Por Carolina Freitas, Marielli Patrocínio, Marcos Marinho e Gabriel Radicetti
Netinhos do Tuiuti
Às vésperas do Desfile das Campeãs, a Sapucaí foi preenchida por pequenos sambistas no desfile das escolas de samba mirins, que têm o propósito de envolver as novas gerações no universo carnavalesco. Elas possuem a mesma estrutura das escolas tradicionais, com alas, carros alegóricos, samba-enredo e fantasias, mas com um toque de pureza e inocência que só as crianças podem proporcionar. Ao todo, 17 agremiações desfilaram e quem abriu foi a Netinhos do Tuiuti, filha da Paraíso do Tuiuti, com o enredo “Alegria”, reedição do samba de 1982 da matriarca.
Esse é o primeiro ano que Davi Albuquerque, de 12 anos, desfila na Azulzinha e Amarela, na ala da comunidade. Ele vem de uma geração de familiares que desfilam em várias escolas do Carnaval do Rio. Segundo sua mãe, Rafaela Oliveira, de 35 anos, eles têm parentes que são ou já foram passistas, rainhas de bateria, integrantes da Velha Guarda, dentre outros setores, e foi por indicação de um deles que o menino ingressou na Netinhos. Sobre a experiência, o garoto diz: “Gosto muito de carnaval, é uma data muito emocionante para mim, que já desfilo desde os meus 8 anos de idade. Estou animado e minha expectativa é dançar e quebrar tudo na avenida”. O sonho dele é ser ritmista na bateria da escola nos próximos anos.
“A intenção dos Netinhos do Tuiuti é implantar projetos sociais. Vamos enfrentar dificuldades, porque tem muita gente indo contra, mas estamos aqui para lutar contra o sistema. Quem implanta o bem, colhe o bem. Batalhamos pelo futuro das nossas crianças, que precisam de educação e conhecimento, e o samba é o melhor caminho para promover isso a elas. Mas não é fácil colocar um carnaval de criança na avenida sem nenhum apoio financeiro. Só contamos com a ajuda da nossa escola mãe, que nunca foi uma escola, e sim, uma comunidade que passou a ter notoriedade a partir de 2018. Não temos subvenção porque nós somos uma escola convidada, por isso, precisamos trabalhar com que temos. Viemos hoje com o nosso amor, carinho e determinação para mostrar que no Morro do Tuiuti tem sambista! Ano que estaremos aqui muito, mais fortes”, complementa Joseane de Almeida Pimenta, presidente da escola.
Pimpolhos da Grande Rio
Cria da vice-campeã carioca de 2025, a Pimpolhos da Grande Rio é uma das escolas mirins mais tradicionais do Carnaval brasileiro. A tricolorzinha desfilou na Sapucaí em uma passagem marcada pela alegria, criatividade e energia das crianças e adolescentes, que além de cantarem e dançarem o samba do seu enredo “Uma viagem encantada pela língua tupi”, também se divertiram cantando à plenos pulmões o samba da escola mãe, “Pororocas Parawaras”.
Os desfiles das escolas mirins também são uma oportunidade para os pequenos sambistas mostrarem seu talento e encantarem o público, provando que o futuro do Carnaval está em boas mãos. Um bom exemplo é o do mestre Pablo Yago, o caxiense que aos 13 anos de idade já comanda a bateria da Pimpolhos.
“Estou na Pimpolhos desde os 4 anos de idade. Já frequentava os ensaios desde bem pequeno, e com 10 anos consegui virar mestre mirim, para esse ano conseguir me tornar mestre oficial da escola. A sensação de fazer parte disso é incrível, uma emoção única. Não tem palavra que define o que senti na hora que estava vindo para cá. Espero que essas oportunidades se repitam mais e mais vezes” diz o garoto, que também avaliou seu desempenho profissional. “Acho que estou indo bem. Muitas pessoas me elogiam, graças à Deus. É muito bom receber esse, principalmente sobre algo que eu amo, que é a bateria”. Sobre o futuro, ele sonha em um dia ser mestre da Inovada, bateria oficial da Grande Rio.
