De 2018 até 2024, o Rosas de Ouro voltou uma única vez para o Desfile das Campeãs. Mais do que isso: nos dois últimos desfiles, modestos 12º e 11º lugar, respectivamente – lugares que nunca pertenceram à tradicionalíssima escola. Disposta a mudar tal sina recente, a agremiação apostou todas as fichas no enredo “Rosas de Ouro em Uma Grande Jogada”, desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo. E, se a Roseira deu all-in, ela levou quem não botava fé na agremiação à falência. Equilibrada, com segurança nos quesitos e extremamente vibrante, a instituição da Brasilândia desfilou e encantou por 62 minutos.
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Comissão de frente
Uma das vedetes do período de ensaios técnicos, o tripé do segmento, enfim, foi visto inteiramente decorado: com as já conhecidas faixas de caça-níquel, diversos componentes se revezavam. Um deles, um crupiê, estava sempre na parte de cima da alegoria. Outros, em determinados momentos, tiravam fichas com os símbolos de todas as catorze escolas do Grupo Especial de São Paulo – colocando o Rosas em paridade com as demais, demonstrando um respeito sempre desejável com as coirmãs. Eis que, em dado momento, alguns desses personagens buscam imensos dominós – e, deles, saem vedetes. Um show de surpresas no quesito.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Fantasiados nas cores da escola, Uilian Cesário e Isabel Casagrande cumpriram todas as obrigatoriedades solicitadas pelo regulamento e, como de costume, dançaram bastante para defender o pavilhão azul e rosa – além de executar giros sincronizados e muitíssimo competentes. A questão, aqui, está na velocidade com que o casal teve que realizar suas exibições na frente dos módulos de jurados: como as alas seguintes e anteriores não paravam, a dupla precisou ser bastante célere para executar os movimentos – e conseguiu.
Enredo
A ideia de falar da história dos jogos pode soar bastante ampla, e foi exatamente essa a proposta da agremiação no enredo “Rosas de Ouro em uma Grande Jogada”. Deixando felizes os que gostam de desfiles com sequências cronológicas, a escola começou a apresentação com uma introdução ligada ao mundo dos cassinos (com destaque para o abre-alas “O Grande Cassino Brasilândia”), vai para algumas diversões que marcaram a Antiguidade (como o Dominó, o Go chinês, o Ur sumério e o Mancala africano), passa por jogos milenares que até hoje são conhecidos (como o Xadrez e o Gamão) e desemboca em jogos de tabuleiro bastante populares no Brasil (como o War e o Banco Imobiliário). Vale destacar, também, um momento de transição que atravessa cerca de meio milênio em um carro alegórico – já que a terceira alegoria, “O Renascimento dos Jogos”, faz referência ao período histórico em questão e, após o casal de mestre-sala e porta-bandeira, os board games contemporâneos já aparecem.
Alegorias
Com inspiração Neo Vitoriana, o abre-alas, “O Grande Cassino Brasilândia”, retratou muito da própria escola, como se ela se reencontrasse em tal enredo – o que fica explícito na presença da Velha Guarda e da Ala de Compositores da agremiação. O segundo, “Pra Conquistar a Glória – Os Jogos Olímpicos Inspirados nos Deuses” traz outra concepção de jogo: os eventos esportivos. Voltando à visão de diversão da jogatina, o terceiro carro, “O Renascimento dos Jogos”, retratou o período em que tais diversões deixaram de ser exclusividade da nobreza para conquistar aclamação popular. Por fim, o quarto, “O Mundo na Palma da Mão, das alegorias que mais chamaram atenção desde quando chegou à Concentração do Anhembi, exibia jogos digitais – com algumas esculturas da franquia Super Mario que impressionavam pela beleza e pelo bom acabamento.
Fantasias
Um dos grandes trunfos de um enredo bastante imagético como a história dos jogos é criar fantasias de associação imediata. O Rosas usou e abusou de tal expediente no último setor, falando das diversões contemporâneas. Antes disso, a grande facilidade de leitura veio logo na primeira ala, “O Embaralhar de Cartas”. A grande maioria das alas tinha fantasias volumosas, com costeiros e esplendores altos; algumas poucas, como a da bateria, “O Tabuleiro do Jogo Ur dos Sumérios”, era mais lisa – certamente para deixar os ritmistas mais à vontade. É importante pontuar, entretanto, que a barra da saia de algumas baianas aparecia dobrada em determinados momentos.
Harmonia
As arrancadas do Rosas no ciclo carnavalesco de 2025 foram marcadas por uma explosão contagiante. O arranjo introdutório à canção fazia com que muitos componentes pulassem e cantassem o “Lalaialaiala” seguinte fortemente, fazendo com que as primeiras passadas da canção tivessem um efeito contagiante. A questão eram os minutos após a catarse inicial. No minidesfile e no primeiro ensaio técnico, a escola manteve o pique no canto. E, no desfile oficial, o que se viu foi algo muito mais próximo de tais exibições. Com canto forte e uniforme, é evidente o quanto a comunidade abraçou o samba-enredo – algo sempre bonito de se ver. Por fim, é necessário exaltar o carro de som azul e rosa, sobretudo o intérprete Carlos Jr., mais comedido nos cacos e focando na interpretação bastante eficiente. Outro destaque importante é da Bateria com Identidade, comandada por mestre Rafa, que também veio com menos bossas longas e ousadas, garantindo ânimo extra a cada vez que fazia alguma movimentação musical diferente – foram, por exemplo, três paradões antes do refrão de cabeça.
Samba-enredo
Desde quando foi escolhido, era perceptível o quanto a comunidade da azul e rosa gostava da obra. Com excelentes rendimentos em ensaios de quadra, no minidesfile da Fábrica do Samba e no primeiro ensaio técnico no Anhembi, que contou com um canto catártico, a obra novamente foi bem cantada pelos desfilantes – mesmo não figurando em muitas listas das melhores músicas da safra de muitos. O que é possível dizer é que muitos segmentos coligados ao quesito também tiveram ótimo rendimento. Carlos Junior, o Carlão, intérprete da agremiação, coroou um ótimo ciclo com outra ótima exibição no microfone principal da Roseira, bem como a Bateria com Identidade, sob a batuta de mestre Rafa, foi cirúrgica na execução de bossas – em uma temporada na qual as inúmeras paradinhas de outrora foram mais contidas. A já famosa introdução da obra, em um arranjo de Ricardo Rigolon, popularmente conhecido como Chanel, deu o tom para uma arrancada já histórica.
Evolução
Se o samba foi fortemente cantado, ele também teve ótima dança por parte dos componentes. A felicidade estampada em cada desfilante deixava a canção, leve por natureza, com ainda mais interação. Fantasias com adornos também davam a sensação de movimentação que faz com que uma escola ganhe pontos em tal quesito. Vale destacar, também, a já tradicional movimentação da Bateria Com Identidade para entrar no recuo, sempre excelente para evitar buracos e oferecendo uma dinâmica ímpar para o desfile.
Outros Destaques
Soberana à frente da Bateria com Identidade, apareceu a rainha Ana Beatriz Godói. Vale destacar que, tal qual no histórico desfile de 2005 (“Mar de de Rosas”) e no primeiro ensaio técnico de 2025, o céu ficou azul e rosa do meio para o final do desfile. Por fim, o staff da agremiação estava vestido tal qual crupiês, entrando no clima do enredo.