiago.
Mestre Ciça: emoção em ser enredo
O homenageado da Viradouro, mestre Ciça, falou sobre a responsabilidade de ter sua trajetória transformada em enredo: “Rapaz, você imagina, né? Esse enredo, eu como sambista, hoje, numa final, com a responsabilidade de três sambas… A emoção é quase todo dia. Mas tenho certeza que a escola escolheu um grande samba. Estou vivendo um momento único da minha vida e da minha história. Nunca imaginei”.
Ele destacou ainda os momentos mais marcantes até agora: “O dia do anúncio e o lançamento do enredo na Cidade do Samba mexeram muito comigo. Meu pai era apaixonado por carnaval, ele ficaria deslumbrado com tudo isso”.
Sobre a bateria, Ciça adiantou: “Já estamos ensaiando umas coisinhas escondidas, preparando surpresas boas. A ideia é mesclar bossas antigas com novidades. E vamos trazer amigos, outros mestres e diretores, para dividir a avenida comigo”.
Marcelinho Calil: ‘O Ciça merece’
Para o diretor executivo Marcelinho Calil, a escolha do samba representa mais uma etapa da caminhada rumo ao título:
“Hoje, essa lenda viva, que até então era apenas um texto, passa a ser também uma voz. Se Deus quiser, vai levar a Viradouro a mais um título. O nosso homenageado merece, a escola merece. Agora, falta um detalhe: trabalho. É isso que vai nos levar às primeiras colocações”.
Marcelão Calil: ‘Não vamos medir esforços para fazer um carnaval brilhante’
O patrono Marcelão Calil exaltou a escolha de Ciça como enredo: “Eu acho que é a escola que tem que agradecer ao Ciça, porque temos um enredaço com chances de título. Ele merece, o samba merece, o carnaval merece. Não vamos medir esforços para fazer um carnaval brilhante”.
Tarcísio Zanon: ‘nostalgia e modernidade’
O carnavalesco Tarcísio Zanon ressaltou a emoção de trabalhar com um enredo vivo:
“É um ano muito significativo: 80 anos da escola, 70 anos do Ciça, 55 anos de avenida. Existe uma nostalgia, um revival moderno. O desafio foi transformar o ritmo em visual. O Ciça não é só música, ele também é imagem, é dança. O público pode esperar um desfile moderno e emocionante”.
Wander Pires: honra em cantar Ciça
Intérprete oficial da escola, Wander Pires destacou a responsabilidade da homenagem:
“É uma emoção muito grande, um dos maiores desafios da minha vida. Eu sou fã do Ciça, ele é meu ídolo. Sempre sonhei em trabalhar ao lado dele. Agora me sinto realizado. É uma honra imensa”.
Enredista João Gustavo: ‘privilégio inédito’
O enredista João Gustavo Melo ressaltou a originalidade do projeto:
“Foi um privilégio imediato. Sempre será inédito homenagear um mestre de bateria em atividade. O desafio foi condensar tanta história em um desfile. Mas conseguimos. Esse enredo vai ficar para sempre na história da Viradouro”.
Harmonia e música afinadas
O diretor de Harmonia, Dudu Falcão, destacou a força da comunidade:
“Aqui é trabalho de time. O objetivo é sempre ter o chão da escola cantando perfeitamente. Esse é o segredo da Viradouro”.
Já o diretor musical Hugo Bruno frisou o peso emocional do enredo: “O samba pede emoção redobrada. Estamos preparando um trabalho especial para honrar o Ciça”.
Comissão de frente promete impacto
Responsáveis pelas últimas aberturas impactantes da Viradouro, os coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri também avaliaram o desfile de 2025 como um marco. Para eles, a comissão de frente do Malunguinho cumpriu a missão de traduzir o enredo logo nos primeiros minutos de apresentação.