Inocentes da Caprichosos
A Inocentes da Caprichosos foi a terceira escola a atravessar a Sapucaí no desfile das escolas mirins. Com uma comissão de frente bem ensaiada e muita fofura, os pequenos da filha da Caprichosos de Pilares encantaram a avenida com o enredo “Amarú Mayú – Um Inocente passeio amazônico na Sapucaí”. Além de levar alegria para as pessoas, o samba também é uma ferramenta de transformação social, e as escolas de samba mirins desempenham um papel muito importante como espaço de inclusão juvenil, sendo a Inocentes uma das referências nesse quesito. Crianças e adolescentes de todas as origens, classes sociais e habilidades se reúnem para celebrar a diversidade cultural e praticar o respeito aos colegas.
“Nossa escola é maravilhosa, porque trabalhamos com inclusão mesmo. Temos pessoas PCDs em todos os nossos segmentos, tanto na bateria, quanto em diversas alas, como passistas, e todas as outras. Esse negócio de botar uma ala só de PCDs não é inclusão. Aqui nós tratamos todos como iguais”, afirma Fátima Vinhas, uma das diretoras da escola, que é a mãe orgulhosa do mestre-sala João Victor, 24 anos, portador de Síndrome de Down, assim como sua parceira, a porta-bandeira Kelly Sabrine, de 34 anos. Apesar da idade, eles permanecem na escola por conta de suas jornadas e representatividade dentro da agremiação.
“Entrei em 2015 como passista, e depois virei porta-bandeira. Estou muito feliz, principalmente porque hoje viemos à frente da bateria. Era meu sonho. Na verdade, meu sonho mesmo é ser rainha de bateria. Quem sabe um dia. Quero continuar muitos anos na escola, porque o Carnaval e a dança me fazem bem, deixam meu coração feliz” diz Kelly, radiante. Assim como ela, João Victor também tem sangue de músico correndo nas veias. Aluno do Claudinho da Beija-Flor, ele também toca pandeiro, violão e tamborim em um grupo de pagode de Madureira. “Estou feliz aqui, amando. Gosto muito de sambar e amei vir à frente da bateria”, diz o rapaz.
Infantes do Lins
A escola mirim Infantes do Lins desfilou na Sapucaí com o enredo “João, o Menino dos Ritmos do Brasil”, que celebra a diversidade musical brasileira. Nada melhor do que esse tema ganhar uma homenagem na apoteose da música, com anfitriões tão especiais. Com muito gingado e fantasias bem caprichadas, as crianças e adolescentes da comunidade da Zona Norte mostraram que a tradição das escolas continua viva e forte nas novas gerações.
O diretor de harmonia André Luiz da Silva, de 45 anos, fala com orgulho sobre sua filha, Alana Vitória, que aos 9 anos á brilha como princesa de bateria da Infantes. Ele se gaba pelo fato de ter passado esse amor pelo samba de avenida para a pequena: “Nós dois somos crias da comunidade e até hoje moramos no Lins. Cheguei na escola através da minha falecida mãe. Comecei na escola mirim, já fui mestre-sala, empurrador de carro, diretor de bateria, e hoje eu estou trazendo minha filha, que está continuando meu legado. Daí vem a importância das escolas mirins. Sem elas, não é possível fazer o espetáculo do adulto, pois temos que ensinar os componentes desde pequenos, para que eles tenham estrutura quando chegarem na fase adulta”, diz o papai coruja. Já sua princesa, mostra que nasceu para o cargo quando declara “O desfile hoje foi bom e maravilhoso. Amo desfilar. Sinto alegria e nervoso”. Questionada sobre o nervosismo, ela garantiu que não tem medo do público, e afirmou que adora ser o centro das atenções. Sobre o futuro, ela diz que se vê “desfilando e ajudando as outras meninas que ainda não sabem”. Um show de fofura!
Golfinhos do Rio de Janeiro
A Golfinhos do Rio de Janeiro foi a quinta escola de samba mirim desfilar na Sapucaí na noite da última sexta-feira. Os pequeninos da Amarelinha e Azul levaram para a avenida o enredo “A aventura do Golfinho, Vitória-Régia, Boto-cor-de-rosa e Iara na Amazônia Azul”, celebrando o nosso folclore. O CARNAVALESCO bateu um papo com os intérpretes mirins Gabriel Reis e Sofia Polinário, que compõem a dupla de estrelas da escola da Zona Sul.
