A Renascer de Jacarepaguá acertou de vez na fórmula para apresentar bons sambas-enredo no Carnaval da Série A. Pelo sexto carnaval consecutivo deixou de realizar o concurso de escolha de samba e, mais uma vez, encomendou a obra que levará para a Marquês de Sapucaí. Composta por Claudio Russo e Moacyr Luz, a composição ganhou novamente o intérprete da casa, Diego Nicolau como integrante da parceria de ouro. Seguindo a linha de belas obras apresentadas pelo trio de compositores, o samba tem expectativa de nota 10 no quesito, é orgulho do presidente, porém os compositores confessam que a boa e velha disputa é necessária para a ala de compositores sobreviver. A Renascer de Jacarepaguá será a segunda escola a desfilar no sábado de folia, dia 2 de março de 2019, pela Série A da Lierj.
“A nossa expectativa é sempre fazer um bom desfile e acredito que comecei com o pé direito. Nosso samba é “direitinho”, agora vamos ver como se comportará na Avenida. A Renascer foi pioneira em encomenda de samba-enredo. Lá atrás me censuraram e hoje me copiam e ainda usam os meus compositores, ou seja, eu estava certo. Estamos aguardando os recursos para tirar o projeto do papel, nosso carnaval está orçado em torno de R$ 1 milhão, nunca sai abaixo disso. Nosso barracão está funcionando normalmente, não fomos notificados oficialmente sobre despejo, mas ouvi boatos de que após o carnaval teremos que sair. No ano passado sofremos com quatro incêndios, se não foi sofrido, não sei mais o que é sofrimento, mas graças à Deus desfilamos bem e em 2019 será melhor ainda”, avalia o presidente Antônio Salomão.
A noite foi especial. Guardada a sete chaves, a obra só foi conhecida ao vivo na quadra quando entoada pelo intérprete oficial Diego Nicolau. Com a quadra lotada, a escola preparou um show diferente. Antes de revelar o hino, o intérprete fez um mix de músicas baianas como introdução, deixando o público no clima do enredo. Rainha da bateria, Silvinha Schreiber vestiu o figurino de Yemanjá. Em 2019 a agremiação falará dos festejos realizados para a rainha do mar que acontecem no bairro Rio Vermelho, em Salvador. O tema é intitulado “Dois de Fevereiro no Rio Vermelho”. O desenvolvimento é dos carnavalescos Alexandre Rangel e Raphael Torres.
“Apesar de eu já estar acostumado a cantar minha própria obra na Avenida, é uma emoção que sempre se renova. Você ouvir algo que você e seus parceiros fizeram numa mesa sendo cantado por várias pessoas é algo indescritível. Apesar de eu entender os motivos que o presidente Salomão possui para encomendar o samba da escola, eu como compositor sou sempre à favor da disputa de sambas. Acho que quando a Renascer puder, deveria ter de volta o concurso tradicional, mas como a encomenda deu certo, acho normal que o modelo seja copiado. Hoje até no Grupo Especial já tem mais de uma escola aderindo a esse modelo. Apesar de termos ganhado alguns prêmios em 2018, por conta de eu ter passado por um momento difícil na minha vida, passei o desfile em transe, meu desempenho ficou aquém do que eu posso. Para 2019 se Deus quiser vou executar tudo que eu planejar”, explica Diego Nicolau.
Compositor que virou referência no quesito samba-enredo, Claudio Russo é autor de cinco sambas que irão para a Avenida em 2019. Além da Renascer de Jacarepaguá, assina as obras encomendadas da Paraíso do Tuiuti e Grande Rio no Grupo Especial, Inocentes de Belford Roxo na Série A e foi campeão pelo Acadêmicos da Rocinha. É também de Claudio Russo a ideia do enredo da vermelha e branco do bairro do Tanque. Dia 2 de fevereiro é celebrado o aniversário do seu filho, exatamente no dia da festa no Rio Vermelho, o que em conversa com o presidente acabou virando enredo. Para o compositor, o tema além de sensacional, é cultural e barato. De acordo com Claudio Russo, a obra foi feita com a primeira parte em melodia dolente composta por Moacyr Luz e a segunda toda em maior e pra frente tipo samba baiano, conforme desejo do intérprete.
