Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins (Colaboraram Naomi Prado, Gustavo Lima, Nabor Salvagnini e Will Ferreira)
Os Gaviões da Fiel realizaram no último domingo seu segundo ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi em preparação para o desfile no carnaval de 2025. O sol forte que fez no horário do treinamento não impediu que a atuação do veterano intérprete Ernesto Teixeira no comando do carro de som fosse o principal destaque da escola, que fechou os portões após 57 minutos na Avenida. A Fiel Torcida será a quarta a se apresentar no sábado de carnaval pelo Grupo Especial com o enredo “Irin Ajó Emi Ojisé”, assinado pelos carnavalescos Rayner Pereira e Júlio Poloni.
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Integrante da direção de harmonia dos Gaviões da Fiel, Alexander dos Santos afirmou ao CARNAVALESCO estar satisfeito com a evolução do trabalho realizado nesse processo de preparação para o desfile, no qual a escola buscará mostrar ao mundo do samba que voltar entre as campeãs depois de 13 anos não foi por acaso.
“Nós gostamos muito. Conseguimos fazer um trabalho bacana e manter o trabalho do primeiro ensaio. Nós conseguimos cantar bem de novo, ajustar os espaçamentos que tínhamos, os mínimos detalhes que tínhamos para ajustar. Eu acho que a escola ganhou um corpo muito bom, a escola está quase completa e está vibrando bastante. Esse samba ajuda, é um samba que nos agrada muito, o mundo do carnaval já abraçou e eu acho que está fácil, o trabalho está fluindo bacana. A escola está respondendo bastante, as fantasias praticamente esgotaram, o quarto lugar em 2024 nos ajudou bastante a fazer esse trabalho de comunidade, conseguiu fazer a escola abraçar mais. O trabalho de bexiga, o trabalho de braço e perna, movimentação do componente, estamos muito satisfeitos”, declarou.
Alexander acredita que o período entre os dois ensaios técnicos permitiu melhoras em aspectos técnicos da escola, mas que a ausência da totalidade do contingente previsto para o desfile por diferentes fatores impõe um desafio para atingir a preparação ideal no próximo treinamento geral.
“A escola ainda não está completa, pelo sol hoje, as últimas fantasias e tal. É aquele ajuste final, o samba está tranquilo, nós temos muita segurança no samba. Os últimos ajustes ali, espaço de casal, hoje a informação do rádio foi muito melhor. Nós já fizemos um grande ensaio no sábado e hoje corrigimos aquelas coisas pontuais de espaço de casal, espaço de musa, entre outras. Hoje o desfile fluiu muito naturalmente, controlamos bem o tempo aqui. Nós temos que ajustar só um pouquinho da sirene ali porque é um pouquinho do horário também. Hoje já tivemos uma dificuldade com componentes chegando, mas de resto acho que está tudo tranquilo. E o último é praticamente o desfile valendo, ali é o último ajuste, não erra mais. Nós traremos muito do desfile valendo no último ensaio”, afirmou.
Comissão de Frente
Ensaiada pela coreógrafa Helena Figueira, a comissão de frente dos Gaviões realizou uma apresentação com duração de três passagens do samba e faz uso de um elemento alegórico grande, onde se vê uma estrutura em referência a um baobá, árvore-símbolo das culturas africanas. No topo desse baobá fica um ator constantemente sobre uma estrutura que faz movimentos de elevação e que em dado momento da coreografia é reverenciado pelos demais. Dos demais participantes do quesito, o primeiro ato é feito totalmente no chão, com uma atuação que lembra expressões típicas de orixás. Na segunda parte da apresentação ocorre uma interação com o tripé, onde máscaras posicionadas na base são retiradas e entram na coreografia, parte feita no chão, parte na alegoria. O terceiro ato volta a ser no chão, com alguns dos componentes inicialmente ficando no tripé e portando um objeto o qual é usado nesse momento.