Meu irmão também é intérprete. Ele tá me fazendo evoluir bastante. “Esse é meu segundo ano aqui na Golfinhos. Cheguei na Golfinhos por meio do meu irmão, Juan Reis, que também é intérprete. Ele canta na Intendente Magalhães, faz parte do carro de som da Em Cima da Hora e cantou hoje com a gente. É muito especial estar nessa escola, que ainda é pequena, mas que se Deus vai aumentar, afinal, é muito importante formar esses pequenos, porque quem vai ficar com as escolas grandes daqui a um tempo, são eles. Somos o futuro do samba. Por exemplo, daqui uns anos, eu me vejo sendo um intérprete muito grande junto com meu irmão”, confessa o jovem Gabriel.
Sofia também compartilhou sua jornada como cantora mirim de samba: “Tudo começou com o meu pai, Cláudio Russo, que é compositor de samba-enredo, e me levava para as gravações dos sambas dele. E nisso, ano retrasado, o Bruno Ribas (famoso intérprete) me viu e me levou para cantar no carro de som da Unidos de Padre Miguel. Depois o Bruno, o compositor do samba da Golfinhos, me convidou para integrar a Golfinhos. Hoje estou estreando com o Biel. Adoro cantar aqui, é de uma energia muito boa. E que seja só o começo. Futuramente, me vejo numa escola grande cantando os sambas do meu pai”. O papai Cláudio fez questão de falar sobre o orgulho de ver a filha continuando seu legado artístico, enquanto faz um apelo: “Ela faz algo que eu não faço, que é cantar, por isso, é muito especial ver ela seguir o caminho dela a partir da oportunidade que recebeu. O futuro é esse. Vamos envelhecendo e os novos vão chegando. O papel das escolas minins é fundamental nesse processo, porque muitas escolas que chamamos de escola mãe, se afastam da comunidade, enquanto a escola mirim é a comunidade. O futuro só vai acontecer se dermos valor à essas escolas. É necessário, e seria bom que as entidades governamentais dessem mais apoio. A estrutura aqui poderia ser melhor. Quem vai fazer o carnaval daqui a 10, 15, 20 anos, são eles”.
Corações Unidos do Ciep
O futuro do samba brilhou intensamente na Marquês de Sapucaí na noite da última sexta-feira, com o desfile da ‘’Corações Unidos do Ciep’’, quinta escola mirim a desfilar na avenida. Com um enredo vibrante e educativo chamado ‘’Africanidades, africanices, a nossa ancestralidade’’, a escola encantou o público ao exaltar as raízes africanas presentes na cultura brasileira.
“Nós vamos falar dos povos africanos e a Comissão de Frente vem representando a Rainha dos Ventos e o Leão, que é o senhor dos senhores que comanda o mundo. Vamos arrasar, tenho certeza disso. Esse é meu primeiro ano na escola e estou muito confiante de que vai ser o primeiro de muitos”, declarou Bianca Estumbo, coreógrafa da Comissão de Frente, da Corações Unidos do CIEP.
A escola trouxe referências à realeza africana, orixás e manifestações culturais. Crianças e adolescentes mostraram desenvoltura e orgulho ao defender um tema de extrema relevância histórica e social. “Nosso enredo é muito baseado na africanidade, falando a respeito de todas as culturas, de tudo o que nós devemos prover e agradecer a tudo que veio da África e estar aqui até hoje nos proporcionando coisas boas’’, afirma Zilda, professora da escola Nelson Romero e representante de alas da escola.
No setor da bateria, ritmistas mirins deram um show ao som do samba-enredo empolgante, que ecoava versos como “De trancinha, tão bonita, na avenida eu vou brilhar”. Malandro vai tocar o berimbau, vai jogar capoeira e brincar o carnaval’’.
Para Zilda, integrante da agremiação, os desfiles mirins são fundamentais para a ampliação cultural na infância. ‘’Primeiro, trazer alegria às crianças. Segundo, ampliar a cultura. Poucas crianças têm o acolhimento, poucas crianças têm a condição de estar saindo um pouquinho daquele mundinho deles e vendo algo maior, vivenciando e crescendo também seus conhecimentos, seus viveres’’, destaca.
