A Liga-SP já divulgou as faixas do álbum de samba-enredo e o projeto audiovisual da Liga-SP. Foi um trabalho coletivo, contou com várias empresas, mas a prática de áudio e vídeo diretamente com as escolas ficou a cargo de Guma Sena e Rodrigo Pimentel, se comunicando a todo instante enquanto as escolas estavam trabalhando. Todas as agremiações cumpriram à risca o manual padrão que exigia, gravando cantor com bateria, instrumento solo, cordas e o coral. Pimentel é experiente na gravação de sambas-enredo, o seu estúdio ‘RW Studio’ opera há muitos anos com carnaval e, por isso, novamente foi convidado para fazer parte do projeto. O profissional conversou com o CARNAVALESCO, falou sobre os serviços prestados para a Liga-SP neste ano e deu detalhes da estrutura e modelo das faixas.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

pimentel sp
Rodrigo Pimentel, um dos responsáveis pelo álbum de 2025. Foto: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

O que representa ser o responsável pelos áudios do álbum do samba-enredo para o Carnaval 2025?

Rodrigo Pimentel: “É sempre uma realização. O carnaval para mim é mais do que uma profissão. Eu comecei no carnaval dentro de uma escola de samba, desfilei em vários setores de uma escola de samba e hoje virou o meu trabalho. Não trabalho só com o carnaval, mas ele me ajudou muito a impulsionar a minha carreira. Também foi uma escola de aprendizagem muito grande, não só na parte do áudio, mas na parte de lidar com pessoas, como gerenciar esse tipo de projeto que envolve tanta gente. Deve ter passado mais de mil pessoas por aqui nesses dias”.

Qual é a relação do RW Studio com o carnaval desde o surgimento?

Rodrigo Pimentel: “O RW começou com uma paixão minha pela música desde pequeno. Meu pai é um músico e o RW na verdade é o R de Rodrigo e W de Wagner (pai). Quando criança eu fui a um estúdio com ele e um dia a gente resolveu montar um nosso. Claro que não pensávamos que chegaria nisso, porém um dia eu resolvi tomar a decisão de seguir essa parte para a minha vida profissional. Junto a isso havia a paixão pelo samba. Eu fui de uma escola de samba, da Sociedade Rosas de Ouro, desde 1992 ou 1993. A primeira vez que eu estive lá, vi o Royce cantando pela primeira vez e me apaixonei pelo carnaval. Desde então eu estive no carnaval todos os anos, seja dentro da escola e depois profissionalmente trabalhando. Mas aí eu não pude mais estar associado a nenhuma escola, também não me sentia confortável ser parte de uma agremiação, porque eu presto um serviço para a Liga-SP e devo ser o mais isento possível, fazendo esse serviço da forma mais lisa possível para todo mundo nas mesmas condições”.

Como foi a estrutura de gravação?

Rodrigo Pimentel: “Essa estrutura ao vivo já acontece desde 2011. Claro que cada ano é um ano em termos de tecnologia. Em 2011 para 2024 a tecnologia mudou imensamente e a última vez que a gente havia feito aqui na Fábrica do Samba foi em 2020. Depois veio a pandemia e parou. Ele é bem próximo do que já foi feito em 2018, 2019 e 2020. A mudança foi que nesse ano o Guma assumiu a parte visual, assumiu também a produção do trabalho e ele trouxe um ‘approach’ dele como músico que ele é e como uma pessoa do audiovisual excelente. A gente foi evoluindo e a parte da sonoridade e tecnologia a gente tentou manter com o que a gente já vem fazendo de forma escalada com a evolução dos equipamentos mais novos. Porém, vamos ter uma mudança grande na parte do vídeo. Quem assistir vai ver que o visual está muito bacana”.

Como funciona a tentativa de reproduzir o ‘Som da Avenida’?

Rodrigo Pimentel: “A ideia desse álbum é tentar reproduzir o que acontece lá na avenida. Claro que não tem como porque lá é ambiente onde cada escola tem duas mil, três mil ou quatro mil pessoas, Uma energia pulsante daquele momento que a agremiação se prepara um ano inteiro. Mas aqui a gente tentou de alguma forma concentrar essas pessoas e vamos tentar interferir o mínimo possível em estúdio para que esse disco realmente seja ao vivo, que ele tenha a emoção do ao vivo, tenha talvez a pequena impureza do ao vivo, mas essa pequena impureza realmente é o que torna um produto quente, caloroso e que represente realmente a tradição e a identidade de cada escola”.

O que o álbum dos sambas-enredo tem que ter como principal na execução das obras?

Rodrigo Pimentel: “O que não pode faltar é a energia do povo, a essência da escola, porque a ideia do ao vivo realmente é essa. A gente vai do lado muito técnico e frio de um estúdio para um lado bem quente do ao vivo que às vezes tem pequenas imperfeições, são times grandes gravando, elencos de 70 e 80 pessoas, são humanos e às vezes tem pequenos deslizes normais. Eu acho que a beleza do produto é ver seres humanos aqui interagindo depois especialmente de uma pandemia onde ficou todo mundo trancado em casa. Isso é uma vitória para o carnaval ver a celebração do samba em um produto audiovisual desse”.

O que sente quando ouve que o seu trabalho é referência no Brasil?

Rodrigo Pimentel: “Eu não concordo com isso de vencer ou perder e ser referência. Eu acho que isso é uma coisa eterna em todos os sentidos. O fã do Beatles geralmente não gosta dos Rolling Stones, o fã do Celtics odeia os Lakers. Existem essas comparações, mas o carnaval é carnaval. São Paulo tem suas características e o Rio de Janeiro tem as características dele. Eu particularmente ouço os dois discos incansavelmente desde 1992, conheço todos os sambas-enredo e sou uma das poucas pessoas talvez que eu conheço que ouço sambas-enredo todo dia dos dois carnavais. Ambos são um excelente produto, festa da nossa cultura, da nossa tradição e uma coisa que só nosso país tem. Ninguém mais vai ter”.