Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins
O Raízes do Samba desfilou neste sábado pelo Grupo de Acesso 2 do carnaval de São Paulo de 2025. A estreia da jovem escola no Sambódromo do Anhembi chamou atenção pela facilidade de leitura do enredo quando acompanhado do samba, que teve boa condução do carro de som e contribuiu para enriquecer o desfile encerrado após 50 minutos. A Cruzmaltina foi a primeira agremiação a passar e se apresentou com o enredo “De quem é a culpa?”, assinado pelo carnavalesco Babu Energia.
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Comissão de Frente
Coreografada por Maurício Oliveira, a comissão de frente do Raízes foi intitulada “Sedução do Pecado” e se apresentou ao longo de uma passagem do samba. O objetivo foi representar o mito bíblico do pecado original, onde Eva teria sido seduzida por uma serpente a comer o fruto proibido junto de Adão.
A coreografia priorizou ilustrar este momento inicial e cumpriu seu papel quanto a narrativa. Os três atores de destaque são os que interpretaram Adão, Eva e a serpente, tendo como coadjuvantes componentes interpretando anjos e árvores do paraíso. O quesito, porém, apresentou problemas claros. A atriz que interpretou Eva teve problemas com sua roupa e tentou ajustar ela em dados momentos durante a dança. A reportagem registrou também que a saia de uma das árvores sofreu um rasgo, descolando do aro que compõe a vestimenta.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal do Raízes, formado por Alex Augusto e Danielle Santiago, se apresentou representando “A morte”. O casal teve poucas variações de coreografia na dança, sendo uma apresentação mais limitada às obrigatoriedades do quesito. Houve uma falta de sincronia observada durante a passagem pelo primeiro módulo e o casal teve dificuldades de tomar a iniciativa dos movimentos, demorando mais que o esperado para alternar entre eles.
Enredo
O enredo “De quem é a culpa?” propôs em dois setores uma discussão sobre a ‘culpa’ e suas consequências. Na primeira parte do desfile, a ideia foi questionar a responsabilidade por trás de diferentes males do mundo, como a pobreza, preconceitos e a perseguição aos povos originários. A segunda parte da apresentação convidou o público a imaginar como seria um mundo ideal, onde não haveria motivos para culpar ninguém por atos ruins. A leitura do enredo foi o principal destaque do desfile. Estava claro que os primeiros segmentos do desfile, da comissão de frente à ala das baianas, faziam referência a temática do mito de Adão e Eva, que no samba do Raízes compõe toda a primeira parte da letra. Os problemas sociais e as referências aos oprimidos cumpriram bem o seu papel, e o setor do mundo ideal também se destacou pela clareza. Um bom conjunto geral de desfile por parte da escola.
Alegorias
O Raízes do Samba se apresentou com um conjunto de duas alegorias e um quadripé. O carro Abre-alas tinha o nome de “Jardim do Éden e a invasão da serpente”. O quadripé, vindo na parte da frente do segundo setor, era chamado “Sagrado e ecumênico coração de Jesus”. O segundo carro, que encerrou o desfile da escola, foi batizado de “O mundo ideal”.
As alegorias foram de fácil leitura e cumpriram bem o seu papel na narrativa do enredo do Raízes. Da pista, porém, foi observado que a parte da frente do carro Abre-alas apresentou problemas com sua iluminação, que passou toda apagada na Avenida.
Fantasias
As fantasias das alas do Raízes do Samba se encaixam dentro da linha narrativa proposta pelo enredo. Os dois agrupamentos que vêm à frente do carro Abre-alas compõem o que é contado desde a comissão de frente. Ainda no primeiro setor da escola, as alas seguintes narram o caos social e as minorias que sofrem perseguições, sendo referências mais associáveis à realidade brasileira. Após o segundo casal da escola, os foliões passam a ser caracterizados dentro do previsto pelo segundo setor, com fantasias em referência ao mundo ideal imaginado pelo tema, onde há fartura, cultura e uma vida mais saudável para a humanidade.
As fantasias do Raízes apostaram em soluções simples de acabamento, como na camiseta de algodão da ala “Nordestinos” que deixava visível o suor de alguns componentes. Mas o conjunto era de fácil leitura e não apresentou problemas visíveis a ponto de preocupar a escola.
Harmonia
A estreia do Raízes no Anhembi foi marcada por um coral positivo por parte da comunidade. Os componentes nas alas cantavam o samba com clareza na maioria das alas, com destaque para a ala “Luxo e lixo”. Ao longo da Avenida, o nível do canto teve leve oscilação, mas era claro o clamor da obra da escola no geral
Samba-enredo
A obra que conduziu o desfile do Raízes é assinada pelos compositores Rodrigo Atração, Xandinho Nocera, Nando do Cavaco, Tuca Maia e André, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Juninho Branco. A letra da música é de fácil captação por parte dos componentes, e o carro de som conseguiu ter uma noite favorável na qual contribuiu para espalhar pela Avenida o clima proposto para o desfile. A leitura do samba pela Avenida se destacou pela facilidade quando acompanhada junto da interpretação das fantasias e alegorias.
Evolução
O desfile do Raízes fluiu corretamente pela Avenida. As alas demonstraram boa compactação e não foram notadas oscilações no andamento da escola. Os componentes nas alas estavam soltos para brincar o carnaval, mesmo nas alas que tinham algum critério de divisão de fantasias. O único problema apontado foi na hora da manobra do recuo da bateria. A parte frontal da escola continuou andando por um período considerável enquanto os ritmistas entravam no recuo. Foi observada uma cobrança da parte da direção de harmonia para que a corte da bateria tentasse compensar o espaço do buraco aberto, visto que todas entraram no recuo ao invés de ficarem na pista. O espaço observado chegou a ser superior a sete grades, o que naquele módulo pode causar problemas para a escola.
Outros destaques
A “Bateria do Raízes”, comandada por mestre Will, conduziu bem o samba da escola, com um bom repertório de bossas que contribuíram positivamente para o conjunto musical da escola.