Por Gustavo Lima e Will Ferreira

A Acadêmicos do Tucuruvi definiu no último domingo o samba-enredo que irá representar a agremiação em 2025. A final lotou a quadra na Avenida Mazzei, que contou com quatro sambas na disputa após eliminatórias e audições internas. Após discurso do vice-presidente e diretor de carnaval Rodrigo Delduque, o intérprete Hudson Luiz cantou a obra vencedora. O samba é composto por: Macaco Branco, Prof. Carlos Bebeto, Djalma Santos, Chiquinho Gomes, Dr. Marcelo, Denis Moraes e Marcelo Faria. A parceria vencedora estreou ano passado e é bicampeã consecutiva. O tema da Tucuruvi para o Carnaval 2025 é intitulado como “Assojaba – a busca pelo manto”, assinado por Dione Leite e Nicolas Gonçalves, com pesquisa do enredista Vinicius Natal. * OUÇA AQUI O SAMBA CAMPEÃO

Todos os concorrentes levaram torcidas e apostaram em intérpretes renomados para defesa de suas obras. Nomes como Pitty de Menezes, Luiz Felipe, Renê Sobral, Pixulé, Igor Sorriso, entre outros. Antes do anúncio, o grupo cênico da escola fez uma encenação indígena com músicas de Parintins, dando um spoiler do que será o tema dentro da avenida. Os integrantes se dividiram em grupos e coreografaram em volta de componentes esculpindo artesanato.

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Fotos: Gustavo Lima e Will Ferreira/CARNAVALESCO

Contente com a escolha

O vice-presidente e diretor de carnaval da agremiação, Rodrigo Delduque exaltou os sambas finalistas e agradeceu todos os compositores que participaram do concurso. De acordo com o gestor maior da escola, a Tucuruvi vai trabalhar fortemente para dissecar o samba, almejando coisas maiores.

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“A disputa de samba-enredo acaba sendo um peso no bom sentido, porque esse ano tinha quatro obras muito boas, que se encaixavam, mas a gente só conseguia trazer uma para a avenida. Eu gostaria já de aproveitar também o CARNAVALESCO para agradecer todos os compositores que se dedicaram e trouxeram as suas obras para a Tucuruvi. Agora é trabalhar em cima do samba que mais se encaixa dentro do nosso projeto e maturar ele. Trazer para a galera, para o nosso componente, que aceitou. Agora é trabalhar bastante e, se Deus quiser, trazer o Tucuruvi para o lugar que tanto almeja”, declarou.

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O samba-enredo vencedor se destaca dos demais por ‘colocar o dedo na ferida’. Os versos “Não foi feito pra você, não foi feito pra vender/A vontade do manto vai prevalecer se destacam e simbolizam diretamente a característica da obra. Essa parte remete às terras sagradas indígenas e o manto, que é de propriedade total dos povos originários. Perguntado sobre essa questão, Delduque revelou que a parceria acertou em cheio, bem como no carnaval passado, pois é o que os carnavalescos idealizam para o desfile.

“É uma obra que no ano passado essa parceria já tinha entendido a proposta da Tucuruvi. Esse ano acertaram de novo em cheio quando nós recebemos. Os carnavalescos com a equipe técnica de carnaval achou uma coisa muito surreal. Se encaixava muito dentro do contexto geral do carnaval, e, graças a Deus, eles conseguiram nos ajudar em relação ao samba. Então a gente fica muito feliz com isso”, completou.

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‘Realiza o nosso sonho!’

O carnavalesco estreante na escola, Nicolas Gonçalves, demonstrou confiança no trabalho que está sendo realizado dentro do tema. O artista aprovou a obra e chamou a canção de imponente, que segundo ele, é o que a Tucuruvi precisa para colocar esse enredo na pista.

“Quando eu ganhei o Estrela do Carnaval no Grupo de Acesso, em 2024, eu também tinha uma proposta de um enredo diferenciado e emocionante. Quando eu chego na Tucuruvi, trouxe um enredo também potente e emocionante, a gente queria seguir essa mesma linha. Não à toa, cheguei aqui para agregar. O enredo depende muito do samba: por mais que a gente faça um grande enredo, a gente precisa de um samba para se comunicar. Quando escolhemos esse samba, tenho certeza que a escola acerta na escolha para trazer um samba potente e ir além em 2024. Neste ano, a escola ficou com um gosto de quero mais, ficou querendo mais. Tenho certeza que esse samba e o trabalho que estamos fazendo vai realizar o nosso sonho, como diz a canção”, disse.

