A Unidos do Peruche apresentou na noite da última terça-feira o seu tema para o Carnaval 2025. Em um evento fechado, no Teatro Mesquita, localizado na Zona Norte de São Paulo, a ‘Filial do Samba’ proporcionou um grande show, contando com o grupo de música liderado pela eterna e ovacionada intérprete Bernadete. Logo após, entrou a participação da ala musical oficial liderada pelo cantor Renan Bier. Na ocasião, também foi apresentado o novo quadro de casais de mestre-sala e porta-bandeira, incluindo o oficial. Juntamente, foi anunciada uma nova direção de carnaval com todos presentes e sendo enaltecidos pelo presidente Alessandro Zóio.
Sobre a atração principal, que foi o lançamento de enredo, pode-se dizer que era realmente o que a comunidade queria. Se apegar a algo que é realmente de seu patrimônio. O tema é intitulado como “Axé Griô! Carlão do Peruche, o cardeal preto do samba”. É um enredo que toca os corações perucheanos. O baluarte, que tem seus 94 anos de idade, é reconhecido como sinônimo de resistência do samba e parte fundamental no crescimento da Unidos do Peruche. Pode-se dizer que é a principal figura da história da escola. Devido a isso, o pavilhão das cores do Brasil e um dos mais antigos do carnaval paulistano, ganha um novo gás pelo objetivo de alcançar divisões maiores.
Desejo antigo
De acordo com o presidente Alessandro Zóio, a Unidos do Peruche já tinha uma vontade de fazer a homenagem ao grande ícone da escola, mas isso acendeu ainda mais com a chegada do carnavalesco Chico. Além disso, não teme o Acesso II para executar o tema.
“Nós esperávamos um apego muito grande pela comunidade, pelo enredo e funcionou. Foi muito bom. Do início ao fim, a comunidade sentiu aquele arrepio na pele, de ter orgulho de ser perucheano. Um enredo que é super valente e super notório no repertório da Unidos do Peruche. Dentro da nossa gestão, nós pensamos em estar fazendo já no ano passado e retrasado também, mas tudo tem seu tempo e sua hora. Tivemos algumas outras situações que não deixaram acontecer naquele momento. Com a troca do nosso carnavalesco, a saída do Mauro Xuxa e a vinda do Chico, pintou aquele sentimento que dá sim, mesmo estando no Acesso II. É um enredo gigante, cabe no Grupo Especial tranquilamente. É o que o Chico tinha falado. É maravilhoso poder estar homenageando em vida uma pessoa que tanto fez pelo carnaval e tanto fez pela nossa Unidos do Peruche”, declarou.
O gestor Zóio, como é conhecido na escola e no mundo do samba, disse que provavelmente a escola vai repetir o processo de escolha de samba-enredo, sendo eliminatórias internas com final na quadra.
“Vamos fazer a explanação do enredo, provavelmente agora no próximo dia 30, no feriado. Não decidimos ainda, provavelmente teremos a disputa igual foi o do ano passado. Vamos receber os sambas, ouvir com nossa diretoria e com a nossa sala musical. Talvez tendo uma final, mas não está decidido ainda como que vai ser. Porém, provavelmente vamos copiar a ideia do ano passado”, explicou.
DNA da escola e responsabilidade dobrada
Homenagear uma figura tão importante como o Carlão realmente significa um passo significativo em uma provável reconstrução e tentativa de resgate de componentes, integrantes e torcedores que se afastaram da agremiação. Isso também é o que diz o carnavalesco estreante Chico.
“O senhor Carlão é um enredo que traz o DNA do Peruche. É impossível falar de Peruche sem falar dele e vice-versa. É um enredo que a escola queria muito e que eu fiquei muito feliz de ser escolhido para desenvolver, e eu tenho certeza que o povo perucheano amou, porque a gente precisa disso. A gente precisa voltar às essências, fazer esse resgate para reconstruir essa história, sair desse acesso logo e continuar brilhando, porque o Peruche nunca deixou de brilhar. Eu tenho certeza que vai ser um carnaval daqueles tão emocionantes quanto hoje”, disse.
O artista pode vir a ser uma revelação, pois é a primeira vez que assume uma escola com tanta visibilidade e um enredo desse porte. Ele diz que a missão de executar o tema na avenida é complicada, visto que tem bastante história e deve seguir todo um regulamento. Além de enxugar tudo, pois o Acesso II permite dois setores e, segundo Chico, o tema é nível Grupo Especial.
“É muito difícil, porque o senhor Carlão tem muita história que caberia em cinco enredos do Grupo Especial. A gente tem um tema um pouco mais enxuto, voltado à vida da direção mística, de uma forma um pouco fantasiosa para conseguir cumprir todos os requisitos do julgamento como um todo e como o que a gente tem disponível hoje para desenvolver o carnaval. Eu tenho um compromisso quanto uma pessoa branca dentro do carnaval. Eu preciso honrar os ancestrais, honrar quem abriu os caminhos, valorizar e agradecer muito às pessoas pretas por terem construído e mantido essa história viva. Eu me coloco totalmente no papel de aprendiz e estou vivendo esse enredo de uma forma inenarrável”, afirmou.