Herdeiros da Vila
Uma emocionante homenagem foi feita ao lendário personagem Zé do Caroço, com uma apresentação vibrante da escola de samba mirim “Herdeiros da Vila”. O enredo, inspirado na canção de Leci Brandão, exaltou a figura do líder comunitário símbolo da luta por justiça social nas favelas cariocas. As crianças e adolescentes da escola mirim trouxeram para a avenida um desfile pulsante. O samba-enredo contagiou o público ao narrar a história de Zé do Caroço, um homem que desafiou as estruturas do poder ao dar voz ao povo por meio de seu alto-falante no Morro do Pau da Bandeira.
“O enredo é a cara da nossa comunidade. Nós vamos falar sobre o Zé do Caroço. O enredo é “Quem avisa é o Zé”. Vamos falar de toda a participação cultural, expressiva dele dentro da comunidade do Morro do Macaco e Pau da Bandeira. É um enredo que todo mundo adorou, gostou e apostou, viemos mostrar na avenida com um grande samba feito pela nossa Lecy Brandão”, declara Felipe Duarte, presidente da escola mirim há 2 anos.
Além do espetáculo visual e musical, a escola mirim emocionou ao trazer para a avenida crianças que vivem em comunidades e que, como Zé do Caroço, sonham com um futuro melhor. Em meio aos passistas e ritmistas, pequenos porta-vozes do samba carregavam cartazes com frases como “A Vila Isabel Verdadeira”. “Ser presidente da Herdeiros da Vila, onde passaram pessoas importantíssimas que estão hoje no grupo especial, foi fundada por grandes mestres e eu estou hoje nessa posição que muito representa a nossa comunidade de Vila Isabel, Morro dos Macacos, Pau da Bandeira e é emocionante a gente falar de Herdeiros da Vila, falar de pessoas que passaram por aquela comunidade forte, unida e em favor do samba. As crianças são tudo para gente na nossa comunidade”, destaca Felipe Duarte.
Tijuquinha do Borel
A Marquês de Sapucaí foi palco de um espetáculo emocionante na noite da última sexta-feira, quando a escola de samba mirim, Tijuquinha do Borel, desfilou com um enredo que tocou o coração do público. Com o tema ‘’Para que crianças sejam só crianças… Cuidar da infância é dever do mundo’’, os pequenos foliões brilharam na avenida, levantando uma bandeira essencial, a necessidade de proteger e respeitar a infância. O desfile trouxe um espetáculo de alegria e consciência social, reforçando a importância de garantir que todas as crianças tenham acesso ao direito de serem felizes.
‘’O nosso enredo esse ano é voltado para movimentos sociais, ou seja, o próprio resgate do adolescente e da criança, esse é o nosso tema. Nós temos a bailarina, nós temos o jiu-jitsu, nós temos o jogador de futebol, nós temos o pessoal da música, nós temos os formando que é quando a criança completa o ciclo da escola, a gente vem abrangendo o movimento cultural e social. É muito importante quando a criança pode mostrar aquilo que ela gosta e está representando aquilo que ela está fazendo. Por exemplo, o menino que está ali que tá de kimono, ele faz jiu-jitsu. Ele está aqui representando aquilo que ele faz e o que ele gosta de fazer. Você traz a criança, você traz a família da criança, a família se mobiliza para vir assistir às suas crianças desfilando, eu acho que é muito importante esse momento em que você reúne pais, mães, avós, tios para ver o seu neto, seu filho desfilar na avenida. Porque carnaval pode parecer uma brincadeira, mas não é’’, afirma Aparecida, do departamento jurídico da Tijuquinha do Borel há 17 anos.
A responsável afirma amar o que faz, com alegria e prazer de resgatar crianças da comunidade do Borel e de outras comunidades que a Tijuquinha é aberta, para um trabalho futuro dentro do samba, para eles conhecerem e amarem o samba. ‘’É um envolvimento muito grande das pessoas e das crianças também, porque a criança quando se compromete a participar da bateria, da passista, do mestre-sala, do artesanato, elas são fiéis a isso. Elas estão naquele grupo para aprender a fazer alguma coisa’’.
A bateria, composta por jovens ritmistas, marcou o ritmo com energia contagiante. O samba-enredo, cantado com entusiasmo pelos pequenos integrantes da escola, empolgou quem acompanhava o desfile.