“Eu sou apaixonada pela comissão do Malunguinho. Ela trouxe muita dramaturgia, o enredo estava todo ali. Essa é uma característica do nosso trabalho: apresentar ao público, já na largada, o que será o desfile como um todo. Chegamos chegando, e a abertura realmente foi marcante. O samba era muito forte e nos ajudou bastante”, destacou Priscilla. Rodrigo completou: “Ficamos com a sensação de dever cumprido, porque tudo saiu como planejado e o resultado foi maravilhoso. Mas agora já estamos em uma nova etapa: é hora de escolher mais um samba e preparar outra abertura impactante. Hoje a ficha cai de verdade: deixamos a teoria para trás e começamos a dar cor e vida ao processo”.
A parceria com o carnavalesco Tarcísio Zanon é apontada pelos dois como um diferencial. “O Tarcísio é um príncipe, encantador. Ele está sempre conosco, trocamos muito, nos divertimos bastante. O carnaval traz muita pressão, mas conseguimos lidar com leveza no dia a dia. Ele gosta de estar presente em todas as decisões, e isso nos dá tranquilidade. É uma parceria de muito carinho”, afirmou Priscilla.
A preparação da comissão para 2026 ganha ainda mais significado pelo enredo que homenageia mestre Ciça. A emoção é visível nos discursos. “É um presentão. Se não estivéssemos na Viradouro, eu estaria chateada de não participar dessa festa. O Ciça representa o próprio carnaval. A comunidade recebeu o projeto de coração aberto, e isso nos motiva demais. Conviver com ele no dia a dia é inédito: ele vai ao barracão, acompanha tudo de perto. É como se o enredo estivesse dentro do projeto. Ninguém nunca viveu algo assim”, disse Priscilla.
Rodrigo reforçou o privilégio de compartilhar o processo com o homenageado: “O mais bacana é que ele participa, opina, conversa conosco sobre o projeto. Estar ao lado dele nesse momento é maravilhoso. É um ídolo para nós”.
Julinho e Rute: casal motivado
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Viradouro, Julinho e Rute, também destacou a importância da temporada de preparação para manter o alto nível alcançado em 2025. No último carnaval, eles conquistaram os 40 pontos possíveis e receberam premiações individuais, consolidando o posto de referência no segmento.
“Conquistar o êxito não é fácil, mas manter é ainda mais desafiador. A gente se cobra muito e, por isso, já estamos ensaiando desde junho para corrigir detalhes que poderiam ter sido melhores”, afirmou Rute. Julinho complementa: “Foi um carnaval promissor. Saímos felizes pelo reconhecimento e pelas notas máximas, mas tudo zera quando começa o novo enredo. Agora é outra história e tem um gosto ainda mais especial por homenagear alguém que é ícone do carnaval e, ao mesmo tempo, um amigo que admiramos dentro e fora da avenida”.
A relação próxima com o carnavalesco Tarcísio Zanon é outro ponto que o casal valoriza. Segundo Rute, o artista se tornou “o maior carnavalesco da atualidade”, combinando talento e humildade. “O Tarcísio sempre pergunta nossa opinião antes de apresentar o desenho e discute ideias conosco. Isso se estende também ao Fernando Magalhães, que executa nossas fantasias, e à direção de carnaval, com o Marcelinho e o Alex. Todos nos dão liberdade para sugerir ajustes que favoreçam a dança, sem perder a essência do projeto. Esse diálogo é fundamental, ainda mais agora que o regulamento exige que o casal esteja dentro do enredo”, explicou.
Outro desafio será a estreia da cabine espelhada, com jurados posicionados dos dois lados da pista. Para Julinho, a novidade deve valorizar a dança: “Antes, a gente direcionava quase toda a apresentação para um jurado só. Agora teremos a chance de mostrar em 360 graus, o que beneficia tanto a avaliação quanto o público, que verá uma apresentação mais aberta e dinâmica”.
O enredo também inspira o casal a desenvolver passos e coreografias especiais. “O Ciça é a própria definição de carnaval. Ele representa inovação sem perder a essência. Eu e a Rute seguimos essa mesma linha: inovar sem deixar de lado a tradição”, ressaltou Julinho.
