O Museu do Samba abriu uma nova exposição. Intitulada “Samba Patrimônio”, a mostra tem como proposta inserir o visitante na atmosfera do samba carioca e contar um pouco da história social por trás do samba-enredo, do partido alto e do samba de terreiro. Para seguir nessa viagem, o Museu do Samba expõe itens característicos da indumentária e do ritmo do samba, além de prestar homenagens a sambistas ilustres de agremiações carnavalescas e rodas de samba e mapear a geografia do samba no estado do Rio.

Foto: Divulgação/Museu do Samba

“Samba Patrimônio é mais que uma exposição, é um ambiente de acolhimento, pensado para despertar o sentimento de pertencimento e inspirar uma sociedade mais integrada, democrática, e que reconheça a riqueza desse patrimônio cultural. É uma mostra que celebra a identidade do sambista, exalta suas lutas e reconhece a força cultural e social do samba”, explica Nilcemar Nogueira, fundadora do Museu do Samba.

*Ineditismo* – A maioria das peças da nova mostra foi doada à instituição pelos próprios sambistas e suas famílias e fazia parte da reserva técnica do museu, ou seja, daquela parte do acervo guardada longe dos olhos do público e ainda inédita. Roupas e acessórios típicos do visual do samba ganham destaque com itens como o exuberante colar de crioula da cantora Alcione e a guia de orixás do compositor Arlindo Cruz. Os chapéus panamá de Monarco e Tia Surica da Portela, o sapatinho bordado de Dona Zica da Mangueira, e o sapato bicolor de Wanderley Caramba, compositor da Estácio de Sá, também marcam presença, exibindo o estilo inconfundível da tradição que virou marca registrada do samba.

No mesmo setor, um painel de madeira presta homenagem a oito baluartes conhecidos pela elegância e originalidade em se vestir, caso de Mestre Dionisio, fundador da Escola de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, de Tia Nilda, presidente da ala das baianas da Mocidade Independente de Padre Miguel, de Zé Catimba, compositor da Imperatriz Leopoldinense, Djalma Sabiá, fundador do Salgueiro, Carlinhos Brilhante, lendário mestre-sala da Vila Isabel, do compositor Tiãozinho da Mocidade e, ainda, Nelson Sargento e Dodô da Portela. Ao tocar na foto do artista, a imagem gira como uma janela que se abre, tornando visível uma mini biografia de cada homenageado.

*Ritmo e poesia* – No espaço dedicado ao ritmo, à música e à poesia do samba, estão expostos o repique de mão de Ubirany e o pandeiro de Bira Presidente, os irmãos fundadores do bloco carnavalesco Cacique de Ramos e do grupo Fundo de Quintal, símbolos das inovações rítmicas e melódicas do gênero no início da década de 1980. A essa valiosa “bateria”, se juntam o tarol de Mestre Ciça, veterano mestre de bateria da Unidos do Viradouro, e o imponente agogô de 22 bocas de Ciro do Agogô, junto com a fantasia que o percussionista da Unidos de Vila Isabel usou no desfile de 2004.

Garantindo a harmonia, o histórico violão do compositor Cartola é uma das preciosidades da exposição. Ao seu lado, o manuscrito de ‘As rosas não falam’, um dos maiores sucessos do mestre mangueirense. Os Estandartes de Ouro do compositor Aluísio Machado, do Império Serrano, autor do antológico samba-enredo “Bum Bum Paticumbum Prugurundum”, de 1982, também ganham destaque.

*Geografia do samba e resistência* – A exposição Samba e Patrimônio passeia ainda pelo mapa da Geografia do Samba no Rio de Janeiro, apresentando ao visitante a localização das escolas de samba e das principais rodas de samba da cidade do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana, Niterói e Baixada Fluminense. Estão listadas 19 rodas, como Beco do Rato, Candongueiro, Samba do Trabalhador, Feira das Yabás, Tia Doca, Tia Gessy e Samba da Dida. Além das escolas que desfilam na Marquês de Sapucaí e na Estrada Intendente Magalhães, o mapa aponta ainda locais de referência para a história do gênero, como Pedra do Sal, Igreja da Penha, Largo do Estácio e Cidade do Samba.

Samba e Patrimônio relembra também um ato de resistência protagonizado por Candeia: a fundação, junto com Neizinho, Wilson Moreira e Mestre Darcy do Jongo, do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, em 1975. O lendário compositor da Portela afastou-se de sua escola de samba do coração, criticando fortemente as inovações trazidas pelas agremiações nos desfiles e a falta de valorização do sambista e suas tradições. A bandeira original do GRANES Quilombo faz parte da mostra, que conta detalhes desta história de resistência.

*Sambistas Pintores* – Uma agradável surpresa da nova mostra do Museu do Samba é a presença de duas telas, em estilo arte naif, pintadas por sambistas que também foram artistas plásticos. São eles Wanderley Caramba, célebre autor de sambas de terreiro, e Nelson Sargento, eterno baluarte da Estação Primeira de Mangueira. Wanderley e Nelson integraram o grupo Pintores do Samba, fundado em 1984 e composto ainda por Guilherme de Brito, Heitorzinho dos Prazeres e Sérgio Vidal.

*Créditos e patrocínio* – A exposição Samba Patrimônio é patrocinada pelo Ministério da Cultura, por meio do Ibram – Instituto Brasileiro de Museus, com verba de emenda parlamentar da deputada federal Benedita da Silva.

A exposição tem idealização e curadoria de Nilcemar Nogueira e Nathalia Basil, com pesquisa de Juliano Dumani, Camila Reis e Annanda Baptista. O projeto expográfico é de Lilian Sampaio.

SERVIÇO
Exposição Samba Patrimônio
Local: Museu do Samba
Endereço: Rua Visconde de Niterói, 1296 – Mangueira
Horário: de terça a sábado, das 10h às 17h
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia entrada) – Grátis para estudantes da rede pública