Arrebatadora! Essa simples palavra sintetiza o que foi a apresentação da Imperatriz Leopoldinense no fim da tarde e início da noite do último domingo. A comunidade da Rainha de Ramos mais uma vez compareceu em peso na Rua Euclides Faria e mostrou toda a sua força neste terceiro treino a céu aberto na temporada para o Carnaval de 2024. O samba-enredo, conduzido com maestria pelo intérprete Pitty de Menezes, teve um rendimento espetacular, que se refletiu em um canto extremamente potente dos componentes e uma evolução bastante solta. A bateria “Swing da Leopoldina” também teve outra grande performance, contribuindo para esse sucesso do hino oficial junto aos desfilantes e espectadores. Em entrevista concedida com a reportagem do site CARNAVALESCO, o diretor de carnaval André Bonatte, que divide a função com Mauro Amorim, fez uma análise desse ensaio e ressaltou o trabalho a longo prazo visando o desfile do ano que vem.
“Eu venho falando isso a cada semana, eu acho que o trabalho é crescente. Nós fizemos uma boa largada. Na semana passada, mesmo com chuva, a escola superou o primeiro ensaio e, na minha avaliação, hoje nós superamos os outros dois. Então, é esse o caminho que a gente tem até o dia 11 de fevereiro. A gente tem que se superar a cada dia. Sempre olho assim e acho que a comunidade está de parabéns. Hoje, eu vejo o samba consolidado. Os componentes da Imperatriz estão cantando com muita força. A questão da harmonia, que é uma coisa que a gente avalia muito aqui, está funcionando extremamente bem, assim como a evolução. No ensaio desta semana, a escola mais uma vez caminhou bem, sem nenhum tipo de tropeço, a gente conseguiu fazer todas as paradas técnicas que tínhamos que fazer, mas eu sempre acho assim, é isso, é o caminho. Precisamos pensar sempre no que a gente pode melhorar e esse vai ser o meu trabalho até fazer a curva da Avenida. A ideia é buscar a perfeição”, defendeu André Bonatte.
No ano que vem, a Imperatriz Leopoldinense apresentará o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira. O tema tem como base um pequeno folheto que foi escrito há mais de 100 anos por Leandro Gomes de Barros, autor paraibano de cordéis que inspiraram o dramaturgo Ariano Suassuna a escrever o “Auto da Compadecida”. A proposta dá continuidade ao interesse da agremiação em se debruçar sobre o Brasil e sobre obras populares que souberam dar contorno à imaginação de caráter fantástico como uma extraordinária vocação do povo brasileiro. A Rainha de Ramos será a sexta escola a desfilar no domingo de Carnaval, dia 11 de fevereiro, encerrando o primeiro dia do Grupo Especial do Rio, em busca do bicampeonato.
Comissão de frente
O show leopoldinense teve início com a apresentação dos integrantes da comissão de frente. O coreógrafo Marcelo Misailidis trouxe, mais uma vez, uma performance elaborada especialmente para os ensaios, que serve de base de criação para o trabalho que será levado por eles no desfile oficial. O número contou com a participação de dez componentes no treino desse domingo, divididos em cinco casais. As mulheres vieram com um figurino composto por saias longas estampas, top e lenço amarrado na cabeça; enquanto os homens tiveram como indumentária uma calça branca e uma camisa do enredo. A coreografia tinha como referência a cultura cigana, mesclando passos de danças típicas com movimentos um pouco mais acrobáticos. A dança alternou entre momentos em dupla e de grupo, todos marcados pela intensidade e sincronia. O ponto alto ficou para o efeito causado pela saia das bailarinas, seja na hora dos giros ou nos deslocamentos.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, novamente se destacou durante a passagem da Rainha de Ramos neste terceiro treino a céu aberto da temporada. A dupla, que após sete anos longe reatou a parceria no último Carnaval, segue demonstrando um aprimoramento, tanto na técnica, quanto no entrosamento entre si. Os dois apostaram em uma dança predominante mais tradicional, que teve como característica a intensidade e a velocidade. Apesar dessa força no bailado, a elegância nos gestos, a precisão dos movimentos e a delicadeza nos momentos de cortejo também estiveram presentes no decorrer da apresentação. Um dos segredos dessa evolução foi a chegada da primeira bailarina do ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Ana Botafogo, como diretora artística do primeiro casal. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, logo após a conclusão do treino, os defensores do pavilhão principal rasgaram elogios para a profissional e ressaltaram o impacto do trabalho realizado por ela.
