O feriado da Independência foi comemorado na escola paulistana que tem no próprio hino o orgulho de ter as cores do Brasil. Neste domingo (07 de setembro), a Unidos do Peruche consagrou o Samba 7, da parceria formada por Dennis Patolino, Parcio Anselmo, Victor 7 e Jamelão Netto para embalar o desfile de “Oi… esse Peruche lindo e trigueiro… terra de samba e pandeiro”, enredo assinado pelo carnavalesco Chico Spinosa que será o sexto a desfilar no Grupo de Acesso II – que se apresenta uma semana antes do carnaval, no dia 07 de fevereiro de 2026. Presente em data tão importante para a Filial do Samba, o CARNAVALESCO entrevistou personagens importantes a respeito da escolha da canção na eliminatória interna.

Emoção, modernidade e naturalidade
Um dos compositores campeões, Victor 7 não escondeu o quanto está feliz pela vitória antes de citar como a composição foi feita: “Eu estou muito emocionado. O processo foi muito bacana e muito rápido também. A gente se encontrou ao vivo, finalizou a reunião e arrematou os finalmentes do samba no WhatsApp. Nós fizemos duas reuniões presenciais: na primeira, nós fechamos o refrão; na segunda, foi até o começo do refrão do meio. Aí, do refrão do meio até o fim, nós fomos em videochamada”, destacou.
O famoso aplicativo de mensagens instantâneas também se fez presente na vitória: “Nós usamos o WhatsApp para isso, e o grand finale, aos 45 do segundo tempo, a gente releu a sinopse e ficou marcado o lance de ‘Aquarela Brasileira ‘como o segundo hino nacional. A gente trouxe esse final pensando nisso, para coroar e fechar esse samba fechar daquele jeito, fechar lá em cima para chegar no refrão com tudo”, destacou.
O mesmo aplicativo foi citado por Dennis Patolino, outro compositor campeão: “Primeiro, a gente tentou se encontrar. Pintaram algumas ideias, e outras partes vieram mais com a ajuda da tecnologia – sobretudo os grupos no WhatsApp. Mas o mais importante foi o movimento do universo, que fez com que tudo se encaixasse perfeitamente. Quando a gente veio entregar o samba aqui, antes da disputa, nós já estávamos felizes com a obra que a gente fez. Isso já foi um grande aditivo para a gente conseguir fazer o trabalho, estar feliz com a obra. O resultado veio agora, mas a felicidade é mais antiga”, declarou.
Dennis, por sinal, insistiu no quanto a inspiração para a criação do samba foi especial: “A gente pensou em um monte de coisa, só que o samba foi se apresentando para a gente. Fomos vendo o que ia encaixando e o que era bacana, fomos ajustando e a gente só foi colocando as coisas no lugar. Por isso que deu certo a parada”, comemorou.
Ancestralidade em alta
Os campeões, de maneira indiscutível, já têm certa tradição na Filial do Samba: “Teve tudo que o samba nos proporcionou e teve um encontro com esse cara aqui, que é neto do Jamelão, na única escola em São Paulo que o Jamelão cantou. O samba fez com que a gente se encontrasse, e fazia muito sentido fazer um samba no Peruche, numa escola que tem uma ancestralidade especial. O Vitor já é campeão em outras escolas, eu também já sou campeão aqui no Peruche – já tenho três sambas aqui na casa. Todo esse movimento bacana do universo, já que a gente foi recebendo as paradas psicografada, conspiraram pra essa vitória. A união com esse cara que veio para somar, ser o nosso canário, ajudar na composição e colocar a cerejinha do bolo que já estava acontecendo de uma forma bonita”, comentou.
Dennis foi campeão nas eliminatórias do Peruche em 2013 (“O povo da floresta está em festa. A tribo da Peruche vai passar”) e 2014 (“A beleza é imperfeita e a loucura é genial”), e o avô do outro nome citado foi o intérprete perucheano em 1988 (ao lado de Eliana de Lima), 1989, 1994 e 1998.