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O artista demonstrou bastante felicidade. Realmente o carnavalesco está radiante na Cantareira e está se doando ao máximo. O jovem comentou que o samba-enredo é a metade do carnaval e, agora, é passar a sua mensagem com as alegorias e fantasias.

“A questão do enredo de um grupo minoritário vai além da escola: É o momento que o carnaval está vivendo. Ele é muito importante. Fico feliz ao perceber quando uma escola percebe a importância que ela tem para comunicar, da potência que a gente tem e da possibilidade que temos de ter discursos importantes. O samba é a forma que a gente acessa esses públicos para falar de algo. Quando a gente chega nesses enredos e sambas, já é 50% do meu carnaval. Agora, trabalhamos para fazer fantasias e alegorias que complementam essa comunicação. Com esse samba e com esse enredo, estou muito feliz, de novo, de conseguir trazer uma mensagem importante para o carnaval. Era o meu sonho e faço carnaval por isso. Acreditar que a nossa voz pode ser mais potente ainda. Estou pingando de suor nessa final, mas realizado e muito feliz com esse convite da Tucuruvi, de ter feito um carnaval legal no Rio de Janeiro e chegar em São Paulo para agregar com uma ‘escolona’, que tem tudo para chegar ao topo do carnaval. Estou muito feliz, muito realizado. Realiza o nosso sonho!”, afirmou.

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Estudo aprofundado no enredo, parceria forte e carinho pela escola

Um dos compositores vencedores, Macaco Branco, de fato incorporou o enredo. Ele revelou que leu livros e realmente se aprofundou no tema. Foi além da sinopse.

“Quando saiu o tema, eu já comecei a pesquisar e me aprofundar o máximo que eu pude – como eu também tinha feito com o samba de Ifá. Ler livros, ter bastante embasamento e incorporar bastante o enredo. Fazer com que a temática seja cantada na avenida de uma forma bem clara – e para que tudo que passe na avenida esteja ali no samba através de poesia. Em mais um ano fomos felizes em ter conseguido fazer um excelente samba para, se Deus quiser, a gente ajudar a escola que tá dentro do nosso coração a conquistar esse tão sonhado título do carnaval”, contou.

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O também mestre de bateria exaltou a sua parceria, pois além de parceiros de samba, são amigos.

“Hoje em dia, na era da informação, a internet ajuda em tudo – inclusive compositores de samba-enredo. A gente faz a reunião através de vídeos, marca algumas reuniões presenciais no Rio, também. Uma parte dos compositores são professores – então, às vezes, a gente está pelo Rio trabalhando, dando aula. Nossa parceria é composta de amigos, isso é primordial. Mais do que parceiros, nós somos amigos: fazemos sambas porque amamos fazer isso e amamos o carnaval. E Deus, assim como Ifá, nos presenteou mais uma vez com essa honra de poder representar o Tucuruvi através de poesia”, enfatizou.

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O músico declarou seu amor pela Tucuruvi. Contou que fez o samba de “Ifá” por ser apaixonado pela cultura e não quer mais sair da escola, se sentindo parte da família do Zaca.

“Tenho um carinho especial pela Tucuruvi. Já acompanho a escola há muito tempo, já tenho um carinho especial. O que me chamou para fazer o samba Ifá foi o enredo, sendo que eu já tinha um carinho pela escola. Eu já estava parado de disputar muito tempo, até por ser mestre de bateria. Ifá é um oráculo africano que eu sou muito apaixonado – então, quando eu vi a temática, eu tinha que fazer para poder, pelo menos, homenagear e agradecer a Deus e Ifá. E Ifá nos agradeceu com a vitória do samba-enredo. E, mais uma vez, como já tínhamos feito no Ifá, pegamos um carinho muito especial pela escola. Eu já me sinto da casa, com todo o respeito a quem já está há muito tempo aqui. Eu estou chegando aqui, apenas. Independentemente se ganhasse ou não, eu estaria aqui para desfilar com a escola – porque o Tucuruvi tem um lugar especial no meu coração”, celebrou.

