Inspiração e empoderamento, são palavras e sentimentos que as mulheres de Mangueira carregam consigo, Alcione e Evelyn Bastos não fogem à regra. Indo para 11 anos à frente da bateria da Verde e Rosa, ao ser questionada se ainda fica apreensiva antes de entrar na avenida, a rainha não nega.
“Nossa, sempre. É um chão muito quente, é um chão diferente. É um chão que faz com que as nossas lembranças se aflorem. Então cada ano é diferente, cada jogo é um jogo. Dá sempre um frio na barriga”, revela Evelyn.
Além de rainha da bateria por mais de uma década, Evelyn está indo para o seu terceiro ano como presidenta da escola mirim Mangueira do Amanhã, fundada por Alcione. A rainha reconhece a imensa importância da cantora para a comunidade mangueirense, além da sua responsabilidade em reinar à frente da bateria e presidir um projeto, como a escola mirim, cujo objetivo é deixar o samba morrer, assim como Alcione canta.
“Nossa, é uma responsabilidade muito grande, mas é um ano muito especial, que a gente vem falando de Alcione, que é a nossa fundadora. Então, acaba tornando tudo com muito mais afeto. Até me sinto abençoada por poder viver esse momento. De presidir a Mangueira do Amanhã e, ao mesmo tempo, ser rainha de bateria, cantando para a Alcione, sabe? Eu me sinto como se eu estivesse agradecendo em arte tudo que ela representa para a gente”, disse a rainha.
A respeito da fantasia, Evelyn não quis dar muitos detalhes a respeito, mas pelo pouco que confidenciou, já dá para perceber que tem relação com a Marrom.
“Eu não posso dar spoiler para vocês, mas é uma fantasia diferente, irreverente e, ao mesmo tempo, traz um empoderamento”, conta Evelyn.
Evelyn, que é filha de rainha de bateria da Mangueira, foi rainha da Mangueira do Amanhã, foi passista, rainha do carnaval carioca e tem irmã passista da Verde e Rosa, hoje como rainha da bateria, é uma voz ativa e atuante pela presença de mais mulheres da comunidade no cargo de rainha da bateria.
“Eu pude viver nesses 11 anos de reinado, essa transição da preferência dos muitos faisões e da mídia, para a rainha de bateria de origem e de essência, então eu pude acompanhar essa transição, viver essa transição e me sinto extremamente feliz, eu acredito que esse é o caminho para que a gente tenha o carnaval por muitos e muitos anos valorizando a nossa gente, valorizando os nossos corpos, valorizando o nosso povo, que detêm o carnaval, a cultura do carnaval, a essência do carnaval, o ânimo do carnaval estão na mão do suburbano favelado. Sendo assim, nada mais justo, pela ordem ancestral do samba, de coroar uma mulher com origem da sua gente, que reconhece a sua gente, que reconhece seu povo. Eu acredito que a gente esteja no melhor caminho possível. Demorou, mas aconteceu, é uma construção, mas a gente já vê resultados”, finaliza a rainha.