O avô da lenda
Tomaz José dos Santos guarda a ancestralidade no último nome próprio: da segunda geração na árvore genealógica de José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão Netto é outro dos compositores da obra campeã no Peruche. Ele próprio, que além de escrever foi o intérprete da obra na eliminatória perucheana, destacou a força que nomes que não costumam aparecer na lista de vencedores em escolas de samba com frequência possuem: “Quando a gente junta ancestralidade com sabedoria e pessoas campeãs do carnaval de São Paulo, é isso que acontece. Assim como o Peruche, está tentando voltar para o carnaval, tem muitos compositores que não tinham oportunidade de chegar e ser finalista. Essa competição escolheu um samba que encaixa com as premissas da escola – e eu aproveito para parabenizar o presidente Zóio e toda a diretoria da escola”, apontou.
Mesmo vindo do Rio de Janeiro, Jamelão Netto já possui o verde, amarelo e azul no coração – e já vislumbra o futuro ao lado da Filial do Samba: “A gente veio, mas não veio de passagem: veio para ficar. A gente veio para construir um trabalho para levar o Peruche de volta para o lugar merecido dela, que é o Grupo Especial. Sei o trabalho árduo, a gente vai sentar com o presidente, fazer algumas parcerias, trazer gente para a quadra. Não adianta só o samba ser gravado, ser campeã e colocar dentro da gaveta. É isso que essa parceria quer: ninguém está aqui pelo dia de hoje, estamos aqui para ajudar a escola e para colocar cada vez mais o Peruche de volta ao maior lugar do palco que é o carnaval da cidade de São Paulo”, comentou.
O compositor não deixou de elogiar os demais parceiros na obra campeã: “O Peruche é ancestralidade, garra, resistência. Quando a gente uniu forças para pensar na estratégia de como apresentar isso, veio um samba totalmente psicografada. Refrãos e primeiras partes foram todas encaixadas. O Vitor é um craque da Harmonia, o Patolino é um craque da letra, eu e o Párcio também fomos encaixando algumas coisas”, apontou.
Como não poderia deixar de ser, Jamelão Netto também citou o histórico parente: “Meu avô foi hors concours nesse lugar de colocar a ajeitar os sambas para a avenida. Se eu fizer um terço do que ele fez, eu sou o sucessor do legado. Ele passa o bastão para mim e eu venho no Peruche de coração, a convite do Patolino e do Victor para a gente criar uma nova história”, prometeu.
Preferências
Perguntados sobre o trecho favorito da canção que eles próprios criaram, os compositores mostraram um pensamento semelhante. Victor 7 foi sucinto: “Minha parte favorita é o ‘fecha’ do samba, o ‘quando o repicar dos tamborins anunciar que a Filial em aquarela vai passar, é um pouquinho de Brasil iaiá’. É o fecho do samba”, pontuou.
Jamelão Netto concordou, mas foi além: “Uma melodia maravilhosa essa preparação para o refrão, melodia de sambas campeões do carnaval do Brasil. Depois disso, a gente explode. Tem o primeiro refrão de cima, com a capoeira para dar um molho no samba, isso tudo foi pensado para tirar a composição engessada da monotonia reta. Nós vamos brincar, vamos botar um molho, trazer a brincadeira para o Carnaval. Esse samba vai acontecer na avenida. Não é à toa que a Harmonia escolheu esse samba. Vamos para cima! No carnaval de 2026, vamos tirar o Peruche desse lugar e voltar para onde ela merece”, explicou.
Irreverente, Dennis escolheu outro ponto: “A minha parte favorita no samba depende do dia! Mas, hoje, é ‘o caldeirão vai ferver, minha Peruche chegou, são 70 anos de amor’”, cantou.
