728x90
InícioGrupo EspecialSalgueiro de corpo fechado! A comunidade salgueirense e sua espiritualidade

Salgueiro de corpo fechado! A comunidade salgueirense e sua espiritualidade

O CARNAVALESCO conversou, no último domingo, durante o teste de som e luz na Sapucaí, com componentes do Salgueiro sobre o enredo e samba de 2025. Este ano, a Academia do Samba apresenta o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, sobre a busca por proteção espiritual do povo brasileiro. 

Diana Maciel 1
Diana Maciel, de 39 anos, que desfila há 18 pelo Salgueiro

“A proteção espiritual é muito importante porque nos livra dos males do mundo, dá segurança e renova a nossa fé. Ela blinda a gente das maldades do mundo. Você quando se sente blindado na religião que você esteja, você fica blindado realmente porque a sua fé e sua mente mandam em tudo. Você se sente muito mais protegido, muito mais confiante para você agir na sua vida”, disse a técnica de enfermagem Diana Maciel, de 39 anos, que desfila há 18 pelo Salgueiro. Diana cresceu na umbanda.

Enzo Menucci
Enzo Menucci, de 25 anos, que estreia no Salgueiro em 2025

“Tem que estar sempre em dia com as nossas responsabilidades não só para ficar protegido na rua, no dia a dia, mas para que a vida possa caminhar de uma maneira tranquila. Tem muita gente que vê a religião como algo que vai trazer muita riqueza, vai trazer muitas coisas. Na verdade, eu acho que a grande riqueza é a gente viver tranquilo, sem nenhuma doença, trabalhar bem”, opinou o internacionalista Enzo Menucci, de 25 anos, que estreia no Salgueiro em 2025. Enzo também encontrou-se na umbanda.

Ronaldo Martins
Ronaldo Martins, de 56 anos, que desfila pelo Salgueiro desde 2003

“Todo mundo tem uma superstição. Todo mundo tem uma busca, proteção, apoio em alguma coisa”, defendeu o contador católico Ronaldo Martins, de 56 anos, que desfila pelo Salgueiro desde 2003. Natural de Belém do Pará, Ronaldo é devoto de Nossa Senhora de Nazaré.

Composto por Xande de Pilares, Pedrinho da Flor, Betinho de Pilares, Renato Galante, Miguel Dibo, Leonardo Gallo, Jorginho Via 13, Jefferson Oliveira, Jassa e W Correa, o samba-enredo do Salgueiro é o mais ouvido do ano nas plataformas de áudio, acumulando mais de 1,5 milhão de plays no Spotify. A canção conquistou o público e, sobretudo, a comunidade salgueirense, que a entoa na Sapucaí como um mantra.

“Eu decorei o samba desde a antes da escolha do samba, porque para mim era o melhor samba para escolha, foi o melhor samba para a escola. O samba está na ponta da língua e o Salgueiro está de corpo fechado. A minha parte preferida é a que fala do seu Zé. Essa parte mexe com o salgueirense, exalta o salgueirense e puxa todo mundo”, dividiu Diana.

“O samba é lindo, é melódico. Ele conta bem o enredo, ele ajuda a gente a entender o enredo, como um bom samba. Pegou na avenida. É o samba do ano, é o samba do ano indiscutivelmente. Ele faz o componente cantar com emoção, com vibração, que é o mais importante”, sustentou a atriz, roteirista e diretor

Ti Ferreira
Ti Ferreira, de 36 anos. Salgueirense a vida toda, Ti participa dos desfiles pela quarta vez

“Ser ateu que não quer dizer que eu não admire e não entenda sobre as religiões. Cada uma dentro do seu espectro tem coisas positivas, coisas negativas e o enredo trata do corpo fechado em diversas religiões, o que é uma sacada. Mais como um mosaico de corpos fechados para a gente entender de onde vem essa cultura. Informação é tudo. Para poder conversar, entender o lado de outra pessoa que acredita nessa espiritualidade, é importante a gente entender de onde ela vem”, explicou.

Quanto ao refrão, “Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá”, Enzo o considera potente: “O Salgueiro é uma escola que não tem medo de botar a cara e falar que é macumbeiro mesmo. É bater a mão no peito e falar ‘sou macumbeiro, mandingueiro mesmo’”.

O jovem acredita, no entanto, que os versos “Quem tem medo de que mandinga não nasceu para demandar” são os mais bonitos do samba.

“Está implícito ali a responsabilidade da religião, um comprometimento e que não é só só coisas boas. As coisas que a gente faz também tem também consequências, você tem que tá preparado que pode voltar para você assim. Isso é uma coisa que demanda coragem”, argumentou.

Para Diana, o refrão é coerente com o posicionamento histórico da Academia do Samba.

“Eu acho que define bem o sambista, principalmente o salgueirense, que tem um tem uma tradição de falar dos negros, de falar da negritude. Macumbeiro tem um cunho meio pejorativo, você xinga a pessoa: ‘seu macumbeiro’. E aqui a gente tá batendo no peito, somos macumbeiros sim com muito orgulho”, expressou ela.

O bate-papo foi encerrado de maneira bem-humorada, ao questionar os participantes se a sua casa é a casa da mandinga, em referência ao verso do samba.

“Com certeza. Tem copinho d’água, vela acesa, ponte da guarda, todas essas coisas”, revelou Enzo.

“Sem sombra de dúvidas. Protegida por Maria Mulambo e Maria Padilha”, declarou Diana.

“Às vezes sim. Em alguns momentos, sim. Apesar de ser católico, apesar de ser devoto de Nossa Senhora, a gente sempre tem alguma coisa que a gente pega da matriz africana para se proteger mesmo”, finalizou Ronaldo.

- ads-

Mocidade Alegre traz linda estética e conta com grande atuação do casal de mestre-sala e porta-bandeira

Atual bicampeã do carnaval paulistano, a Mocidade Alegre foi a terceira agremiação a desfilar no sábado de carnaval no Grupo Especial. Esteticamente, a escola...

Comissão de frente criativa e instrumentos de sopro na bateria marcam desfile do Império de Casa Verde

O Império de Casa Verde desfilou neste sábado pelo Grupo Especial de São Paulo no carnaval de 2025. A criativa comissão de frente, a...

Águia de Ouro abre o sábado de carnaval com a força do canto da Vila Pompeia

O Águia de Ouro abriu o sábado de carnaval realizando um grande tributo musical em homenagem ao Benito di Paula. Foi um enredo contado...