O desfile mirim da Liga-SP, realizado pela primeira vez no ano de 2025 no Dia das Crianças (12 de outubro), foi um marco para o samba paulistano. Quem diz isso não são apenas os impressionantes números que o evento teve logo no ano de estreia: personalidades das escolas de samba paulistanas celebraram tudo que aconteceu na Fábrica do Samba. Para entender o impacto do desfile mirim e o quanto tal festividade inaugura uma nova era na folia de Momo na cidade, o CARNAVALESCO conversou com personalidades de escolas de samba de São Paulo.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Elogios unânimes: a começar pela organização

Todos os ouvidos pela reportagem valorizaram a iniciativa da Liga-SP em realizar um desfile mirim. Como principal mandatário de uma agremiação, Camilo Augusto Neto, presidente do Amizade Zona Leste, destacou não apenas a formação de novos sambistas; mas, também, a organização da entidade: “É um projeto maravilhoso da Liga-SP! Além de tudo, a Logística é tranquila porque a Liga-SP está cada vez mais à frente nas questões operacionais. O desfile é maravilhoso, a Logística é maravilhosa. E agora, nesse desfile mirim, está acontecendo a mesma coisa que acontece nos desfiles oficiais. É uma organização muito grande – até os ônibus estão chegando no horário. Está tudo muito perfeito”, elogiou.

Espaço para formação

Sérgio Henrique Cândido, popularmente como Serginho, mestre da Bateria do Zaca – grupo de ritmistas da Acadêmicos do Tucuruvi, foi um dos entrevistados a destacar o quanto a iniciativa da Liga-SP foi bem vista por todos do universo carnavalesco: “É incrível isso que está acontecendo aqui hoje. Era impensável pensar que as escolas de samba iriam se reunir para fazer um desfile mirim até outro dia. Vi muitas baterias fazendo bossa, por exemplo… os moleques são demais! Que isso continue e que seja a primeira de muitas e muitas vezes”, destacou, aproveitando para exaltar ainda mais os pequenos ritmistas.

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Rei Momo da Corte do Carnaval 2025 e passista do Vai-Vai, Sandro Camargo preferiu falar sobre o quanto a festividade pode gerar resultados no futuro – sem esquecer da geração dele próprio: “A festa está linda! Esse desfile que está acontecendo aqui hoje é muito importante. É um legado que está sendo construído. Hoje, nós estamos aqui – e, amanhã, serão eles. É importante a gente saber de onde a gente está vindo e quem veio antes para que a gente possa estar aqui hoje e perpetuar esse legado. Tudo isso é muito importante para nós e ainda mais para eles”, destacou.

Hoje inspirando o amanhã

Rogério Figueira, popularmente conhecido como Tiguês, diretor de carnaval do Império de Casa Verde, utilizou grandes personalidades da própria escola para pensar no amanhã: “A Liga-SP está de parabéns, é uma iniciativa que planta algumas sementes lá para frente. Eu falei lá na nossa escola-mirim, no Império do Amanhã, que amanhã o Tiguês não vai estar, o Zoinho não vai estar, a Theba não vai estar, o Serginho não vai estar. Quem estará são os frutos das sementes que estamos plantando nesse momento – e tem hoje como o auge. É de extrema importância deixar esse legado, fazer com que as escolas e o carnaval cresçam. Que a gente não perca essa cultura nunca! Foi uma festa muito bonita, a gente viu um número enorme de crianças e de pais empolgados. A gente espera que seja o primeiro de muitos e eternos eventos carnavalescos que a gente vai ter”, nomeou.

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Além da autocitação, é importante destacar que Zoinho é o mestre de bateria da Barcelona do Samba (bateria imperiana); Theba Pitylla é a rainha dos ritmistas; e Serginho é Sérgio Luís, diretor de Harmonia da agremiação.

Gestão elogiada

Rubens de Castro, mestre-sala da Dragões da Real, também teve uma visão macro sobre o desfile mirim: “Eu já acompanhei várias gestões, e o que estão fazendo com a Liga-SP nessas últimas gestões, do Sidnei Carrioulo para frente, é algo surreal. Eles não estão preocupados apenas com o crescimento per capita do carnaval, mas também com a semente do carnaval, com o bem-estar do sambista, fazendo com que a Prefeitura fizesse reforma que há anos não faz no Anhembi – tratando os banheiros, respondendo perguntas e críticas sem medo, pôr a cara à tapa. Os presidentes dessa última geração que estão em atividade, ao meu ver, estão de parabéns. Eles estão preocupados não só com o sambista enquanto clientes ou turistas: eles estão fechando todas as amarras do nosso Carnaval. São Paulo vem para ser um dos maiores carnavais do mundo”, vislumbrou.