Obras elogiadas
Foram três finalistas na quadra perucheana, na Zona Norte de São Paulo. O Samba 7, vencedor, foi o último deles. O primeiro a se apresentar foi o 56 (com torcida maciça no local), seguido pelo 13.
Todas as canções, entretanto, ganharam menção dos entrevistados pela reportagem. Alessandro Lopes, popularmente conhecido como Zóio, trouxe uma versão mais macro da eliminatória como um todo: “Ficamos bastante felizes com as eliminatórias. Chegaram 13 obras para nós, foi uma boa surpresa – até pelo pouco tempo que nós tivemos após o lançamento do enredo para a entrega dos sambas, nesse ano nós tivemos um tempo mais curto. E, das 13 obras, ficamos felizes com a qualidade de tudo que chegou: chegaram pelo menos uns seis sambas com condições de estar na final. Tivemos que escolher três, e o que se consagrou campeão eu tenho certeza que vai representar bem a nossa Filial do Samba no carnaval tão especial de 70 anos”, comemorou.
Dois nomes experientíssimos no carnaval paulistano e novatos na Unidos do Peruche também gostaram do que ouvira. Agnaldo Amaral, histórico intérprete do carnaval de São Paulo, foi um deles: “Tinham treze sambas concorrentes, mas esses três sambas que ficaram são os que chegaram mais perto da proposta do carnavalesco – e o vencedor, obviamente, está ainda mais perto do que o Chico quer. A gente realmente queria sentir a pulsação aqui na quadra junto com a bateria e estamos felizes com o que vimos. Vai dar bom, estamos contentes com o que vimos. Qualquer um dos três que desse a gente faria um trabalho legal, e com o vencedor não vai ser diferente. Vamos ver se a gente consegue levar a Unidos do Peruche para o grupo de cima. Ou melhor: conseguir não, nós vamos levar o Peruche para os grupos de cima – até chegar no Especial. Com as bênçãos do papai”.
Chico Spinosa, também começando trajetória na Filial do Samba, gostou da diversidade que encontrou entre os poetas perucheanos: “Eu fiquei bem surpreso com a Unidos do Peruche. Gostei muito do que eu encontrei em relação aos compositores. A gente encontrou compositores mais raiz, outros mais modernos… vários deles são muito talentosos e vão fazer carreira, não tenho dúvida. Eu estou muito contente com o resultado. Nós tínhamos três grandes sambas para este carnaval – e é claro que o vencedor é um deles. É um carnaval que eu quero uma brincadeira em cima do pandeiro, acho muito importante destacar isso. E queremos que o público goste, que a escola vá junto. Eu estou chegando na escola, mas eu sou pé quente. Cheguei com sambas interessantes”, destacou.
Desde a tarde
Como tradicionalmente acontece em escolas, a final de samba enredo foi a cereja do bolo de um dia repleto de atividades. Na Zona Norte paulistana, os trabalhos foram abertos com o Pagode da Bateria. O Grupo Filial do Samba, com históricos nomes da escola, também se apresentou.
Após o esquenta da Rolo Compressor, bateria da agremiação comandada por mestre Azeitona, os segmentos também tiveram vez: apresentaram-se os casais de mestre-sala e porta-bandeira, a comissão de frente, a Ala das Baianas e a Velha Guarda.
Um dos momentos mais emocionantes da noite, entretanto, foi uma série de coroações. Não apenas para a corte da bateria, mas de toda a escola. Tatá Soares, nova rainha da Rolo Compressor, estava nitidamente emocionada – e, em mais de um momento, seja no palco ou no chão da quadra, foi vista às lágrimas. Na corte da Rolo Compressor, também estão a rainha juvenil Dandara Natália, a imperatriz Carmen Reis, a madrinha Cristiane Miyazaki e o Passista de Ouro Emerson Fernandes. Não foram só elas, entretanto, que receberam distinções: Paulinha Rodrigues é a madrinha da Ala Musical e Lena Ishii é a musa da escola.