A comunidade deixou a quadra em festa ao amanhecer, embalada pela obra que promete emocionar o público.
Como passaram os sambas na final
Parceria de Lucas Macedo: O primeiro samba da noite foi assinado por Lucas Macedo, Diego Nicolau, Jefferson Oliveira, Vinicius Ferreira, Richard Valença, Miguel Dibo, Orlando Ambrósio, Hélio Porto, Aldir Senna e Wilson Mineira. A defesa ficou a cargo de Zé Paulo, que mais uma vez mostrou entrega e excelência. Durante os 30 minutos de apresentação, a obra apresentou belas variações melódicas e trechos bastante inspirados. No entanto, já perto do fim, foi possível sentir uma queda no embalo da torcida, que começou bastante animada. Um dos pontos altos foi o bis antes do refrão, quando a melodia trouxe de volta o clássico samba-exaltação da Estácio de Sá: “Hoje a Furacão prova seu amor // Eternamente, Professor!”. Outro momento marcante veio logo depois, com versos de forte impacto coletivo: “Êêêêê… tá de alma lavada o Caveira! // Êêêá… é macumba de Alafiá! // No seu comando, o rufar é nossa voz // Serei sempre por você // Como sempre foi por nós”. No geral, a apresentação foi intensa e iniciou bem a disputa.
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Parceria de Mocotó: O segundo samba da noite foi assinado por Mocotó, PC Portugal, Arlindinho Cruz, J. Lambreta, André Quintanilha, Rodrigo Deja, Ronilson Fernandes, Renato Pacote, Reinaldo Guimarães e Bira Fernandes. Quem assumiu a linha de frente no microfone foi Wandinho Pires, filho do intérprete oficial da escola, Wander Pires. Mostrando personalidade, o jovem conduziu a obra com energia e firmeza, bem acompanhado por Juan Briggs e pelo time de apoio. Do início ao fim, a apresentação manteve o clima em alta. O samba mostrou força, vibração e ligação direta com o enredo em homenagem ao Mestre Ciça. Em alguns trechos, a emoção tomou conta, trazendo variedade à obra e provando que ela não se limitava a uma linha repetitiva. Na quadra, a torcida foi um espetáculo à parte: levou um mar de bandeiras e réplicas de instrumentos, além de manter um canto forte e cheio de entusiasmo. Os refrões foram os grandes momentos da apresentação, especialmente o principal, que fez o público acompanhar atentamente. Nos momentos de bossas da bateria, ficava evidente o quanto o samba se encaixava com a escola.
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Parceria de Claudio Mattos: O último samba da noite trouxe a assinatura de Claudio Mattos, Renan Gêmeo, Rodrigo Gêmeo, Lucas Neves, Rodrigo Rolla, Ronaldo Maiatto, Bertolo, Silvio Mesquita, Marcelo Adnet e Thiago Meiners. Na interpretação, Pitty de Menezes brilhou: à vontade no palco, conduziu a obra com segurança e foi peça-chave para transformar a apresentação em um verdadeiro momento de catarse coletiva. Desde o início da disputa, esse samba já carregava o rótulo de favorito. Na final, confirmou todas as expectativas. Antes mesmo de começar, era um dos mais aguardados pelo público e, quando entrou em cena, mostrou a que veio — no popular, foi um sacode daqueles. A resposta da quadra não deixou dúvidas: o público cantou cada verso do início ao fim, com entusiasmo poucas vezes visto antes. A torcida deu show com balões em formato de caveira, bexigas e luzes. Os segmentos da Viradouro também engrossaram o coro, com destaque para a rainha de bateria, Juliana Paes, que se entregou ao canto com a mesma empolgação da comunidade. O personagem deste carnaval, mestre Ciça, foi ao palco durante a apresentação e deixou clara sua preferência. Aclamação total.
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