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Eleito pela primeira vez à presidência da Liga-SP em 1999, Sidnei Carrioulo Antônio, presidente do Águia de Ouro, teve três períodos à frente da instituição. Além dele, Robson de Oliveira, Alexandre Marcelino Ferreira e Paulo Sérgio Ferreira comandaram a entidade.

Atualmente, organizadora do carnaval de São Paulo é Renato Remondini, popularmente conhecido como Tomate – que também falou sobre o desfile mirim.

Inícios

A reportagem também perguntou a cada um dos entrevistados qual foi o começo de cada um deles no mundo do carnaval. Tal questão traz uma pluralidade imensa que traz a reflexão sobre os diversos caminhos que um sambista pode seguir.

Sandro, por exemplo, é um abnegado do samba desde pequeno: “Eu comecei com seis anos de idade, ganhei uma medalha em um concurso de samba na cidade onde eu morava, em Embu das Artes. Desde então, eu não parei mais. E, por incrível que pareça, não tem ninguém que me levou para o carnaval em relação a acompanhar os desfiles. Eu tive um pouco de persuasão, digamos assim, do meu irmão. Ele assistia os desfiles do Vai-Vai e acabou me levando uma vez na escola. Ele me ensinava os enredos e tocava cavaquinho, também. Eu acabei acompanhando-o nessa questão do aprendizado dele enquanto músico – e eu, por consequência, comecei a acompanhar. Foi assim que eu comecei, assistindo na televisão, até eu falar que queria desfilar – e, desde quando que eu comecei, há quinze anos atrás, não parei mais”, lembrou.

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Embu das Artes é uma cidade da Grande São Paulo que fica à sudoeste da capital paulista. Mesmo sendo vizinha do maior município da América do Sul, a cidade está mais de trinta quilômetros distante da Praça da Sé, marco-zero de SP.

O encanto de Rubens pelo carnaval começou por conta de um dos melhores sambas da história do carnaval paulistano: “O meu início no carnaval foi com a minha família, na Mocidade Alegre – que, hoje, é Velha Guarda de lá. Foi em 1979, ainda como criança. Enquanto todo mundo cantava “dunga tará sinherê”, eu estava lá vendo o último ensaio deles. ‘Desmaiei’ – e, quando voltei, amei o carnaval. Vim conhecer o Carnaval como quesito já aos 23 anos, em uma brincadeira de imitar o primeiro mestre-sala da época. E, a partir dali, eu virei mestre-sala de carnaval”, relembrou.

O samba citado é “Embaixada de Bambas e Samba – A Festa do Povo”, de 1980, tido por muitos como o melhor da história da Mocidade Alegre – e sempre cantado e relembrado pela agremiação.

Fundado em 1995, o Amizade Zona Leste ainda não existia quando Camilo começou no mundo da folia em uma tradicionalíssima coirmã: “O ‘Camilinho’ começou com oito anos de idade, na Bateria de Bamba [bateria da Nenê de Vila Matilde]. Comecei criança lá e até hoje estou no samba”, destacou.

Beira do campo

Chamou atenção da reportagem uma expressão que dois dos entrevistados utilizaram: batucada de beira do campo. Basicamente, tal expressão denomina os ritmistas que acompanham times de futebol de várzea – origem de escolas de samba tradicionalíssimas Brasil afora, como Mocidade Independente de Padre Miguel, Águia de Ouro e Colorado do Brás.

Um dos entrevistados que citou tal origem no samba foi Serginho: “Minha família já é de escola de samba – já está na quarta ou quinta geração. A gente já nasceu dentro do samba direto. Diferentemente de hoje, em que a gente tem escolinhas e que a gente tem o próprio desfile, a gente aprendia na beira de campo. Quando a gente ia para a bateria adulta, já tinha que chegar sabendo. Era bem diferente do que é hoje. A gente está velho, já”, brincou.

Tiguês citou a mesma expressão popular: “A gente já estava acostumado com batucada de beirada de campo, essas coisas. Depois acompanhava pela televisão, com a família e tal, que não era no carnaval. E aí vinham aqueles encartes no jornal pra você poder dar nota e etc. Sempre acompanhei essa movimentação, até que quando eu completei 18 anos eu acabei vindo parar no carnaval”, finalizou.