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Sonho da Tucuruvi e maneira de fazer o samba

Denis Moraes, outro parceiro que faz parte da obra que venceu, exaltou o enredo e citou uma parte específica do samba, que são versos da segunda parte, onde cita o sonho da Tucuruvi, que é vencer o carnaval.

“A gente já trabalha de uma maneira específica, nós trabalhamos já com várias escolas fazendo samba. A gente acompanhou o processo em várias escolas. Foi um enredo que foi muito marcante. Ele é atual e futuro. Na época que saiu a sinopse, que saiu o enredo, que a gente começou a fazer no estudo, tentar aprofundar na história de fato, o manto ainda estava fora daqui. E aí, no meio dessa confusão, desse turbilhão todo, o manto chegou ao nosso país, chegou ao verdadeiro dono. Foi o que a gente colocou no samba: ‘clamo a ti, força maior/ seu poder não me oponho/ abençoe a nossa escola/ realiza o nosso sonho’. O sonho da tribo tupinambá era ter o manto de volta. Nosso sonho enquanto brasileiro é ter um manto de volta. Já o sonho da Tucuruvi todo mundo já sabe, né?”, felicitou.

O compositor contou como o samba foi feito. A parceria inteira mora no Rio de Janeiro foi mais fácil de realizar os encontros, além do uso da tecnologia, citado também por Macaco Branco.

“Nós moramos em Vila Isabel – eu, Macaco Branco, uma turma da parceria. Então era mais fácil a gente marcar os pontos durante a semana, bater papo, trocar ideia. Muito áudio de Whatsapp, de ideias, de melodias, e assim foi surgindo aquela discussão saudável: esse é bom, esse é ruim, esse é bom, esse é ruim, esse é bom, esse é ruim. É algo natural. Conseguimos finalizar sem ter mais o que falar. Era esse o samba final que a gente acreditou, estávamos acreditando e a Tucuruvi acreditou na gente”, comemorou.

Final disputada

Intérprete da Tucuruvi, Hudson Luiz, relembrou o samba de alto nível do último carnaval e disse que esta final foi ainda mais difícil, pois todas as obras apresentadas tinham condições de representar a escola na avenida.

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“Ano passado nós tivemos Ifá, uma grande final, um grande samba, e esse ano foi mais difícil fazer a escolha. Os quatro sambas que a gente tinha, qualquer um poderia ir para a avenida. A escola se manteve dividida o tempo todo. A gente teve que fazer uma forma de avaliação, não só a quadra, mas como um projeto como um todo, e o que se remete a barracão e tudo mais. Eu fico muito feliz em saber que a escola recebeu grandes obras e que qualquer uma delas poderia representar a escola na avenida, mas só podia vencer. Então, parabéns aos compositores. É um belíssimo samba e a gente tem total certeza que vai trabalhar forte esse ano para que a gente possa conquistar nosso sonho que é ser campeão do carnaval”, afirmou.

O cantor revelou que ficou dividido, e que no dia da explanação da sinopse foi fundamental para explicar o regulamento de São Paulo.

“A gente fez a explanação da sinopse e eu pude falar um pouco do que a escola gostaria de samba, falar um pouco do regulamento também de São Paulo e ter esse bate-papo com os compositores sobre o que a gente gostaria. Cada um foi por um caminho, tendo em vista que a gente tinha na final sambas distintos, porém de formas diferentes de serem feitas. De certa forma foi muito boa, porque nós temos uma ótima relação com os compositores. Vários deles são meus amigos, fora daqui a gente canta sambas. Eu até comentei que poderia ser igual ao Festival de Parintins, que ao invés de levar só um samba para a avenida, poderia ser os quatro, mas apenas uma brincadeira. Parabéns aos compositores vencedores”, declarou.

Apresentar um ritmo diferenciado no Anhembi

Comandante da “Bateria do Zaca”, mestre Serginho comentou que na última quinta-feira houve uma audição interna para cantarem o samba e, assim, a bateria deu o seu voto após o intérprete Hudson cantar. O músico falou que novamente é um samba difícil que foi escolhido, mas que está satisfeito com o trabalho.

