O ano de 2024 é muito especial para o Boi da Ilha do Governador. A escola, com base de comunidade na Freguesia, bairro da região, foi campeã da Série Bronze, na Intendente Magalhães, e está a um passo de voltar a desfilar no Sambódromo, afinal, a Série Prata, da Superliga, é o úlimo caminho antes da glória de todos os sambistas, que é se apresentar na Sapucaí, fato que não acontece desde o início dos anos 2010. O esforço da agremiação não vem de agora. Foram quatro anos de “bandeira enrolada”, jargão dado no mundo do samba para quem fica sem desfilar, e o impulso para transformação veio com a chegada de Marcelo Santos, mestre de bateria da União da Ilha, alçado ao cargo de presidente do Boi, e do empresário Donato Nunes, vice da Ilha e patrono do Boi.
“Sempre fiz parte do Boi da Ilha na minha juventude. Não aceitava o fato de uma escola que revelou tantas pessoas que hoje estão de destaque no carnaval, como mestre Odilon e Quinho, estar com a bandeira enrolada. Aquilo mexia comigo. Passava na fecha da quadra e via do jeito que estava, fechada, abandonada desde 2009 e falei que tentaria fazer alguma coisa pela escola. Era um local histórico. Me reuni com o presidente da velha-guarda, ele me disse que daria apoio, se eu tivesse vontade de resgatar a escola, olhei o estatuto montei uma equipe para o Carnaval 2022. A escola não desfilava desde o Carnaval 2017. Perto do dia do desfile, o presidente abandonou, me colocaram como cabeça e consegui fazer a escola desfila”, explicou Marcelo Santos.
O resgate ganhou força e vontade com a entrada do patrono Donato Nunes, empresário e que chegou com disposição de apoiar a cultura da região e avalancar o Boi da Ilha.
“O maior desafio que a gente encontrou foi ‘desenrolar a bandeira’. Tinha que encontrar um local para ensaiar e pessoas interessadas para resgatar a escola e que eles realmente entendessem a cultura do Boi da Ilha. É uma escola de samba muito tradicional e que não merecia ter pasado de desfilar. Começar uma escola de samba do zero é muito difícil. Tinha dívida e precariedade”, disse Donato Nunes.
“Não tinha nada, nem instrumento para bateria. Entregaram para gente o estatuto e a bandeira, usada hoje pelo nosso segundo casal, para refundarmos a escola”, completou o presidente Marcelo Santos.
O patrono Donato Nunes explica que a intenção em recuperar a escola foi também de elevar a cultura do bairro. Projetos são milhares nas cabeças dos dirigentes do Boi da Ilha. O primeiro é uma oficina de bateria, depois a criação de uma escola de casais de mestre-sala e porta-bandeira, além da formação de passistas. Sempre trabalhando com as crianças das comunidades do bairro.
“Entendemos que a cultura da Ilha do Governador é pouco explorada. Entramos na escola como pessoas que amam o Boi da Ilha. Nossa missão era reerguer, cultivar o amor e coroa com os desfiles. É importante ver a escola desfilando e dando frutos para o bairro. O nosso segredo foi ter gestão eficiente. Como empresário, trouxe o modelo de trabalho nas minhas empresas para a escola de samba. Deu super certo. Em três anos de trabalho, conquistamos dois títulos”, afirmou Donato.
O presidente Marcelo Santos frisa que a união dele sambista, como o patrono empresário foi fundamental para o resgate do Boi da Ilha.
“A gestão do trabalho conta muito para o sucesso da escola de samba. O Donato trouxe a visão do empreendedorismo. E com a minha visão de carnaval e com muita liberdade na escola. Não foi fácil. No primeiro ano, o objetivo era que a escola ficasse na Série Bronze e conseguimos. Ganhamos em 2024 e agora vamos desfilar na Série Prata. Estamos próximos da Marquês de Sapucaí”.
A escola se reforçou para lutar pelo sonho de voltar a desfilar na Sapucaí. Nino do Milênio é o intérprete, o casal de mestre-sala e porta-bandeira é formado por Mosquito e Roberta, e o carnavalesco é Fran-Sérgio, multicampeão na Beija-Flor de Nilópolis.