“Está sendo incrível. Hoje, eu me vejo uma nova Rafaela. Acho que muitas pessoas julgaram quando a Ana Botafogo chegou na família Imperatriz. Ela veio para somar e tem sido uma grande responsável pelo resgate do casal Phelipe e Rafaela. Depois de sete anos afastados, a gente retomou a parceria no último Carnaval, fomos campeões, porém só agora e aos poucos que a gente vê mais o Phelipe e Rafaela, aquele casal que iniciou aqui na Imperatriz. E tem sido muito positivo esse trabalho, porque ela em nenhum momento está deixando a dança tradicional do casal de mestre-sala e porta-bandeira se perder, como muitos acharam. A Ana veio para agregar com seus movimentos, braços, olhares, dar mais segurança e firmeza para o casal. Era isso que a gente estava precisando”, declarou Rafaela.
“A Ana Botafogo é uma profissional incrível, não só na área dela, que é o ballet, o pas de deux. Ela traz muito dessa dualidade, desse lado postural do casal de mestre-sala e porta-bandeira para gente. Como a Rafaela falou, é uma conexão que a gente está encontrando novamente, depois de sete anos separados, conseguimos ser campeões no nosso reencontro, com um trabalho bom, mas o que a gente vem fazendo de conexão, de postura e de entendimento da nossa arte, dos movimentos que a nossa arte tem, é incrível. A Ana Botafogo, no meu ponto de vista, é a melhor bailarina do Brasil e eu tenho a sorte de hoje poder trabalhar com ela”, pontuou, em seguida, Phelipe.
Samba-enredo
O motor propulsor da performance avassaladora da Imperatriz Leopoldinense foi o samba-enredo. A obra de autoria de Renne Barbosa, Antonio Crescente, Miguel da Imperatriz, Luiz Brinquinho, Gabriel Coelho, Me Leva, Jeferson Lima, Rômulo Meirelles, Jorge Goulart, Silvio Mesquita, Carlinhos Niterói e Bello teve mais um desempenho espetacular neste terceiro ensaio de rua, sendo entoado com extrema força pelos componentes gresilenses e propiciando uma evolução leve. Para que isso fosse possível, a parte musical da agremiação foi fundamental. A bateria “Swing da Leopoldina” explorou com maestria o desenho melódico da composição, através de bossas e nuances, conseguindo dessa forma contagiar não só os desfilantes como também os torcedores que assistiam a passagem da escola pela Euclides Faria. Além dos comandados de mestre Lolo, o intérprete Pitty de Menezes, junto a todo o time de apoio do carro de som, imprimiu uma performance vibrante e aguerrida com o intuito de manter o alto rendimento do hino oficial para o ano que vem no decorrer de mais de uma hora de treino. Ao final do trajeto, o cantor principal da Rainha de Ramos falou com a reportagem do site CARNAVALESCO e fez um balanço do trabalho em cima do samba desde a junção.
“Fico muito feliz com o sucesso que o samba está tendo. A gente sempre soube o que estava fazendo e tínhamos certeza que esse samba ia dar certo. A Imperatriz tem uma equipe que trabalha muito. A gente, várias vezes, antes de confirmar a junção, trabalhou muito em cima dela. Fizemos ensaios e a gente sabia do potencial que esse samba iria atingir. E não está sendo diferente agora. A comunidade está muito feliz, a Imperatriz é uma escola que está feliz. Tanto componente, quanto o torcedor da escola, já abraçou o samba. Hoje foi mais um exemplo de como a escola está cantando muito. Somos uma agremiação diferenciada. É bonito ver quando tem essa dúvida, você trabalha e o resultado dá certo, dá orgulho, dá gosto. A vontade de cantar se torna maior ainda e é isso que a escola está sentindo. A felicidade vem da presidência até toda a comunidade. Isso está contagiando todo mundo, por isso que o ensaio está sendo desse jeito aí, avassalador, todo mundo cantando muito. Com todo o respeito as outras coirmãs, mas a Imperatriz está trabalhando muito para conquistar esse bicampeonato. A comunidade está acreditando, então é isso, a felicidade está reinando. É o Carnaval do amor, a escola está se amando muito. Parece aquela pessoa apaixonada, amor à primeira vista, está assim. A comunidade está apaixonada pela escola novamente e, por isso, está dando certo. Estou muito feliz, eu saio de todos os ensaios com vontade de voltar para o ensaio de novo para começar. Dá gosto de vir para o ensaio e ver a comunidade cantando desse jeito”, relatou Pitty de Menezes.
