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Samba Didático: Portela traz Baobá e faz paralelo entre a árvore da vida africana e sua histórica e mística jaqueira

Compositor Wanderley Monteiro explicou de onde partiu a ideia de estabelecer uma relação entre o Baobá, árvore que é tema principal do enredo, com a Jaqueira da Portela

Depois de amargar um sétimo lugar em um aguardado enredo indígena desenvolvido por Renato e Márcia Lage em 2020, a dupla e a nação portelense terão que esperar dois anos para tentar dar a resposta para o mundo do carnaval. E o tema escolhido, segue cheio de energia, de misticismo, o Baobá, a árvore da vida, de tronco forte será como a velha jaqueira da Portela, “amiga e companheira”, inspiração para um título de forma isolada que já não vem há muitos anos.

compositores portela
Foto: Leandro Ribeiro/Divulgação TV Globo

“Igi Osé Baobá” trará a árvore sagrada, testemunha do tempo, pilar que une o céu e a terra, elo entre os vivos e os mortos, como é definida pela própria sinopse do enredo. E no final, citar os fundadores da Portela, como seus antepassados. A velha guarda como os guardiões de suas memórias e falar do próprio samba que respira como se fosse um velho Baobá.

A Portela será a segunda escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval. O samba que será entoado por Gilsinho é de autoria de Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante, Bira, Edmar Jr, Paulo Borges e André do Posto 7. O compositor Wanderley Monteiro explicou de onde partiu a ideia de estabelecer uma relação entre o Baobá, árvore que é tema principal do enredo, com a Jaqueira da Portela.

“O enredo da Portela é o Baobá, uma árvore da vida africana, que tem uma representatividade muito grande, uma importância muito grande para aquele povo. E, porque não? Para todo o mundo. O que nós pensamos e decidimos foi fazer sempre uma alusão do Baobá com a própria jaqueira da Portela, com a própria Portela, da força, da importância do povo africano com o portelense e com a comunidade portelense. A gente fala da jaqueira sem citar a palavra jaqueira, quando a gente fala da primeira semente, sempre com uma alusão à África, Baobá com Portela. Começamos desde o plantio do Baobá até os benefícios, todos os benefícios que o Baobá nos entrega”, esclarece Wanderley.

O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático” pediu ao compositor Wanderley Monteiro para explicar um pouco mais sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da Portela para o carnaval de 2022:

“PREPARA O TERREIRO, SEPARA A MUCUA / APAOKÁ BAIXOU NO XIRÊ”

“Preparar o terreiro seria até para a plantação do Baobá. A ‘Mucua’ é o fruto do Baobá, fruta do Baobá. “Apaoká” é o orixá, a entidade protetora da jaqueira, olha a jaqueira aí. ’ Xirê’ é festa”.

“EM NOSSO CELEIRO A GENTE CULTUA / DO MESMO PRECEITO E SABER”

“Em nosso celeiro é aqui na nossa Portela, no nosso terreiro, na nossa jaqueira, em nosso espaço, a gente cultua os mesmos costumes da África, em preparar o terreiro, em preparar uma festa. Mais uma alusão à Portela”.

“RAIZ IMPONENTE DA “PRIMEIRA SEMENTE” / NÓS TEMOS MUITO EM COMUM / O ELO SAGRADO DE AYÊ E ORUN / CASA PRA SE RESPEITAR: MEU BAOBÁ! ”

“Raiz imponente da primeira semente, a gente volta a fazer uma alusão à jaqueira, com o samba do Noca e Toninho Nascimento, ‘Paulo plantou a primeira semente e a jaqueira humildemente’. Um samba que o Fundo de Quintal gravou. Nós temos muito em comum, a jaqueira com o Baobá. O elo de ‘Ayê’ e ‘Orum’, o elo sagrado entre a terra e o céu. Casa para se respeitar, meu Baobá, ou seja, a Portela é uma casa para se respeitar igual o Baobá”.

“OBATALÁ COLOFÉ /TEM BATUCADA NO ARÊ /PRA MINHA GENTE DE FÉ AYERAYE / NESSA MIRONGA TEM MÃO DE OFÁ /PÕE ALUÁ NO COITÉ E DANDÁ”

“Obatalá é do orixá da paz, da criação do mundo. ‘Colofé’ é a benção, ‘a benção meu orixá da criação do mundo’. Tem batucada no ‘arê’, nas ruas , nas encruzilhadas. Nessa ‘mironga’, nesse mistério tem mão de ‘Ofá’, pessoas incumbidas de recolher as folhas para os rituais. “Aluá” é aquela bebida feita com farinha de milho ou de arroz, servida nos terreiros para quem está ali participando. ‘Coité’ é aquela cuia que se faz da casca de coco, recipiente onde se serve as bebidas aos orixás e participantes dos cultos, aquela metade da casca de coco. ‘Dandá’ é um tipo de raiz utilizada nos cultos aos orixás”.

“SALUBA, MAMÃE! FIZ DO MEU SAMBA CURIMBA / MATA A MINHA SEDE DE AXÉ / FAZ DO MEU IGI OSÉ, MORINGA”

“Saluba mamãe é uma saudação ao orixá Nanã, o orixá mais antigo. Faz do meu ‘Igi Osé, Moringa’, do próprio caule do Baobá, fazer um recipiente. O Baobá reserva muita água por dentro. Na falta de água, eles tiram do Baobá. “Curimba” é relativo aos cânticos utilizados na umbanda, os cânticos de proteção, faz do meu samba uma reza”.

“QUEM TENTA ACORRENTAR UM SENTIMENTO / “ESQUECE” QUE SER LIVRE É FUNDAMENTO”

“Esse trecho está falando dos transportes dos negros acorrentados nos navios que queriam a liberdade”.

“MATIZ SUBURBANO, HERANÇA DE PRETO / CORAGEM NO MEDO! / MEU POVO É RESISTÊNCIA / FEITO UM “NÓ NA MADEIRA” DO CAJADO DE OXALÁ / FORÇA AFRICANA VEM NOS ORGULHAR”

“Está parte é a religião, é o costume, matiz é o costume, a religião, é o que se cultua na África. A herança da coragem, porque é sempre um povo sofrido, embora na África também tem alegria, e nos retratam os isso na melodia, mas é também um povo muito sofrido que está sempre lutando, tem sempre uma resistência, uma resistência como a madeira, a força africana que nos orgulha”.

“AZUL E “BANTO”, AGUERÊ E ALUJÁ / PRA POEIRA LEVANTAR, DE CRIOULA É MEU TAMBOR / ILUAYÊ NA GINGA DO MEU LUGAR / PORTELA É BAOBÁ NO GONGÁ DO MEU AMOR”

“Banto é um indivíduo pertencente aos Bantos, grupos etnolinguísticos africanos. Esses indivíduos se juntam ao azul da Portela. A Portela com esses indivíduos. “guerê” é o toque atribuído a ‘Odé’, o caçador, o Oxóssi, protetor da Portela. “Alujá” é o toque atribuído à Xangô. ‘Iluayê’, terra distante, mas também fazendo alusão ao samba da Portela. ‘Iluayê, Iluayê Odara’, o último enredo africano que a Portela fez”.

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