Por Gabriella Souza e Rennan Laurente

“Um velho ditado é quem diz, Salgueiro tem uma raiz que nasce forte em qualquer lugar”. Esse samba de Branca Di Neve e que se tornou um dos sambas de esquenta mais famosos da escola expressa bem a relação com suas origens. A raiz salgueirense fica no morro que leva o mesmo nome, na Zona Norte do Rio. Lá, subindo as ladeiras, aconteceu o último ensaio nesta última quinta-feira. O lugar escolhido foi a histórica quadra do bloco Raízes da Tijuca, antiga sede da escola e local onde foi fundada. Emoção teve de sobra no olhar de cada componente, diretor e público que lotou o espaço para acompanhar o treino durante às 1h10, com grande emoção do começo ao fim, canto aguerrido e pulsante dos presentes, fez o povo vibrar e os componentes tirarem os pés do chão e levarem as mão para o alto. A vermelho e branco caminha para a finalização de mais uma temporada com a certeza de que emoção e garra não faltarão na Avenida.

Harmonia 

Impossível é não tirar um sorriso largo de qualquer salgueirense assistindo a apresentação de Emerson Dias e Quinho, a dupla foi formada para o carnaval de 2019 e já demonstra um perfeito entrosamento e grande amizade. Ambos são a cara da escola e representam a pulsação em carro de som que os componentes gostam. Para reforçar o clima de emoção que já estava com cada salgueirense, o carro de som fez uma arrancada histórica de meia hora relembrando vários sambas antigos e marcantes na trajetória da escola. Os componentes cantaram muito, com força e explosão, a voz de cada pessoa presente ecoou na quadra e emocionou.

Salgueiro sobe o morro e comunidade explode com ensaio emocionante

Emerson e Quinho pulavam, dançavam e sambavam com público, em casa ficou tudo mais leve e alegre e com apoio de um carro de som formado por diversos cantores excelentes e potentes, na medida certa. Os dois revezavam em alguns sambas, mas explodiram ao relembrar o belíssimo samba de 2019 (Xangô), o entrosamento deles e a conexão com a escola faz o Salgueiro atingir um nível alto de presença.

Emerson Dias falou da importância da escola realizar este ensaio no seu morro, ficar perto de sua comunidade e da emoção que ele sente de estar lá. Ressaltou ainda que nesta reta final o trabalho do carro de som já está encaminhado e que o momento agora é de reduzir o ritmo e descansar para o desfile.

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“Esse ensaio aqui tem muita importância para nós, é aqui que a gente pega a energia do povo, da nossa ancestralidade, da comunidade, do salgueirense raiz mesmo. E essa interação que a gente tem com o público é importante, nós estamos um pouco afastados do morro e voltar aqui para fazer esse ensaio é essencial, é muito vibrante. Essa reta final é mesmo a hora da gente descansar a voz. Fechamos no ensaio de rua no domingo e depois é só esperar o Salgueiro vir grandioso na segunda-feira de carnaval. Vamos com tudo”, disse.

Evolução

A estratégia utilizada pela diretoria de harmonia e evolução da escola para esse ensaio foi aproveitar todo o espaço da quadra, mesmo que reduzido, ‘apertando’ coube a escola inteira. A organização funcionou bem, a bateria ficou posicionada na parte central da quadra, carro de som em uma tenda no canto e a escola percorrendo todo o espaço envolta da bateria. Funcionou, os componentes evoluíram sob o controle dos diretores, muito organizados e disciplinados, e rodaram a quadra em em ensaio para aproveitar e sambar seu carnaval que já se aproxima. Mão para o alto, samba no pé, pulos e muita animação marcou o treino com a escola presente em peso, mesmo com uma garoa, ninguém perdeu o único ensaio na quadra histórica.

O brilho ficou com a explosão da sempre talentosa ala do coreógrafo Carlinhos do Salgueiro que deu um show à parte com coreografias empolgantes, chamando o público a vibrar junto. Este treino foi para deixar o componente salgueirense mais leve, poder curtir sem muita pressão mas lembrando do que deve ser feito, e fechando o trabalho no último ensaio de rua no próximo domingo e com o trunfo do desfile na Sapucaí. E foi, todos saíram satisfeitos, aos olhos marejados e com uma recarga de energia.

