O Salgueiro concluiu antes de iniciar o desenvolvimento propriamente dita do Carnaval 2023 uma ampla reforma no quarto andar do barracão localizado na Cidade do Samba, onde fica a produção de fantasias e adereços. A ideia principal foi concentrar este trabalho na área destinada à escola na Cidade do Samba e evitar que alguns elementos tivessem que ser feitos em ateliês externos. O carnavalesco Edson Pereira conta que a medida foi planejada para a construção de um carnaval mais sustentável, evitando o desperdício e tornando o trabalho mais homogêneo.
“Na verdade, da até mais trabalho porque você concentra tudo em um lugar só. Porém te da mais conforto de pensar, de reutilizar. Se a gente está falando de um carnaval de sustentabilidade, concentrar tudo ali dá um aproveitamento melhor dos recursos. É reestruturar o barracão do Salgueiro. Quando eu cheguei aqui, a gente veio com a proposta de realocar tudo e criar um novo pensamento não só para o salgueirense, mas para o carnaval. A gente criou baias, nessas baias são construídas todas as fantasias, cada setorização está em um lugar e a gente batizou estas baias com pessoas que foram muito importantes para o Salgueiro”, explicou Edson.
A divisão em baias seguiu uma setorização e deu aos profissionais do ateliê um entendimento maior daquilo que estavam produzindo. Além da homenagem aos carnavalescos que passaram pela agremiação, na porta de cada espaço tem a identificação de cada fantasia que está sendo produzida ali e o setor que ela faz parte. Novidade na escola para o Ccarnaval 2023, o diretor Julinho Fonseca explica que as medidas geraram economia e ajudaram no controle de estoque, entre outras possibilidades.
“Em todas as baias dá para ver o que está acontecendo, às vezes está precisando de um material do lado, pega do outro, as costureiras estão de comum acordo com todos os ateliês, ou seja, o empreiteiro não precisa pegar a fantasia aqui para levar para fazer, costurar, é tudo dentro do barracão do Salgueiro. E para a gente, em nível de logística, é muito bom, já fica pronto para entrega, já estou ensacando minhas fantasias. A economia é absurda. Só depois do carnaval que a gente vai fazer um levantamento para saber de verdade o que foi gasto. Mas com essa arrumação do carnaval, a gente controla melhor. Por exemplo, chega um rolo de tecido de 100 metros, você manda para um ateliê fora, não que você não vá confiar, mas como que controla isso? Aqui não tem desperdício. Foi um investimento que o Salgueiro fez para a vida. Vai passar o André, vai passar eu, vai passar o Edson e o quarto andar vai continuar. E queremos mudar a logística do primeiro andar também neste sentido para a questão de estoque dos carros e menos desperdício”, esclarece o diretor de carnaval da Vermelha e Branca.
Julinho também esclareceu que hoje praticamente todas as fantasias estão sendo produzidas no barracão e elogiou a interação entre a equipe que chegou para este carnaval, como o próprio diretor de carnaval e o carnavalesco Edson Pereira, com os integrantes antigos da parte de produção da agremiação.
“O Salgueiro tem de 95 a 98 por cento de suas alas sendo confeccionadas no Barracão. Edson tem um grupo muito bom, tudo no barracão vem sendo comandado pela Alessandra, que tem um timaço de reprodução de fantasia que uniu os que vieram de fora com os que são da casa, que fazem Salgueiro há anos. Hoje a gente tem a tia Arlete que tem 50 anos de Salgueiro, fazendo a ala de compositores, tem o tio Fernando que tem mais de 40 de Salgueiro. Pra gente unir essa rapaziada jovem com o pessoal antigo da escola, foi muito bom. É um ajudando o outro”, revela Julinho Fonseca.
A equipe do CARNAVALESCO ao visitar o quarto andar teve o prazer de conversar com Tia Arlete, citada por Julinho na entrevista. Só produzindo fantasias para a Academia do Samba, a costureira tem 27 anos. Como integrante do Salgueiro, a baluarte vai fazer 50 anos em 2023. A simpática Tia Arlete, que tem sempre um cafezinho com bolo para oferecer em sua baia, aprovou a reforma realizada pela diretoria.
“Eu comecei fazendo a roupa da diretoria, e depois no barracão fazia a roupa do filho do Maninho (ex-presidente), fazia roupa de artistas e alas. Sempre fiz velha guarda, depois de muito tempo eu vim fazer compositores. Esse ano estou só com a velha guarda. Gostei muito da reforma, das homenagens e tudo. No início até estranhei um pouco, porque você está acostumado há 20 anos em uma linha. Mas, o espaço para mim está bom, esse espaço ficou ótimo e até cedi um pedacinho para o meu amigo (risos)”, contou de forma bastante descontraída Tia Arlete.
Após o carnaval, a intenção da diretoria é realizar mais homenagens no quarto andar a artistas do passado da Vermelha e Branca, além de realizar um evento para inaugurar oficialmente o espaço.