“Eu vejo com preocupação a encomenda dos sambas-enredo. O modelo deu certo, mas o caminho não era esse, era continuar com as disputas. Hoje vários fatores prejudicam a manutenção da disputa de samba-enredo. São caras, demoradas, as escolas não se prepararam e nem se modernizaram quanto a isso, além disso, a violência do Rio de Janeiro é outro fator que vem prejudicando o carnaval. Em virtude disso, as agremiações estão encomendando e têm dado certo, porque ninguém faz encomenda em vão. A disputa no modelo que está hoje em dia é quase inviável, precisa ser revista. Menos tempo, horário alternativo (fim da tarde e começo da noite) porque ninguém quer ficar mais a noite inteira na rua, além de que as disputam estão muito capitalizadas. Quem tem mais dinheiro leva o samba até a final. Está bem complicado”, avalia Claudio Ruso.
Parceiro de Claudio Russo, o cantor e compositor Moacyr Luz pensa diferente. Para ele, as encomendas facilitam a escola e podem ser feitas com a própria ala de compositores da agremiação.
“Conversando com os carnavalescos a gente descobre os detalhes e faz a nossa música. Palavras surgem no meio de um cenário, de uma escultura, de um figurino, não apenas na sinopse. O samba encomendado pode ser mais amadurecido, ainda está surgindo como novidade. Eles não precisam ser do Claudio Russo, do Moacyr Luz, ele pode ser feito pela própria ala dos compositores. Acho que as escolas podem “provocar” a ala, promover encontros entre eles e formar um grande samba “, finaliza.
Destaque da agremiação do nos últimos carnavais, a Bateria Guerreira de mestre Dinho Santos será um pouco diferente para 2019. Com 220 ritmistas, o mestre declara que está feliz, seguro e empolgado para o desfile.
“Fiquei surpreso quanto ao ritmo que a bateria conseguiu colocar na Avenida. A bateria está madura e a bossa que escolhi para os jurados foi certinha, exatamente no tempo e com todos os elementos dentro do lugar. Conquistamos os 40 pontos e a intenção é repetir para 2019. A mudança na bateria será praticamente apenas na diretoria. Estamos dando uma repaginada nos diretores, uns tiveram que sair por motivos particulares, mas o trabalho continua do mesmo jeito desde 2013. Um trabalho técnico dos naipes separados. Depois que apresenta o samba fazemos um trabalho objetivo explicando para cada naipe onde eles atacam dentro do arranjo. Sempre prezando em limpar o ritmo. O andamento provavelmente virá um pouquinho à frente, mas isso ainda vamos avaliar bastante com o carro de som e depois treinar para o dia do jogo. Para 2019 teremos à princípio somente duas bossas. Um axé na cabeça para fazer uma citação à Bahia e mais uma. Nosso trabalho será bem objetivo. Quando apresenta o samba para a escola eu já estou com praticamente tudo já montado dentro da cabeça. Esse é um dos prós de se ter um samba encomendado”, explica o mestre.
A dupla de carnavalescos Rafael Torres e Alexandre Rangel aguardm 2019 como o ano da bonança para os seus trabalhos. Apesar dos percalços ocorridos no caminho, como os incêndios no barracão de alegorias e a verba menor para produzir o carnaval, prometem selar de vez a marca dos seus trabalhos na Série A neste carnaval.
“Nossa relação com os compositores é de total troca. É um casamento de três anos. Entregamos a sinopse e os pontos específicos. Em nossas reuniões vamos pontuando o que precisa constar e eles nos mostram o que tem para conferirmos se está se encaixando. Há um respeito entre ambas as partes, trocamos figurinhas. Recentemente estivemos em Salvador e trouxemos uma bagagem e passamos automaticamente pra eles. Tiramos de letra os incêndios porque vivenciamos as dificuldades das escolas da Intendente Magalhães, onde muitas das vezes nem tínhamos barracões. Será uma Renascer totalmente diferente do que vínhamos apresentando. O barracão já está à todo vapor, já demos início à reprodução das fantasias. Nosso enredo tem pegada totalmente cultural, as fantasias estão leves e o samba também”, finalizam.