Aprendizes do Salgueiro
Na noite mágica do desfile das escolas de samba mirins, um momento especial emocionou a Marquês de Sapucaí, uma vibrante homenagem à carnavalesca Maria Augusta Rodrigues feita pela escola mirim Aprendizes do Salgueiro. A talentosa geração do samba desfilou com garra e paixão, celebrando a trajetória de uma das grandes responsáveis do Carnaval carioca. Com o enredo “Uni-Duni-Tê… Os Aprendizes escolhem você”, a agremiação mirim resgatou a história e o legado da carnavalesca, que ajudou a transformar os desfiles em verdadeiros espetáculos artísticos. A escola trouxe alegorias, fantasias ricamente e um samba contagiante que ecoou forte na Avenida. O Mestre-Sala mirim, Lucas, de 7 anos, compartilhou o seu sentimento de desfilar na Sapucaí e como ingressou na escola.
“Comecei tocando repique, mas eu fui para cantor, depois eu vim de mestre e sala. Eu gosto muito de desfilar no salgueiro, eu vi que o Salgueiro tava com um monte de pessoas desfilando e gostei. Eu comecei de mestre-sala, daí eu vim aqui a minha primeira vez. Agora é a minha segunda vez e com meu sapato novo e com a minha roupa. É uma emoção porque todo mundo fica me vendo e eu quero que a gente ganhe esse troféu. Se Deus quiser, a gente vai ganhar e vamos conseguir” declara o Mestre-Sala mirim.
O amor pela escola de mirim é passado de geração por geração. Júnior Bill, cria da Aprendizes do Salgueiro e pai de Lucas, o Mestre-Sala mirim, relembra sua trajetória que na escola, herança de sua mãe e fala sobre a importância de ter repassado para seus filhos.
“Já passei pelo Salgueiro e hoje eu deixo uma sementinha aqui para dar continuidade na nossa família, que veio da minha mãe, da minha irmã, da minha sobrinha que é a Júlia e, hoje, está o Lucas e o Gabriel, dançando de mestre-sala mirim na Aprendizes do Salgueiro. Foi o que aconteceu comigo. Eu tive que acompanhar minha mãe, porque sempre foi eu, ela e minha irmã. Ela já vinha no Salgueiro desde os anos 50, eu tinha que acompanhar. E com isso, ele acabou me acompanhando, indo nos meus ensaios e começou a acompanhar com a bateria, porque eu, o meu filho mais velho, Luiz Felipe, tocamos em bateria e ele começou a tocar com a gente, só que se apaixonou pela dança, olhando o Sidclei, olhando o Daniel, da Grande Rio, que passou no Aprendizes também, olhando o tio dele, Gabriel, que está dando um incentivo”.
A psicóloga voluntária do Centro Médico do Salgueiro, teve a oportunidade de conhecer os projetos da Aprendizes e de oferecer essa possibilidade para a filha, que hoje é porta-bandeira da escola mirim. “Inicialmente eu pensei que ela quisesse fazer balé, mas ela optou pelo projeto de porta-bandeira, que foi o que me surpreendeu muito. Ela está desde os 9 anos na Aprendizes, hoje ela está com 14, esse é o primeiro desfile dela como primeira porta-bandeira da Aprendizes do Salgueiro. Uma valorização de um trabalho de um ano inteiro, uma valorização de trabalho da diretoria, que é um trabalho primoroso, de inclusão social, de respeito à diversidade, que precisa continuar. A gente precisa dar mais oportunidade, mais visibilidade para essas escolas mirins continuarem desenvolvendo o seu trabalho”, declara Valesca Cordeiro.
