Figura mais atacada pelos intolerantes religiosos, o Orixá dos caminhos, dos mercados e da comunicação, Exú é o enredo da Acadêmicos da Grande Rio de 2022. Todo o simbolismo do primeiro orixá e sua passagem pela Umbanda estão diluídos em alas e alegorias da Tricolor de Caxias.
Figura mais que importante nos cultos de matriz africana, a percussão, o toque, a música e o som, encantam os corpos e estabelecem os transes e a comunicação de entidades e guias com os presentes nos cultos e festas. Além de promover alegria e fazer dançar. E numa escola de samba não é diferente, a bateria, coração da escola de samba provoca esses efeitos em quem assiste e embala o componente, através do toque. O coração pulsante da Grande Rio veio trajada com a fantasia “Nunca foi sorte sempre foi exu”, homenageando fazendo uma analogia aos jogos, gorros utilizados no culto de Exú e capas homenageando as figuras de Seu Zé Pelintra, Maria Padilha, Tranca Rua e do Malandro carioca Madame Satã. Felizes com o significado do figurino, os ritmistas comemoraram o significado da roupa e a confecção da peça, como fez analista contábil Pablo Barreto.
“A roupa tem muita presença e não incomoda a gente. Gostei desse lance nas costas, cada ritmista é um naipe de baralho e uma personalidade, cada um representa uma personificação de Exú. É meu primeiro ano, mas parece que estou há sois, três anos. O clima da bateria e da escola é muito gostoso. A comunidade é muito engajada. Parece que é uma família mesmo e tá todo mundo no propósito do primeiro título”, elogiou um dos integrantes do naipe de tamborim.
Quem também fez questão de elogiar a confecção da peça foi o costureiro Patrick que também é praticante de religião de matriz africana.
“Desfilo na bateria desde 2018 e esse ano gostei muito do figurino. O acabamento está muito bem, o chapéu está ótimo. Sou macumbeiro assumido e o enredo é muito forte. Todas as escolas falam de tema afro, fora a Vila Isabel. E isso é muito legal, para gente que é macumbeiro a gente fica muito animado”, concluiu o ritmista.
Unanimidade entre os desfilantes, o carnaval em abril provocou uma sensação diferente no componente. Desde 2005 na bateria da Grande Rio, o ritmista Alerson creditou o clima mais ameno do outono como fator determinante para desfilar com menos incômodo e discordou veementemente de quem acreditava que a Grande Rio levaria para avenida um tema pesado.
“O figurino tá bem leve, tá bem confortável. Ele é um pouco quente por conta de algumas texturas aveludadas, mas nada que atrapalhe. O Carnaval em abril deu uma ajudada, embora o carnaval de fevereiro seja maravilhoso. Eu achei o tema maravilhoso, nenhuma escola anteriormente já abordou este enredo na avenida. Em 2020 já vínhamos com tema afro e esse temos Exu que é luz, que é caminho. Mesmo que as pessoas achem pesado, para gente que está dentro não é isso, é maravilhoso”, avaliou o veterano da Invocada.
Destaque na letra do samba e presente na narrativa, Exu Capa Preta veio representando por ninguém mais, ninguém menos que a autoridade máxima da bateria de Caxias, mestre Fafá. Fazendo coro com o manifesto anti intolerância religiosa da escola, Fafá contou que se sente honrado em homenagear a entidade e pediu ajuda ao sagrado para ajudar a escola a arrematar o caneco.
“Venho representando seu Capa Preta. Foi um pedido do carnavalescos. E topei na hora. Espero que ele abra nossos caminhos para Vitória. Eu me sinto muito honrado de estar falando de Exu. Ainda mais com toda a força da intolerância religiosa. Eu espero que ele abra os nossos caminhos e que façamos algo antológico. Estamos com a melhor expectativa possível. Viemos trabalhando muito forte. Acho que a Grande Rio merece muito este título. Com muito humildade e respeito a todo mundo. Nossos patronos não medem esforços para colocar carros belíssimos, gigantes na avenida. A gente quer trazer esse caneco para Caxias e tirar essa zica da gente”, desejou o comandante da bateria.