A Unidos de São Lucas abriu os desfiles deste domingo pelo Grupo de Acesso 1 de São Paulo no carnaval de 2025. No retorno da escola para a segunda divisão da folia paulistana, o animado samba levantou o público e animou os desfilantes que evoluíram muito bem durante todo o cortejo, encerrado após 55 minutos. A comunidade da Zona Leste se apresentou com o enredo “Ijexá”, assinado pelo carnavalesco Fernando Dias.
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Comissão de Frente

Coreografada por Jonathan Santos, a comissão de frente da São Lucas foi intitulada “Os Guardiões de Ijexá” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba e fez uso de um tripé que representou a “Morada de Exu”. Na apresentação, os componentes mostraram a celebração feita pelos guardiões após vitórias obtidas em batalhas, que ocorria através do ritmo do Ijexá. Os guerreiros fazem oferendas ao protagonista da coreografia, Exu, que abriu os caminhos para que o som dos tambores, tocado em cima do tripé, possam chegar à regente Oxum como forma de gratidão à dádiva concedida por Olorum. A coreografia foi animada e reproduz bem os elementos da proposta, com destaque especial para a irreverente representação de Exu e o momento do batuque de tambores em cima do tripé. O único elemento que preocupa é quanto ao acabamento da própria alegoria, em que uma das duas tiras finas penduradas enroscou com o vento em outras estruturas – causando uma falha de uniformidade.
Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal da São Lucas, formado por Erich Sorriso e Victoria Devonne, se apresentou representando o “Rei e Rainha de Ijexá”. O casal cumpriu com todas as obrigatoriedades do quesito com exatidão, realizando uma coreografia animada dentro da proposta do enredo.
Enredo
O enredo da São Lucas retratou a origem do Ijexá, que é um ritmo africano que nasceu da celebração pelas glórias obtidas em batalhas por guerreiros de um Reino iorubá de mesmo nome, fruto de uma dádiva concedida por Olorum, o Deus da Criação. O Ijexá era entoado com a abertura dos trabalhos através de oferendas a Exu para agradecer à Oxum as vitórias alcançadas. O desfile mostrou como esse ritmo se espalhou por diferentes tribos africanas e se tornou parte de suas culturas, chegando ao Brasil na época da Diáspora Africana e se disseminando pelo país pelas casas de candomblé, ganhando as ruas no carnaval de Salvador através do Afoxé Filhos de Gandhy. O ritmo se tornou patrimônio nacional por conta da sua capacidade de se espalhar por diferentes culturas, sendo executado em festas por todo país, desde o maracatu de Pernambuco até o Bumba-Meu-Boi do Maranhão. Um enredo de leitura muito fácil por todas as alegorias e fantasias do desfile da escola ao longo da Avenida, com riqueza de detalhes contribuindo para uma transmissão cultural satisfatória. Certamente um dos pontos positivos do desfile da São Lucas.

Alegorias
A São Lucas apresentou um conjunto alegórico formado por três carros e um tripé, que veio no começo do desfile chamado “Ijexá em Monumento”. O Abre-alas, intitulado “Templo Natural de Oxum”, faz referência uma floresta localizada na África que se tornou um templo simbólico dos Reinos que existiram na época para o culto à Orixá, onde o ritmo do Ijexá era tocado nos rituais.

O segundo carro representou o “Cortejo Preto em Salvador”, mostrando como os africanos trazidos ao Brasil na Diáspora usavam dos festejos cristãos para celebrar a própria fé através do Ijexá. A última alegoria, “Movimento multicultural”, exaltou as diferentes manifestações culturais que incorporaram o ritmo em suas danças, além dos grandes artistas que compuseram músicas embaladas pelo Ijexá. A representação dos elementos propostos na Avenida contribuíram para a narrativa do desfile com exatidão, mas algumas irregularidades de acabamento observadas podem levar os jurados a interpretarem como falhas.
Fantasias

As fantasias da São Lucas se encarregaram de conduzir a narrativa do enredo entre as propostas das alegorias. O primeiro setor focou em vestimentas representando a cultura africana e suas tribos, enquanto no segundo setor as referências foram da chegada dos povos africanos ao Brasil e a influência do ritmo nos festejos de Salvador, e o último setor, a parte com mais alas do desfile, celebrou as diferentes culturas brasileiras que incorporaram o Ijexá. A leitura das fantasias dentro do enredo foi muito fácil, enriquecendo a contribuição cultural do desfile da São Lucas, mas as falhas de acabamento observadas pelas alas, principalmente da primeira, que soltou muitas tiras finas pela pista, podem prejudicar a avaliação do quesito.
Harmonia
O canto da comunidade da São Lucas foi outro ponto positivo do desfile. As alas estavam cantando muito animadas, embaladas pelo bom samba da escola. Os componentes do terceiro setor estavam especialmente animados, aferindo uma notável crescente por toda a Avenida. Atuação clássica do canto forte das escolas da Zona Leste.
Samba-enredo

A obra que conduziu o desfile da São Lucas é assinada por Bruno Leite e Ricardinho Olaria, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Tuca Maia. As passagens da letra são bem claras em dividir o desfile em três diferentes setores através da primeira parte, refrão do meio e segunda do samba. Na Avenida, o samba teve um grande desempenho, favorecido pela qualidade do conjunto da obra e a interpretação de alto nível da ala musical liderada por Tuca Maia, conseguindo levantar o público logo no primeiro desfile da noite. Mais um ponto positivo do desfile da escola.
Evolução

Tecnicamente falando, a São Lucas teve um desempenho irretocável. A fluidez pela Avenida foi constante, com um recuo de bateria bem-executado e com liberdade para os desfilantes brincarem o carnaval pelas alas. O fechar dos portões aos 55 minutos, exato meio-termo entre tempo mínimo e máximo de desfile, apenas crava quão boa foi a evolução da escola no desfile.
Outros destaques
Fantasiados em referência ao Afoxé Filhos de Gandhy, os ritmistas da “Bateria USL” trouxeram no desfile uma pegada digna do ritmo africano difundido pelo Brasil através do Ijexá. A rainha Pepita também embalou o público demonstrando muito samba no pé.