O profissional se vê muito feliz. Segundo o próprio, o barracão e as fantasias já estão em andamento. Também comenta que o desfile vai além do carnaval, onde pretendem levar a história do senhor Carlão para outras praças de cultura.
“A gente já começou tudo. Isso é muito bacana. Já começamos o barracão, fantasia e a meta é fazer tudo com calma, tranquilidade para que a gente consiga ter o melhor resultado. Então, agora a gente vai ter as eliminatórias de samba-enredo, a explanação com os compositores e é uma novidade atrás da outra. A gente vai contar essa história que não coube no enredo em outros momentos. Em exposições, em outras peças teatrais para que a gente possa contar a grandiosidade do Carlão, além do carnaval”, contou.
Orgulho de um filho
Vagner Caetano, filho de ‘Seu Carlão’, disse estar muito feliz com a homenagem que o Peruche irá realizar para o pai. O descendente do baluarte cresceu junto ao pai na entidade. “Realmente é um imenso prazer que a escola da gente, onde nós crescemos, vai fazer essa homenagem a ele com vida. Se Deus quiser, vamos alcançar o nosso objetivo. Infelizmente, no grupo que nós encontramos, não dá para contar toda a história dele, mas a gente vai conseguir trazer uma boa homenagem”, disse.
De acordo com o servidor público, o pai está debilitado em algumas situações, como a visão, mas de resto está bem. “Infelizmente ele anda bem debilitado, ele perdeu a visão e aí fica mais difícil de interagir. Neste momento, ele está com 94 anos, um pouquinho mais debilitado, mas está bem, graças a Deus. De resto, está melhor que eu”, concluiu.
Ritmo aprimorado
Cria da escola, mestre Marcel Bonfim diz que é inexplicável desfilar como mestre de bateria em um enredo tão importante na história do Peruche. “É um sentimento que vem de criança, dos nossos pais. Agora. ter esse privilégio de representar o senhor Carlão e eu como mestre de bateria, é um sentimento que não dá para explicar. A gente vai lutar e, se Deus quiser, vai dar tudo certo”, descreveu.
O diretor de bateria analisou o desempenho da “Rolo Compressor” em 2024. Comemorou os 40 pontos alcançados e contou que todos conseguiram entender o seu estilo.
“Como foi o primeiro ano, foi muito difícil. Isso acontece em todo o primeiro ano de um trabalho. Mas graças a Deus a gente conseguiu fazer um trabalho bacana. A galera entendeu qual era a nossa ideologia, nosso trabalho, e graças a Deus a gente conseguiu colocar um trabalho sólido no desfile. A gente conseguiu tirar nota e agora para o próximo carnaval, zerou tudo”, avaliou.
História de vida
O historiador da agremiação, Junior do Peruche, falou sobre o sentimento do enredo. Curiosidades envolvem este carnaval, pois o profissional tem uma ligação muito forte com o senhor Carlão.
“Para mim é emocionante demais, porque ele é meu padrinho de batismo, junto com a Ivonete. Quem foi a Ivonete? A comadre dele e primeira puxadora oficial de samba-enredo de São Paulo. Peruche é pioneira em tudo. É muito emocionante, porque envolve toda uma história de vida, de ter nascido e criado no Parque Peruche, na Unidos do Peruche com ele (Carlão). Ele realmente é a pedra fundamental da nossa escola. A gente ainda está com ele, firme e forte”, relatou.
Como historiador e conhecedor nato de tudo que envolve Peruche, Júnior disse o que não pode faltar no desfile e citou importantes personagens que passaram na história da agremiação.
“As perseguições que foram muitas em cima da escola. Era uma agremiação muito forte na década de 50, 60, 70. Era uma escola de samba muito grande. Ela já começou dessa forma. Não pode faltar a parte do que aconteceu na quadra do Peruche na década de 70, que a polícia invadiu. Foi uma coisa horrível. Isso causa traumas até hoje na própria comunidade e no bairro da escola. Não pode faltar personagens como Belobo, Catimbau, Pinheirão e Geraldo Filme. O Geraldo Filme ganha grande patente de sambista mesmo na Unidos do Peruche. Os enredos que o carnavalesco conseguir colocar por causa do grupo, o tempo de desfile… Foi a primeira escola de samba a trazer o instrumento repinique para São Paulo. Fomos a primeira escola de samba a ter uma quadra em São Paulo. A primeira transmissão ao vivo da TV Record foi na nossa quadra, no Terreiro do Caquí. Então, essas partes importantes da escola, é muito bom que sejam faladas”, citou.
Por fim, o profissional contou a forma em que irá participar no desfile. De acordo com ele, irá colaborar, mas a velha-guarda é prioridade, além de ter a missão de resgatar pessoas que estão fora da escola.
“A pedido do presidente da escola e a direção de carnaval, me pediram que colaborassem com a história da escola naquilo que fosse possível. Eu vou participar no desfile do Peruche com a velha guarda da escola que eu já acompanho há mais de duas décadas. Eu pretendo trazer alguns componentes antigos da escola, como o Manézinho, primeiro mestre de sala de São Paulo, que começou no Peruche e ficou 16 anos. Então, provavelmente, eu vou ajudar nisso daí, que é trazer essas pessoas importantes que estão até afastadas da escola, para que desfilem em homenagem ao senhor Carlos”, finalizou.