Homenagem no enredo
O Boi da Ilha prepara uma grande homenagem para o desfile de 2025 na Série Prata, na Intendente Magalhães. O intérprete Quinho, cria da escola e que faleceu no início do ano, é o enredo para o carnaval do ano que vem. Nascido no Dendê, o jovem feirante niciou sua trajetória no mundo do samba no Boi da Ilha e por conta de seu grande talento, foi chamado por Aroldo Melodia para fazer parte do carro de som da União da Ilha. A partir dali a vida mudou completamente. Intitulado de “Arrepia Boi da Ilha” o enredo será desenvolvido pelo carnavalesco Fran-Sérgio. Ao site CARNAVALESCO, o patrono Donato Nunes falou da ideia para o carnaval do ano que vem.
“O Marcelo me chamou e faltou: ‘Donato, o Quinho foi um ícone dentro da Ilha do Governador no carnaval e acho que a gente deveria homenageá-lo’. Vi que ele tinha razão. O Quinho foi nossa cria, é muito gratificante para gente fazer esse enredo”, citou o patrono.
“Conversamos com a família do Quinho. Todos vão estar presentes. O filho dele está apoiando 100% nossa ideia. Toda Ilha vai conhecer a história de um insulano”, completou o presidente.
Casal refaz parceira no Boi da Ilha
Porta-bandeira do Boi da Ilha para 2025, Roberta diz que o chamado da escola foi um resgate. Ela citou que começou na escola como criança.
“É uma responsabilidade muito grande. Estou voltando. Passei aqui quando era criança. Passei 20 anos pelo mundo do samba e agora estou participando do resgate da escola. O Boi tem muita comunidade e tradição na Ilha e no carnaval. Vivi 15 anos aqui, quando era mais nova, e vi como as pessoas são apaixonados pela escola”.
Ao site CARNAVALESCO, ela comentou a parceria com o mestre-sala Mosquito. “A gente é tudo e mais um pouco. A gente se entende no olhar, na piscada. Foi uma conexão de primeira”, contou Roberta, que não desfilou no Rio em 2024.
“Tem época que a gente se vê mais do que em casa com a família. Temos mais de 10 anos juntos. A gente ‘namorava’ faz muito tempo. Um dia falei que ainda ia dançar com ela e no ano seguinte a gente estava junto. Todo mundo sabe da nossa história no carnaval. Seria uma vitória ter a nota máxima no próximo carnaval e ter o título e o retorno para Sapucaí”, completou o mestre-sala, que estava no Arrastão de Cascadura.
Cantor fala do samba de 2025
O Boi da Ilha terá concurso para escolha do samba-enredo que homenageará Quinho no Carnaval 2025. Ao site CARNAVALESCO, o intérprete Nino do Milênio falou sobre a relação que teve com o cantor.
“O Quinho é minha referência. Tive oportunidade de ter troca com ele. Meu deu muito conselhos e guardo com muito carinho. É uma honra cantar o samba que será em homenagem para ele. Ouvi histórias que não conhecia sobre ele no bairro. O presidente do Boi é um sambista, sempre foi meu amigo e parceiro. Conheço há muito tempo. Receber o convite foi muito bom e espero que minha colaboração venha com a vitória”.
Perguntado sobre o que precisa ter a obra campeã para 2025, Nino citou: “O samba tem que ter muita irreverência e alegria. O diferencial, porque o Quinho era diferente. O samba tem que ser bem chiclete, porque ele sempre foi assim. Nunca vamos esquecer os cacos dele na condução do samba. A obra de 2025 tem que empolgar nosso componente”.
O intérprete também ressaltou a oportunidade de trabalhar em uma escola que o presidente é sambista, já que Marcelo Santos é também mestre de bateria da União da Ilha.
“É diferente lidar com um presidente sambista. Ele consegue entender o nosso lado. É muito melhor, diferente”.
Nino do Milênio também respondeu se conhecia o samba de 2001 do Boi da Ilha, uma das obras mais lindas do carnaval carioca.
“Conheço o samba e vou aprender todos. O presidente já me mandou alguns. Estou muito feliz com o projeto e ouvindo todas histórias do Boi. Conheci o presidente da velha-guarda e ele me contou várias histórias do Quinho”.