Harmonia
O chão da Imperatriz Leopoldinense, mais uma vez, deu uma aula no ensaio de rua. A comunidade mostrou estar com o samba na ponta da língua e manteve um canto afiado ao longo das mais de uma hora de apresentação. Até mesmo alas que tradicionalmente não apresentam um canto tão forte, como é o caso das baianas, entoaram com bastante vontade a obra, tornando árdua a missão de apontar uma ou outra ala como destaque. O refrão principal, composto pelos versos “Vai clarear!/Olha o povo cantando na rua/A Imperatriz desfila com a sorte virada pra Lua”, foi a parte do samba que mais rendeu, sendo berrado pelos desfilantes. Além dele, o falso refrão que antecede o principal, “O que é meu é da cigana, o que é dela não é meu/Quando chega fevereiro meu caminho é todo seu”, e o refrão do meio, “O destino é traçado na palma da mão/E a vida se equilibra em cada linha/Andarilho, sonhador/Na corda bamba do amor/Encontrei minha rainha”, também se sobressaíram e foram entoados a plenos pulmões.
Evolução
No embalo da excelente performance do samba-enredo, a evolução da verde, branca e ouro foi marcada pela alegria, descontração e leveza. Os componentes vieram totalmente soltos dentro das alas, brincando, pulando e cantando com bastante euforia. O uso de acessórios e adereços pelos desfilantes, como balões e leques, por exemplo, deram todo um charme a mais para a passagem. Nem mesmo alguns momentos mais coreografados da escola, como quando todos batiam palmas no trecho “O que é meu é da cigana, o que é dela não é meu/Quando chega fevereiro meu caminho é todo seu”, tiraram a espontaneidade da comunidade, que demonstrou estar completamente entregue e vivendo ao máximo o ensaio. E mesmo com esse clima mais relaxado, a agremiação passou extremamente correta, sem abrir buracos, ocorrer clarões e embolamentos. Quanto ao andamento, as paradas para simular as apresentações nas cabines de jurados, assim como a entrada e saída da bateria do recuo, aconteceram sem nenhum transtorno e não atrapalharam o ritmo fluindo da Rainha de Ramos. Mantendo essa pegada cadenciada durante toda a passagem, a Imperatriz Leopoldinense concluiu o percurso pela Euclides Faria, entre o Largo do Itararé até a altura da Rua Doutor Miguel Vieira Ferreira, em 68 minutos, tempo este que a direção de carnaval ainda pretende reduzir nas próximas semanas.
“Pretendemos reduzir o tempo de desfile para 66 minutos. O problema é que a gente tem que entender que não adianta também correr com a escola. Hoje, a gente fez o percurso em 68 minutos e a meta é ir baixando esse tempo. Apesar do nosso andamento atual estar bom, temos que pensar em imprevistos. No ano passado, nos programamos para encerrar o desfile com 64 minutos, até porque o samba era um pouquinho menor. Para 2024, a ideia é trabalhar com o tempo de 66 minutos, pois o samba tem algo entre 15 a 16 segundos a mais cada passada na comparação com o de 2023, que tinha em torno de dois minutos. Então, precisamos ganhar uma passadinha aí, mas sem sacrificar o ritmo da escola. Acho que a gente consegue, é mais questão de tempo mesmo, e ver aonde a gente pode ganhar isso”, afirmou André Bonatte em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO.
Outros destaques
A “Swing da Leopoldina” deu mais um show no ensaio de rua desse domingo. Os ritmistas liderados pelo mestre Lolo mostraram novamente o motivo de colecionarem notas máximas ao longo dos últimos anos e agitaram o público presente na Rua Euclides Faria. Entre as bossas executadas, a que simulava uma seresta foi uma das que mais chamou a atenção. Outro momento de destaque ocorreu quando a bateria fazia uma parada e deixava o som do violino, que veio junto ao carro de som, tocando sozinho durante os versos “Ao som de violão e violino/O verso da mais pura inspiração”.
Quem também roubou a cena neste terceiro treino ao ar livre da Imperatriz Leopoldinense foi a rainha de bateria Maria Mariá. A beldade, que veio com um figurino simples nas cores branco e prata, esbanjou beleza e carisma à frente dos ritmistas, ostentando todo o seu gingado e muito samba no pé. Atenciosa, ela fez questão de atender vários apelos dos espectadores durante a sua passagem com a escola, tirando fotos, dando abraços e dançando com as pessoas.