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Por Gabriella Souza

Tom histórico e religioso é que o Paraíso do Tuiuti representará a trajetória de Dom Sebastião, rei de Portugal no século XVI e de São Sebastião, padroeiro e defensor da cidade do Rio de Janeiro e da escola, a relação do Rei com o Santo é expressa na data de nascimento do Rei que é a mesma do dia em que o Santo foi flechado, 20 de janeiro. Trazendo também a história de ambos em relação com a da cidade do Rio. O Tuiuti irá mesclar devoção, história e a toda a mística desses dois personagens, criadas pelo povo brasileiro, precisamente no Maranhão onde rezam lendas sobre Sebastião. Representará, assim, o sebastianismo como a ponte de esperança do povo brasileiro perante sua dura realidade.

O enredo “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião” tem a assinatura do carnavalesco João Vitor Araújo. O jovem carnavalesco é um dos principais nomes da nova geração e já obteve títulos no Acesso. Ainda mais, João é o único carnavalesco negro a assinar sozinho um enredo do Grupo Especial. Já a obra que irá representar a São Clemente na Avenida é dos compositores Anibal, Julio Alves, Claudio Russo, Moacyr Luz, Píer e Tricolor.

O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens intitulada “Samba Didático” entrevistou o compositor Claudio Russo e o pesquisador da escola João Gustavo Melo para saber mais sobre os significados e as representações por trás de alguns versos e expressões presentes no samba da azul e amarelo de São Cristóvão.

‘O IMPERADOR MENINO’

“Representa o sonho do povo português, personificado em Dom Sebastião, de reviver o apogeu dos antepassados e ser o centro do império mundial cristão” conta o pesquisador João Gustavo Melo.

‘UM SEBASTIÃO NÃO FALHA’

“Dom Sebastião nasceu no dia do santo que lhe emprestou o nome e o mesmo se dá com a cidade do Rio de Janeiro. Fatores que são intrinsecamente ligados, a essência de nosso enredo. Nos permite dizer que um Sebastião não falha, seja ele Santo, rei ou a cidade maravilhosa”. explica Claudio Russo.

‘CABOCLO ENCANTADO’

“Diz-se que na Casa das Minas, templo da encantaria ‘Mina Jejê’ em São Luís do Maranhão, que Dom Sebastião baixa na forma de um caboclo”, diz Claudio Russo.

‘TOURO COROADO’

“Este verso conta a lenda de que na praia dos Lençóis, no Maranhão, Dom Sebastião teria a forma de um majestoso touro negro coroado, a ser desencantado se alguém cravar uma espada na estrela sobre a testa do místico animal”, explica João Gustavo Melo.

‘ATÉ MUDOU O FADO’

“Aqui nós usamos do simbolismo do ritmo, tão português, para dizer que vindo para águas e terras do Brasil a crença na volta do Rei muda de tom e forma. Que por conta da mudança do Fado, agora são outros batuques”, destaca Claudio Russo.

‘PEDRA BONITA PÔS O SANTO NO ALTAR’

“Relembra o massacre da Pedra Bonita, localidade pernambucana na qual foi formada uma comunidade de seguidores que acreditavam no retorno de Dom Sebastião. Tal crença, levada ao limite da morte e da loucura, fez com que a memória de Dom Sebastião o fizesse reviver como um santo em um altar imaginário. Os moradores do povoado foram mortos pelo governo central brasileiro, que não admitiu a formação de um estado paralelo em pleno sertão nordestino”, explica João Gustavo Melo.

‘RIO, DO PEITO FLECHADO’

“Faz uma louvação à cidade nascida a flecha e fogo, o Rio de Janeiro, fundada por Estácio de Sá em 1565, sob o reinado de Dom Sebastião. Em 20 de janeiro de 1567, dia consagrado ao Santo e aniversário do Rei, deu-se a sangrenta batalha de Uruçumirim, na qual Estácio de Sá foi atingido por uma flecha envenenada em confronto direto com os Tamoios. A cidade forjada na violência hoje atira “flechas perdidas” contra o próprio povo”.

‘SANGROU A TERRA, ONDE A PAZ CHOROU A GUERRA’

“O verso traduz poeticamente o derramamento de sangue ocorrido nas comunidades sebastianistas no sertão nordestino no Século XIX. Os principais focos dessa resistência foram a Serra do Rodeador e na Pedra do Reino, em Pernambuco e em Canudos, na Bahia. Em todos esses povoados, acreditava-se na volta de Dom Sebastião para libertar o povo da miséria. Em todas elas, o governo brasileiro derramou o sangue dos que acreditavam em um destino melhor”, conta João Gustavo Melo.

‘RIO-BATUQUEIRO’

“A cidade que desvia das flechas perdidas se apega aos santos e toca os tambores nos terreiros para atrair energias positivas”, destaca João Gustavo Melo.

‘OXOSSI, ORIXÁ DAS COISAS BELAS’

“Nos terreiros do Rio de Janeiro, Oxóssi é louvado como divindade correspondente a São Sebastião. Oxóssi é o orixá das coisas belas, como a arte, a dança, a música e a escultura”, diz Claudio Russo.

‘ORFEUS TOCAM LIRAS NA FAVELA’

“A resistência a tudo isso que vivemos, todas atrocidades cometidas contra a população está na arte, está em casa, na favela que respira música, dança, sentimentos de orfeus”, explica Claudio Russo.

‘A CIDADE DAS MAZELAS’

“Representa o contraste entre as mazelas vividas nas comunidades cariocas e a produção musical e artística que explode em criatividade nas favelas da cidade fundada no reinado de Dom Sebastião e abençoada pelo padroeiro São Sebastião”, conta João Gustavo Melo.

‘NO ALTO DO TERREIRÃO’

“Todo 20 de janeiro o paraíso do Tuiuti, saúda o seu padroeiro, subindo o morro desde o alto do terreirão até o Cruzeiro. Salve São Sebastião”,  conta Claudio Russo.

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