Por Rodrigo Coutinho
Depois de alguns desfiles abaixo da sua média nos últimos anos, a Renascer de Jacarepaguá voltou a mostrar força na noite deste sábado, na Marquês de Sapucaí. A vermelha e branca do Largo do Tanque talvez não dispute o título. Plasticamente não apresentou carros ou fantasias que impressionasse, mas além de ser digna e clara neste aspecto, contou com uma parte musical excepcionalmente bem entrosada. Diego Nicolau, seu carro de som, e bateria da escola, agora comandada pelo mestre Junior Sampaio, mantiveram as ótimas apresentações vistas recentemente. Pena a pouca adesão dos componentes no canto, um dos pontos frágeis do desfile. A Renascer terminou o seu desfile com 55 minutos. O enredo, desenvolvido pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel, prestou homenagem a Iemanjá.
Samba-Enredo
Um dos grandes destaques da safra de 2019 na Série A, o samba da Renascer rendeu maravilhosamente. Novamente Diego Nicolau teve grande atuação, auxiliado por um carro de som muito bem entrosado e servindo como base para que o cantor principal pudesse brilhar. Se o canto dos componentes fosse melhor, a obra renderia ainda mais. Parte musical do desfile foi extremamente agradável.
Enredo
O tema “Dois de Fevereiro no Rio Vermelho” se propôs a transportar para a Avenida as homenagens que são feitas a Iemanjá no bairro Rio Vermelho, em Salvador. O desenvolvimento não contou com uma linha cronológica, mas sim com menções a lembranças a elementos do universo de Iemanjá. Outros orixás, referências ao mar e etc. A dupla de carnavalesco conseguiu expressar em fantasias e alegorias o intuito do enredo.
Comissão de Frente
Coreografados por Tony Tara, os integrantes da comissão de frente da Renascer representaram Presentes Para Iemanjá. O grupo tinha pescadores, baianas e grandes adereços em forma de mar e oferendas para a “Rainha do Mar”. Em determinado momento da apresentação, a personagem principal se transformava em Iemanjá, levando o público ao delírio. O ápice do ato suplantou qualquer sensação de monotonia deixada inicialmente. Funcionou a ideia, apesar da indumentária bem simples.
Mestre-sala e porta-bandeira
Dançando pelo primeiro ano juntos na Renascer, Luís Augusto e Thainá Teixeira se apresentaram de forma clássica e bem entrosada. Chamou a atenção a leveza nos movimentos de ambos e os giros diferentes dados por ela. Em momentos parecia de fato simular a dança de Iemanjá, o balanço do mar. A dupla foi bastante aplaudida no primeiro módulo de julgadores. A fantasia chamava-se a “Calunga Grande, o mar de Iemanjá” e somou ainda mais na ótima impressão deixada pelo casal.
Alegorias
Sabe-se que a Renascer, assim como a grande maioria das escolas da Série A, possui muitos problemas financeiros e pouco potencial de investimento. As alegorias tinham leitura e compuseram um conjunto digno. Simples porém, e com um problema de acabamento no alto da igreja do terceiro carro “Odoyá, Rio Vermelho”. O segundo carro poderia ter soluções melhores de acabamento em sua parte frontal.
Fantasias
Estiveram acima das alegorias. O conjunto não será o melhor visto na Série A. Os materiais utilizados não são de alto custo, mas a originalidade e criatividade dos carnavalescos acabaram superando os problemas. Não foi notado qualquer problema de ausência de itens nas fantasias também. Neste quesito, o destaque, sem dúvidas, vai para as alas que vieram atrás do abre-alas. Orixás muito bem representados.
Harmonia
Um dos pontos negativos do desfile. Lamentavelmente, a Renascer foi uma das escolas que menos cantou o samba até aqui na Série A. Em todo o desfile, apenas as alas “Pérola” e “Balaio de Rosas Brancas” apresentaram um bom nível. Foi perceptível o grande número de turistas em algumas alas, principalmente na “Capoeira”. Com um grande samba, um ótimo carro de som e bateria, seria ainda mais agradável o desfile com componentes com o samba na ponta da língua.
Evolução
Não houve uma grande falha, mas sim uma mudança bem considerável no ritmo de desfile da escola. Em função de certa demora no deslocamento da comissão de frente entre os módulos 2 e 3, a Renascer precisou acelerar bastante o seu passo na reta final e terminou no limite de tempo permitido. Isso certamente prejudicará as notas no quesito, sobretudo nas últimas duas cabines. Outra coisa que poderia ter evitado o cenário, foi a entrada da bateria no segundo recuo. Sabe-se que é uma manobra comum na Série A não entrar no segundo box. Na manobra, a Renascer perdeu um tempo que poderia ter garantido uma evolução mais equilibrada nos minutos finais. A desenvoltura dos componentes na maior parte das alas esteve bem comprometida também. Nas alas ‘’Capoeira’’ e ‘’Filhos de Gandy’’, os integrantes caminhavam e conversavam em pleno desfile, principalmente nos últimos dois módulos.
Outros destaques
A fantasia da rainha de bateria da escola, Silvia Schureque, chamou a atenção pelo luxo. Poderia tranquilamente passar no Grupo Especial. Outro destaque foi a participação da musa Larissa Reis, à frente da última alegoria. A fantasia “Águas de Iemanjá” estava muito bonita, e a performance da passista foi ótima.