Ainda Existem Crianças de Vila Keneddy
A alegria contagiante do circo tomou conta do Sambódromo na noite da última se quando a escola de samba mirim *Pequenos Artistas do Carnaval* desfilou com o enredo “Chegou o fantástico extraordinário Circo”. Com cores vibrantes, figurinos deslumbrantes e a energia de crianças talentosas, o espetáculo emocionou o público e transportou a avenida para um universo de encantamento e diversão. Maria da Conceição Cardoso Fonseca, mais conhecida como Turquinha, é a presidente da escola mirim e fala sobre o prazer e a importância desse trabalho. “Essa escola já tem 35 anos, Ainda existe crianças de Vila Kennedy. É um prazer imenso, eu estou com 85 anos, mas não sinto essa idade, porque é o maior prazer, Deus me me colocou para cuidar dessas crianças. Tem muitas crianças que nunca vieram à cidade, tanto que, quando eles chegam na Marquês de Sapucaí, eles ficam deslumbrados, olhando tudo. E esse ano foi até muito engraçado que teve um projeto que eu convidei e eles estão aqui, e as crianças estavam malucas, eles nunca tiveram, nunca vieram na Sapucaí. É um trabalho que eu faço com maior gosto e peço a Deus que me deixe aqui por mais tempo para eu continuar”, declara.
O abre-alas, um picadeiro móvel, veio iluminado. A bateria com os pequenos ritmistas veio fantasiada de mágicos, dando um toque especial ao ritmo contagiante do samba-enredo. A ala das crianças representou os personagens presentes no circo e os pequenos carnavalescos deram um show de talento e provaram que a magia do circo e do samba andam lado a lado. “Eu achei muito interessante esse interesse dela pelo desfile, porque não só da de Vila Kennedy, mas eu acho o carnaval em si uma verdadeira aula de história, que conta sobre as culturas, sobre as coisas. É um bom aprendizado para ela. Nós nos empolgamos, eu acho que eu estou mais empolgada do que ela”, afirma Priscila, mãe de Pietra, de 7 anos, estreante como componente da escola mirim.
Virando Esperança
A Virando Esperança foi a 11ª escola a desfilar e apresentou na Sapucaí a reedição do enredo “Orfeu, o Negro do Carnaval”, originalmente criado por Joãozinho Trinta para a Viradouro. A escola mirim trouxe a história de Orfeu, um jovem músico que une a lira dos deuses ao cavaquinho da favela. Com as rainhas lavadeiras abrindo o cortejo, o enredo misturou a paixão de Orfeu e Eurídice, representada como Oxum, ao samba e às raízes do Carnaval, desde o Entrudo até os luxuosos bailes da Corte. No final, o morro inteiro se transformou em bateria, celebrando a comunidade e a resistência, enquanto Orfeu, imortalizado no ritmo do samba, garantiu que sua melodia ecoasse como um tributo à alegria e à tradição popular.
Para o carnavalesco Marcio Moura, a reedição do carnaval de 1998 é uma oportunidade de ensinar a história da escola mãe. “A escola mirim é uma escola de samba. Precisamos ensinar a história da nossa escola. Somos frutos da Viradouro, uma escola de potência e história, e nossas crianças precisam conhecer essa trajetória”, declarou o coreógrafo. Ele revelou que a proposta da Virando Esperança é reeditar sambas-enredos da Viradouro pelos próximos cinco anos. O presidente da escola, Marcelo Calil, falou sobre o segundo ano após o retorno da escola à Marquês de Sapucaí, depois de 15 anos sem desfilar. “A escola mirim é um sonho antigo, desde que assumi a Viradouro em 2016. Preferimos organizar a casa primeiro e, quando tudo estivesse pronto, investir na escola mirim”, concluiu.
Estrelinha da Mocidade
A Estrelinha da Mocidade homenageou a icônica Carmem Miranda em um enredo que celebrou a artista que levou a cultura brasileira para o mundo com seu estilo único e vibrante. Com turbantes exuberantes e vestidos coloridos, Carmem se tornou um símbolo do tropicalismo e a primeira sul-americana a conquistar uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Em 2025, seu legado brilhou na Calçada da Fama de Vila Vintém, inspirando a criançada a acreditar no poder da arte.
“Poder proporcionar isso para as crianças, formá-las para o Carnaval, é fundamental. Faz com que elas brinquem, curtam e esqueçam os problemas do dia a dia. Isso é o mais importante e nos deixa felizes por todo o esforço e dedicação”, destacou o presidente da agremiação, Paulo Vianna. Já o mestre Dudu, emocionado, compartilhou: “É um momento especial. Passa um filme na minha cabeça. Comecei na Estrelinha com seis ou sete anos, e hoje ver esses garotos gritando meu nome é motivo de muito orgulho. Sou um espelho para eles, e isso me deixa feliz demais”.