O diretor de harmonia Jô Casemiro destacou a significado para a escola de realizar um treino na quadra do Raízes. E que mesmo com o foco emocional o treino foi também para ajustar alguns detalhes técnicos, disse ainda que a escola já está pronta para pisar na Sapucaí.

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“Esse ensaio aqui no morro representa muito, é uma luta que nós tivemos quatro atrás de conseguir trazer o Salgueiro ao encontro com seu povo, essa é a quadra onde começou a escola e esse chão aqui tem muita história. A gente está pisando no lugar em que formou o Salgueiro e todo mundo que vem se emociona muito. A escola está firme e convicta do seu trabalho, usamos esse ensaio também como preparação para a Avenida e principalmente para buscar a energia desses torcedores que são os mais autênticos do Salgueiro, tem salgueirense em todo lugar mas com o amor que esse pessoal do morro tem não existe. O Salgueiro já está pronto e a nossa finalização é só na hora do desfile, fazer aquela curva e dar tudo certo” contou Jô muito emocionado.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos do Salgueiro, Sidclei e Marcella Alves é de excelência e experiência no carnaval, o entrosamento e carisma deles é bonito de ver. O treino desta quinta não foi de grandes coreografias ou longos giros, visto o espaço reduzido da quadra e foco em ser um ensaio mais leve. O que teve foram alguns passos da coreografia oficial que demonstrou uma sutileza grandiosa, ela baila com elegância e ele com a leveza de movimentos precisos e executados com naturalidade. Os giros dos dois são exatamente sincronizados e os passos também acompanham a harmonia do samba, tudo na medida certa.

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Bateria

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A bateria Furiosa, comandada pelos mestres Guilherme e Gustavo, é uma das baterias que mais estão entrosadas com o enredo e o samba para este ano. O trabalho foi pensado para inserir na construção de suas bossas a musicalidade do circo e fazer a bateria desfilar com o Salgueiro nesta grande troupe pela Avenida, como explica Gustavo, que ressalta também o trabalho de resgate que eles estão assumindo dentro da bateria.

“Essa temporada foi muito boa, nós começamos os ensaios em julho. Nós focamos bem no ritmo, tentando mesmo resgatar a época do mestre Louro, da antiga bateria do Salgueiro, como a afinação, a presença do tarol e fizemos esse trabalho no começo focados nessa questão. Quando o enredo foi escolhido nós começamos a fazer um trabalho de pesquisa das trilhas sonoras dos circos, por isso que hoje estamos tocando batidas que fazem parte dessas trilhas sonoras de músicas circenses. Procuramos mesmo não fazer algo mirabolante mas algo que se encaixasse bem com a sinopse do enredo e também o carro de som, a harmonia também está bem em cima das nossas bossas e está tudo bem encaminhado. Agora é só esperar o dia do desfile para contemplar esse trabalho”, declarou.

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Os mestres que também são irmãos foram escolhidos para a comandar a bateria no carnaval de 2019 e o trabalho tem sido elogiado. A bateria do Salgueiro ganhou mais organização e o andamento encaixou, mas o principal foi o resgate, como citou Gustavo, de trazer de volta elementos, batidas e a antiga identidade e personalidade da Furiosa. Os ritmistas são muito talentosos, destaque para as alas de chocalhos e caixas que são excepcionais. O que faltava era a organização e a técnica que já são notáveis. Talento é o natural de sobra do ritmista salgueirense que mostra a força e o peso de uma bateria renomada.

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Guilherme conta que os últimos ensaios são para finalizar detalhes que ainda faltam na bateria mas que o momento agora é de focar no objetivo comum, o desfile.

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“Temos agora praticamente uma semana de trabalho e é o momento em que finalizamos os últimos detalhes nesses ensaios finais, o que é muito importante. No dia do desfile sempre tem aquela euforia e tensão, mas eu acho que a galera que toca aqui já tem muita experiência de desfile e não tem muito mistério, o que a gente pede mesmo agora é que tenham foco. Esse ensaio aqui na quadra onde o Salgueiro surgiu tem toda a questão da energia, é bom ter a comunidade perto”, destacou.

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