Por Gabriel Gomes e fotos de Allan Duffes
A Unidos da Tijuca foi a segunda escola a desfilar na Marquês de Sapucaí na primeira noite de ensaios técnicos do Grupo Especial do Rio de Janeiro na temporada de 2025, no último sábado. A Amarela e Azul realizou o seu melhor ensaio dos últimos anos, impulsionado pelo excelente desempenho do samba-enredo e da bateria “Pura Cadência”. A Harmonia da escola, no entanto, apresentou irregularidades. A escola do Borel será a primeira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval (3 de março) com o enredo “Logun-Edé: Santo Menino que velho respeita”, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira. A Tijuca apostou, em diversos momentos, na utilização do recurso das luzes cênicas da Sapucaí, muitas vezes junto de bossas realizadas pela bateria da escola. No esquenta, a escola cantou os sambas dos três últimos campeonatos (2014, 2012 e 2010).
* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp
“A gente fez o que a gente vem ensaiando na nossa pista de ensaios. Temos muito que melhorar ainda até o carnaval, ainda tem mais de oito ensaios aí. Acho que quando chegar o próximo ensaio técnico, a gente vai estar 100% firme e vamos sacudir a Sapucaí. A gente pode melhorar tudo, sempre tem alguma coisinha para melhorar. A gente filma tudo, a gente vê tudo de novo. Detalhe aqui, detalhe ali, sempre tem coisa para melhorar”, explicou Fernando Costa, diretor de carnaval.
Comissão de Frente
Comandada pelas coreógrafas Ariadne Lax e Bruna Lopes, a comissão de frente da Unidos da Tijuca brindou o público presente na Marquês de Sapucaí com uma excelente apresentação. Na coreografia, 15 bailarinos, vestidos com uma bela roupa dourada e azul, realizavam movimentos africanos muito fortes e bem sincronizados. A comissão utilizou um elemento cenográfico, que era um grande tambor. O ápice da apresentação acontecia quando um dos componentes subia no tambor e, então, era aberta uma saia nas cores da escola, que era erguida e movimentada pelos demais dançarinos.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Tijuca, Matheus André e Lucinha Nobre realizaram um bela e segura apresentação nas quatro cabines de julgadores. A dupla, vestida nas cores da escola, demonstrou estar com um ótimo entrosamento. A coreografia mesclava movimentos tradicionais da dança com referência a letra do samba. A se destacar os fortes giros da porta-bandeira e a tradicional “bandeirada”, que ocorria no trecho do samba que citava o “ori do meu pavilhão”. Na comparação com o ano de 2024, o casal tem demonstrado uma enorme evolução e segurança a cada ensaio.
“A gente sabe que não é o oficial, não tem fantasia, mas tem emoção, tem resposta de um trabalho que a gente vem fazendo depois de duras críticas que a gente sofreu no ano passado, a gente entendeu que a gente precisava se olhar mais, que a gente precisava deixar a pressão de lado um pouco, curtir a dança de mestre-sala e porta-bandeira, que é o que a gente sabe fazer melhor. E a gente fez todo um trabalho com a Daniele Ramalho e com a assistência luxuosa da Camille Salles, que trabalhou comigo a vida inteira, começou comigo aqui na Tijuca, foi comigo para Portela, fez Porto da Pedra comigo, enfim, é uma pessoa que é muito importante para a porta-bandeira que eu sou hoje. E o Matheus veio para trazer uma jovialidade, trazer uma estrutura de alegria nas pernas de energia forte, diferente da minha dança que até então era a tradicional clássica e agora eu me vejo com uma porta-bandeira que eu era em 2004, 2005, 2006, eu consegui trazer a Lucinha Nobre do Velho Testamento, como as pessoas têm falado, para a Unidos da Tijuca de recomeço. A gente sabe que é difícil, eu vou fazer 50 anos e eu acho que eu sofri muito etarismo. Mas eu estou aí junto com as minhas amigas Ruth, Selminha, Giovanna, e outras meninas que vêm um pouco mais atrás de idade para provar que a mulher só tem que se cuidar, ela tem que estar em dia com os hormônios dela e a partir daí tudo é possível, a idade é só um complemento de maturidade, de energia, de estabilidade, eu tenho ensaiado muito. Está sendo um investimento absurdo para estar aqui sendo a porta-bandeira, que eu fui para Unidos da Tijuca, e que eu sou e eu vou continuar sendo enquanto Deus permitir e o Fernando Horta der a oportunidade de ter a honra de carregar esse pavilhão. Meu corpo está pronto para o desfile, estou muito feliz com o Matheus. A coreografia oficial com alguns ajustes, por exemplo, tem coisa que a gente faz cinco giros, aí com fantasia vamos fazer quatro, mas a base é essa, provavelmente a gente vai tirar alguma coisa. A gente mudou muito. Mas acredito que essa é a versão final. Amanhã a gente vai ensaiar com a fantasia pronta”, disse a porta-bandeira.