Nova Geração do Estácio de Sá
A Nova Geração do Estácio de Sá foi a 13ª escola a desfilar e uniu em sua passagem pela Sapucaí o folclore brasileiro à preservação ambiental com o enredo “Guardiões da Floresta”. Na densa floresta Amazônica, os lendários guardiões Saci-Pererê, Caipora e Cauê Curumim uniram forças para proteger seu lar contra invasores que ameaçavam destruir a natureza. Com travessuras, estratégias e a ajuda dos animais, os três amigos conseguiram expulsar os malfeitores, ensinando uma valiosa lição sobre respeito e preservação ambiental. A vitória dos pequenos heróis inspirou adultos e crianças a cuidar da floresta, reforçando a importância de proteger o meio ambiente para as futuras gerações.
O presidente Joel destacou a importância de levar para a avenida um enredo que não apenas encante, mas também eduque e conscientize sobre a preservação da Amazônia e sua rica cultura. Ele ressaltou o orgulho de ver a dedicação de todos os integrantes da escola, desde as crianças até os adultos, que se empenharam para contar essa história de forma vibrante e impactante. “Cada detalhe foi pensado com carinho, desde as alegorias até as fantasias, para que a mensagem dos ‘Guardiões da Floresta’ ecoasse não só na Sapucaí, mas no coração de todos que assistiram”, afirmou. Joel reforçou que o verdadeiro objetivo é deixar um legado de conscientização e amor pela natureza, além de proporcionar um espetáculo inesquecível para o público.
Império do Futuro
Em noites repletas de encantos e mistérios, a Preta Velha, sentada em sua cadeira de palha, envolve a meninada com histórias ancestrais, cheias de seres mágicos como o Saci-Pererê, o boi da cara preta e o assustador corujão Murucututu. Entre cantigas e causos, ela tece narrativas que mesclam tradições, crenças e a sabedoria dos antepassados, embalando os sonhos das crianças enquanto a noite negra se desenrola, cheia de magia e imaginação. No enredo “Histórias do Arco da Velha”, o Império do Futuro, a primeira escola de samba mirim, recorreu a uma de suas mais tradicionais personalidades: Tia Ira Rezadeira. A matriarca do Morro da Serrinha desfilou em uma alegoria, contando suas histórias para os pequenos imperianos, reforçando a importância de preservar as raízes e transmitir a cultura popular.
Tanto o presidente Flávio França quanto o mestre de bateria Vitinho, ambos da escola mãe, destacaram a importância de investir no futuro do samba, representado pelas crianças. Flávio França, ao relembrar sua trajetória dentro do Império Serrano, desde a bateria até a presidência, reforçou o papel orgânico e contínuo da evolução dentro da escola. Ele afirmou: “As crianças são nossos maiores valores. Apostar nelas é apostar no nosso futuro, entendendo que o samba de ontem é o samba de hoje e será o samba de amanhã”. Citando Tio Careca, fundador da escola, ele completou: “O Império é do futuro”, reforçando seu compromisso com o legado da escola. Já Vitinho, emocionado, celebrou a continuidade do Carnaval Mirim, ressaltando: “Ontem fui eu, hoje são eles. É muito importante dar continuidade ao Carnaval Mirim. Nunca vou deixar acabar”. Ele ainda expressou sua alegria ao ver o investimento nas novas gerações: “Isso prova que o samba nunca vai morrer”. Ambos concordaram que o investimento nas crianças é essencial para garantir que a tradição do samba permaneça viva, perpetuando a magia do Carnaval para as próximas gerações.
Filhos da Águia
A Filhos da Águia da Portela, vinculada à tradicional escola de Oswaldo Cruz, se apresentou no início da madrugada desse sábado, com uma homenagem a Marisa Monte e Paulinho da Viola. A Filhos da Águia trouxe dois carros. No primeiro, Tia Surica. No segundo, os homenageados Marisa e Paulinho. Além deles, o desfile contou com a presença de Carlinhos Brown, que veio junto da bateria acompanhando a reverência à ex-companheira de Os Tribalistas.