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“Na quinta-feira a gente fez um fechado aqui, chamamos a bateria e ela deu seu voto. O Hudson cantou os quatro sambas. Na quinta-feira, que tem ensaio de bateria, todo mundo deu seu voto, todo mundo foi tudo certinho. De novo, um samba difícil e de novo a gente vai ter que trabalhar bastante. Agora, no começo tem os ajustes, vai voltar para o pessoal e aí daqui uns dias a gente vai começar a gravar. Mais um samba difícil, novamente, mas satisfatório. Estou muito satisfeito com o trabalho”, contou.

Serginho revelou que vai ousar novamente na avenida. De acordo com o mestre, apostar na parte musical é a chave de tudo. O regente contou todo o processo que será feito depois que o hino foi escolhido.

“Vamos acertar a questão de letra, melodia, vai parar lá no arranjador e o cara faz tudo que tem para fazer. Volta para nós e a gente vai montar de novo mais uma loucura aí, pode ter certeza disso. Vamos colocar no andamento de novo, vamos fazer uns arranjos bem bonitos. O que a gente tem de forte? A parte musical. Temos que apostar muito alto nisso porque a parte plástica eles estão resolvendo lá. Entregar o samba na mão dos tamborins, dos chocalhos para os caras montarem a passagem. Depois eles devolvem e aí a gente começa a montar um esquema. Agora a gente tem que ir com muita calma porque agora já resolveu. Respeitamos todos os sambas e eu quero enfatizar isso. Nós, como bateria, respeitamos muito todos os sambas, fizemos um trabalho igual para todos e agora a gente já tem o campeão. Acredito que nosso foco agora, nesses 20, 25 dias antes da gravação, é acertar o arranjo”, completou.

Ensaios, nota 40 e o título

A porta-bandeira Beatriz Teixeira aprovou a escolha do samba e disse que já previa que seria o vencedor.

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“Gostei do samba! A gente já estava imaginando que ia ser esse mesmo. A comunidade estava meio dividida entre dois sambas, e esse estava muito forte. Foi um samba que pega muito bem, que o refrão fica na cabeça e contagia bastante. A gente já esperava, desde o começo a gente estava vendo que ele estava muito forte para a comunidade”, comentou.

O mestre-sala também se mostrou feliz com a obra ganhadora e, segundo ele, a Tucuruvi está criando uma identidade de agremiação forte.

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“A gente já estava até com uns passos na cabeça, já. Também estávamos com o samba na ponta da língua. Foi muito gostoso descobrir que esse foi o samba escolhido. Eu acho que a Tucuruvi está criando uma identidade de samba. Desde o ano passado, um dos melhores do carnaval, se não for o melhor – até ganhou o Estrela do Carnaval. E eu acho que agora nós começamos a criar uma identidade da Tucuruvi: de uma escola forte, que sempre foi. Agora, com o samba à altura da escola, eu acho que a Tucuruvi vem para mostrar que não é uma escola de samba de brincadeira”, completou.

Almejando o desfile de 2025, o dançarino contou que já começou a imaginar passos indígenas e, em breve, se encontrará diretamente com Beatriz e sua treinadora para ensaiarem constantemente, na busca pela nota 40 outra vez.

“Já começamos a pensar em tudo, sim. Eu vou sair de viagem, vou ficar uns cinco dias off, mas, quando eu voltar (provavelmente daqui a duas semanas) já vou me encontrar com a Bia, com a Dani Renzo e já vamos começar a pensar na nossa coreografia. Já temos algumas ideias até de entrada de jurado, de meio de jurado. A gente já vem pensando e estudando um pouco os passos indígenas, acho que é legal trazer, num enredo tão importante para o Brasil e para a Tucuruvi também. Assim que eu voltar nós já começamos a ensaiar sem parar, todo sábado e toda quarta-feira lá em Mauá – onde eu encontro ela. Acho que vamos fazer um carnaval muito melhor do que foi ano passado. Ano passado foi muito bom, eu e a Bia estávamos nos conhecendo e acho que nós entregamos muito. Nesse ano, é só aprimorar nosso trabalho e abençoar com a nota quarenta, se Deus quiser”, disse.

Bia, como é conhecida, completou dizendo que quer completar gabaritando o quesito com o título da Tucuruvi.

“Mais um! Mais um quarenta, se Deus quiser! E realizar nosso sonho. Ano passado a gente realizou um sonho de tirar quarenta, mas não foi completo. A gente quer sair daqui campeão, levar a Tucuruvi ao primeiro título grandioso, tirar quarenta e vai ser lindo, se Deus quiser”, finalizou.

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