“Eu posso dizer que o ensaio foi quente, foi bem quente. A Unidos da Tijuca mostrou que vem com um grande enredo, um grande samba. A escola está forte, está cantando, está vibrando. É isso que a gente queria sentir, a energia da escola na avenida. A gente poder passar essa energia tão bem pra nossa dança, chegar tão bem com a energia para somar com a escola. Hoje foi um teste para a avenida, para experimentar tudo aquilo que a gente está trabalhando durante um ano. E eu acredito que foi muito bom. É claro que sempre tem uma coisa ou outra, mas a energia de hoje, tomara que seja assim dentro do desfile, foi perfeito”, completou o mestre-sala.
Harmonia
A Harmonia da Unidos da Tijuca foi o quesito com desempenho com mais oscilação da escola. No início do ensaio, os componentes das primeiras às últimas alas cantaram com bastante intensidade o samba-enredo tijucano. No final, no entanto, o canto apresentou uma leve queda, que deve ser facilmente corrigida nos próximos ensaios. A se destacar positivamente no quesito, a ala 24.
O carro de som da Unidos da Tijuca também teve bom desempenho, comandado pelo intérprete Ito Melodia, com apoio de grandes cantores como Tem-Tem Jr. e Matheus Gaúcho. Foi de suma importância, ainda, a presença da voz feminina de Cacau Caldas.
“Maravilhoso! Pancada! Isso foi só o primeiro ensaio. É a prova que eu falei que tinha surpresa com a Tijuca. A surpresa é isso. Canto com fibra, com força, com garra, com vontade de voltar a ser campeão”, garantiu o intérprete Ito Melodia.
Samba-enredo
O samba-enredo da Unidos da Tijuca, composto por Anitta, Estevão Ciavatta, Feyjão, Miguel PG, Fred Camacho, Diego Nicolau, Luiz Antônio Simas e Gustavo Clarão, foi um dos grandes destaques da noite. A obra possui uma bela melodia e se mostrou muito valente e funcional, com excelente do intérprete Ito Melodia e todo o carro de som tijucano. Os refrões, sobretudo o refrão do meio: “Oakofaê, odoiá// Oakofaê, desbravei o mar/ Não ando sozinho montei no cavalo marinho// abri caminho pro povo de ijexá”, foram muito cantados pela comunidade. A se destacar, ainda, a preparação para o refrão principal, “Orixá menino que velho respeita// Recebi sentença de pai Oxalá// Eu não descanso depois da missão cumprida//A minha sina é recomeçar”.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos da Tijuca no ensaio técnico
Evolução
A evolução da Unidos da Tijuca no primeiro ensaio técnico da temporada se deu de maneira fluida, coesa e sem problemas até o final do treino. As alas da escola desfilaram de maneira leve, refletindo o alto astral presente na comunidade tijucana. A se destacar a presença de elementos de mão em boa parte das alas. Em alguns momentos do samba, muitas alas realizam gestos e coreografias sincronizadas, como no refrão do meio.
Outros destaques
A bateria “Pura Cadência”, de mestre Casagrande, deu, mais uma vez, um show a parte. Os ritmistas sustentaram o andamento e contribuíram muito para o bom funcionamento do samba da Unidos da Tijuca. Todas as bossas foram muito bem trabalhadas. A atriz Juliana Alves, ex-rainha de bateria, marcou presença puxando o ensaio da escola e atraiu aplausos por todos os setores do sambódromo. Houve homenagem para a cantora Lexa, que recentemente deixou o posto, por problema de saúde.
“Foi uma aula de ritmo. A gente está muito tempo dentro da escola e mesmo assim cada ano é um ano diferente, mas a métrica da bateria não muda, o andamento não muda. Nós temos ritmistas aí com 20, 25 anos tocando juntos, isso favorece demais. Hoje a gente pode bater no peito e dizer que a Unidos da Tijuca tem uma grande bateria. Todo respeito às demais baterias, mas a gente fica muito orgulhoso, mas sempre com o pé no chão, muito humildade, a gente sabe que é só um primeiro ensaio. Mas foi maravilhoso, o samba funcionou demais, parabéns ao Ito, a todo carro de som. Sobre a bateria, não vou dizer que está pronta, porque nunca a gente está pronto. A gente tem que sempre se policiar. A gente nunca está pronto, eu costumo dizer que o menos é mais. Quero dar uma ressalva também pela minha ala de tamborim. Quando entrou aqui no segundo box, com a manobra. A ala de tamborim não parou de tocar, vocês podem perceber isso durante todo o ensaio. Até na manobra não para de tocar. Parecia que era um tamborim tocando sozinho. A gente é uma bateria toda, é um coletivo. Mas foi um achado esse desenho de tamborim”, comentou mestre Casagrande.
Coloraboraram Gabriel Radicetti, Guibsom Romão, Marcos Marinho, Juliana Henrik e Carolina Freitas