A coreografia tem sua beleza e, no desfile, os figurinos devem facilitar sua compreensão. No entanto, sua longa duração e a presença de uma alegoria volumosa podem dificultar a visualização completa por parte do público. Diante da arquibancada Monumental, uma das máscaras posicionadas na base da alegoria não conseguiu ser retirada a tempo de um dos componentes usá-la na atuação, e não se trata de uma em específico que essa sim só é retirada posteriormente, sendo assim um ponto de atenção importante a ser ajustado para o dia do desfile oficial.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Se no primeiro ensaio técnico a pista molhada foi um desafio, os fortes ventos presentes no Anhembi foram desafio para o primeiro casal dos Gaviões, formado por Wagner Lima e Carolline Barbosa. A missão da porta-bandeira de lidar com um pavilhão mais rebelde que o habitual fez com que o mestre-sala precisasse compensar e tomar para si uma parte maior da movimentação da dupla. Mesmo assim, as obrigatoriedades do quesito foram cumpridas em todos os quatro módulos, sendo uma vitória completa na missão do quesito.
Carolline detalhou como foi a preparação do casal desde o primeiro ensaio técnico para realizar a coreografia nesta nova passagem da Fiel Torcida pela Avenida.
“Semana passada no nosso ensaio tivemos a pista muito molhada. Hoje, com a pista seca, a dança saiu mais segura, não teve o medo de escorregar e alguns pontos que tínhamos acertado da coreografia que não tinham encaixado, o posicionamento para o jurado, acertamos na semana para trazer hoje e fizemos novos testes”, disse.
Com toda sua experiência, Wagner explicou que durante o ciclo de ensaios técnico o próprio Sambódromo do Anhembi encara mudanças que impõem desafios diferentes para o casal lidar.
“Dança é todo dia um quebra-cabeça, é um encaixe. Sendo assim, sempre há coisas para melhorar, mas hoje com a pista seca dá mais segurança. O Anhembi muda todos os dias, agora nós vemos o desenho de mais um camarote, vemos onde a caixa vai ficar, aonde que realmente o jurado está. Já começamos a desenhar ali, encaixar a coreografia com o espaço certinho onde o jurado vai ficar, onde abre o pavilhão, onde não abre. Hoje começa mais uma dança de segurança, sabendo onde estamos e se a coreografia está encaixando bem na pista“, afirmou.
Harmonia
A melhora no canto da comunidade dos Gaviões da Fiel foi perceptível. O principal destaque vai para a sequência de alas de números 6 à 8, que demonstraram espontaneidade e empolgação para clamar o samba da escola ao longo da Avenida. É preciso se atentar, porém com algumas alas que podem ser ainda mais vigorosas. A reportagem apurou com a direção de harmonia que a ala 10, por contar com componentes vindos do interior, esteve em um contingente menor do que o habitual, garantindo que no terceiro ensaio técnico estarão melhor preparados.
Evolução
A fluidez cortejo dos Gaviões da Fiel pelo Anhembi foi tranquila, fechando os portões em seguros 57 minutos. A preocupação que fica se dá ao espaçamento entre os elementos de desfile. O espaço entre a marcação do carro Abre-alas e a ala à frente na hora do recuo da bateria, mesmo levando em consideração a destaque de chão que vinha no meio, margeou demais no limite das quatro grades previstas pelo regulamento durante a parada para o recuo da bateria.
Samba-Enredo
Quem assiste Ernesto Teixeira brilhando ao comandar o carro de som dos Gaviões da Fiel mesmo diante do forte sol presente durante a passagem dos Gaviões só se admira ainda mais ao relembrar que o intérprete está completando 40 anos de carreira. Ernesto demonstrou um vigor jovial com o primeiro samba de temática afro com o microfone principal da escola, sendo assim o principal destaque do ensaio da Fiel Torcida. A obra foi conduzida com maestria, e os próprios componentes sentem a presença do artista junto de si na Avenida, gerando ainda mais disposição para brincar o carnaval.
Ernesto fez um balanço geral do desempenho dos Gaviões da Fiel neste segundo ensaio técnico realizado no Anhembi.
