O samba-enredo da Portela não estava entre os mais festejados quando da escolha em setembro de 2021. Com um bom trabalho do carro de som comandado por Gilsinho, e muito ensaio nas quadras, a obra foi uma das que mais cresceu até o desfile. A letra, pouco criticada neste período, acabou sendo a maior responsável pela música perder décimos na avaliação dos jurados. O samba embalou o enredo que apresentava os Baobás, árvores testemunhas dos tempos imemoriais, sendo apresentado com um viés de celebrar a ancestralidade destes elementos da natureza bastante cultuados na África e nas religiões de sua matriz. Mas para a jurada Alice Serrano, a utilização de palavras e termos das etnias referentes ao continente prejudicou a compreensão da obra.
“A utilização de palavras e termos de etnias e nações africanas prejudicou a compreensão de alguns versos, como no refrão do meio, em que as palavras ‘Ayeraye’, ‘mão de Ofá’, ‘aluá’, ‘coité’, ‘dandá’ ficaram sem coesão, pois com a função narrativa prejudicada, comprometendo inclusive o canto. Quanto ao refrão, o principal tem quatro rimas em ‘a/á/ar’ com mais quatro iguais no refrão do meio, sendo que as outras rimas ‘o/or’, ou ‘é’ e a utilização dos termos afro, também não trouxeram enriquecimento à letra”, justificou, ao dar 9,8 para a Azul e Branco de Madureira.
Alessandro Ventura do terceiro módulo de julgamento retirou um décimo também da letra, justificando que o “Azul e Banto” do refrão principal prejudicou a produtividade da poesia na letra.
“O rendimento poético do refrão principal é prejudicado por discrepância semântica dos termos “Azul e Banto”, que num esforço de produção de trocadilho, foram postos numa posição de equidade gramatical e de sentido. A beleza poética do verso e de todo o refrão foi obliterada pelo uso deste expediente. Isto posto, está respaldada a despontuação de (0,1) (letra)”, justificou Alessandro.
Os jurados Clayton Fábio Oliveira, Felipe Trotta e Alfredo Del-Penho julgaram o samba da Portela com a nota máxima.