“A renovação está aí. Isso deixa explícito que é uma escola. Ela tem novos compositores, são eles que escrevem as enredos, são eles que ajudam preparar as fantasias. Aprende-se desde cedo em suas agremiações fundamentos estéticos e éticos, em um país de tantas misturas. Eu sou portelense de coração e estou muito encantado. Essa é a grande construção das comunidades, que se relaciona realmente de uma maneira forte e explícita com a cultura brasileira”, disse Carlinhos.
“Eu já estou há quase 20 anos na Filhos da Águia da Portela. Para mim, é uma honra poder estar aqui vendo o desenvolvimento dessas crianças, dos projetos. A cada ano que passa, a escola está mais envolvida com a cultura do nosso Brasil. Com essa homenagem de hoje, nós queremos mostrar pra nossas crianças que nossos baluartes tem sim que ser reverenciados. A Portela traz isso, a Filhos da Águia traz isso. Ter Marisa Monte, Paulinho da Viola e Carlinhos Brown desfilando hoje conosco, para a escola, para nossas crianças e para os pais, é maravilhoso. Viva a cultura, viva a Portela, viva o Rio de Janeiro, viva o Carnaval”, comentou a diretora social da escola Alessandra Mendonça.
“Ano passado, ganhamos seis estandartes. Esse ano eu quero ganhar um pouquinho mais. Se eu mantiver, ótimo; mas eu quero ganhar mais”, projetou o presidente Celsinho Andrade.
Mangueira do Amanhã
Em seguida, foi a vez da escola Mangueira do Amanhã, versão mirim da Estação Primeira. Nos mesmos verde e rosa, a escola se destacou pelo grande contingente de foliões e pela estrutura, com muitas alas coreografadas. A belíssima comissão de frente trouxe atletas mirins de ginástica rítmica para recriar o mundo lúdico das bonecas.
“Aqui mora o futuro do nosso samba. Se a gente quer um samba tão potente daqui a 10, 15 anos, o investimento deve morar aqui. Em termos de enredo, a gente recria a história da menina bonita do laço de fita, que fala da beleza negra, das nossas festividades. A gente traz uma grande celebração negra e feminina. A expectativa é a melhor. A gente deu o nosso melhor e eu espero que seja lindo, que todo mundo goste”, afirmou a presidente Evelyn Bastos. Atual rainha de bateria da escola mãe, Evelyn começou na Mangueira do Amanhã.
Petizes da Penha
Depois, a Petizes da Penha entrou na avenida com o enredo “A Aventura do Currupira Mirim e os Sete Espíritos Brincantes na Floresta Encantada”, uma visão singular e curiosa da Amazônia. Com uma estrutura menor que as outras duas escolas anteriores, a escola apostou na garra e no chão de sua comunidade para mostrar que não está nada atrás delas, reforçando a leveza e a primazia da folia que o desfile das escolas mirins tanto evoca.
“O enredo esse ano vai falar sobre a Amazônia, mas contada pela visão de um curupira, que é quem defende a natureza. Eu espero muita felicidade para essa criançada. A gente desenvolve um trabalho o ano inteiro, isso aqui é como se fosse apenas uma formatura. É para ser um momento muito feliz. Diante das dificuldades que a gente passou durante o ano, os momentos felizes que tivemos durante o ano, hoje é só comemorar. O que é o difícil, a gente já passou. Hoje é só ser feliz. O futuro vem das crianças”, defendeu a presidente da escola mirim Patrícia Souza.
Miúda da Cabuçu
Décima sétima escola a se apresentar, a Miúda da Cabuçu, de Lins de Vasconcelos, encerrou a temporada carnavalesca infantil de 2025 com um enredo também amazônico. A divisão mirim da Unidos do Cabuçu, que desfila na Intendente de Magalhães (Série Bronze), desfilou bem tarde na madrugada. Às três da manhã, as crianças estavam visivelmente cansadas. A exaustão, no entanto, não fez as famílias desistirem. Acompanhadas de muitos pais na própria avenida, as crianças passaram bravamente pela Sapucaí.
“Esse ano, nós estamos falando da Amazônia, do relacionamento entre Jaci e Guaraci, o sol e a lua. É muito bonito. É uma continuidade até do enredo da Estácio, desenvolvido pelo mesmo carnavalesco, Marcus Paulo, maravilhoso. Gostaria, na medida do possível, de agradar a todos”, declarou o último presidente de escola da noite, Antônio Faria.