“Foi mais um bom ensaio. A escola está cantando, as alas estão bem compactas, evoluindo em um clima legal, em um andamento bom. A bateria não precisa nem falar nada, todos os quesitos técnicos muito bem ensaiados, muito bem-preparados. Só posso elogiar todo mundo e falar que dia 15 tem o último ensaio antes do desfile, então vamos seguir nessa caminhada e aprimorar a cada dia que vamos chegar perto do nosso objetivo”, avaliou.
O intérprete acredita que os Gaviões da Fiel tiveram uma evolução em relação ao primeiro ensaio, destacando o trabalho realizado no período para alcançar os objetivos traçados.
‘’Acho que melhorou a disposição. A cada dia você sobe um degrauzinho. Muita preparação, muita análise técnica e chegando aqui tem que transformar isso em alegria. Não pode passar para o componente ou para vocês a preocupação só com a parte técnica, tem que transpor alegria. Eu acho que a escola como um todo, a comunidade como um todo conseguiu passar isso, então para mim é satisfatório”, afirmou.
Outros Destaques
A bateria “Ritimão” mostrou no segundo ensaio que a essência do ritmo africano já se faz presente desde antes da chegada do enredo de temática inédita para a escola. Chama atenção como os instrumentos que se tornaram característicos dos Gaviões enriquecem o samba, gerando a leveza de uma melodia agradável.
Ao avaliar o desempenho da bateria no ensaio, mestre Ciro afirmou que o bom desempenho do conjunto samba-bateria é fruto de um processo de evolução musical.
“Eu acho que está evoluindo a música. Acho que se alguém chegar aqui e falar que está 100% pronto, eu acho que a música sempre pode evoluir. Quanto mais nós estudamos, afinal um ensaio é um estudo, ela pode evoluir mais ainda, então eu acho que evoluiu. Nós tentamos implementar um arranjo, mas que ainda estamos pensando no que vamos fazer, que é lá na cabeça do samba. Sempre dá para implementar alguma coisinha para tentar abrilhantar, é isso que estamos buscando fazer”, avaliou.
O artista destacou que os arranjos desenvolvidos estão contribuindo para o bom desempenho do samba na Avenida, destacando o histórico de uso dos instrumentos característicos da “Ritimão”.
“É o primeiro tema 100% afro, mas desde que o timbal entrou na bateria, e se vocês repararam nos anos anteriores, nós já fizemos vários arranjos com o timbal. No ‘saravá, saravá’ nós fizemos, já fizemos seis por oito no ‘Obatalá mandou avisar’, o xequerê já participa desses arranjos. Não está sendo um desafio novo, digamos assim, mas eu gosto muito desse samba, estamos gostando muito, acho que está brilhando. Eu acho que o arranjo está fazendo o samba brilhar e chegar no 100%. Se Deus quiser, o próximo ensaio vai ser 100%”.
Mestre Ciro aproveitou a oportunidade para realizar uma homenagem póstuma a Tatinho, integrante da bateria o qual a “Ritimão” informou o falecimento nesta última semana.
“Só queria deixar um caminho de luz para um irmão meu, um irmão nosso que se foi esse fim de semana, muito doloroso. Só queria deixar essa menção ao Tatinho, eternamente nos nossos corações”.
Elemento que não estará presente no dia do desfile oficial, o forte calor da tarde ensolarada de domingo foi um desafio que precisou ser superado pelos Gaviões. Mesmo assim, o saldo do ensaio foi positivo tanto nos aspectos de evolução quanto àqueles que ainda precisam ser corrigidos. Situações como o problema na estrutura que segura as máscaras no tripé da comissão de frente, além dos detalhes de evolução apontados, tiveram no segundo ensaio o momento ideal para ocorrerem justamente por haver tempo hábil para solucionar essas e outras questões que a própria escola apontará em suas reuniões. Que a Fiel Torcida chegue afiada para no último treinamento geral elevar ao máximo o nível de um dos sambas mais bem conceituados do carnaval de 2025.
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