Por Diogo Sampaio

Um sonho que virou pesadelo. Esta é uma forma que podemos definir o desfile da Portela, que deveria celebrar o seu centenário, mas que ficou marcado por uma série de erros em evolução e alegorias. Com uma abertura impactante e emocionante, a escola coloriu os céus com o nome de seus dois principais baluartes e despontou com um canto forte, que acabou afetado pelos problemas na pista. Além disso, quesitos como comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira cometeram “escorregadas” durante apresentações em cabines de jurados, podendo perder pontos preciosos para a agremiação. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Com o enredo “O Azul que Vem do Infinito”, assinado por Renato e Márcia Lage, a agremiação foi a segunda escola a passar pela Marquês de Sapucaí neste último dia do Grupo Especial. A azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira encerrou a sua apresentação com 69 minutos, um a menos que o tempo limite.

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LEIA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS DO DESFILE
* Quarto carro da portela faz referencia ao enredo campeão de 1980
* Baianas da Portela representaram Nossa Senhora da Conceição
* Portelenses se emocionam ao celebrar o centenário da escola
* Portela encerra desfile homenageando figuras históricas da agremiação
* Lendas vivas da escola, Vilma Nascimento e Jerônimo se emocionam no centenário da Portela
* Emocionados, componentes da Portela se encantam com águia do centenário

Comissão de Frente

Com o nome de “Como Tudo Começou”, a comissão de frente, assinada por Léo Senna e Kelly Siqueira, apresentou de forma poética os momentos de inspiração de Paulo, Caetano e Rufino que levaram ao surgimento da Portela e desenvolvimento de seus símbolos sagrados: o pavilhão e a Águia. Em um primeiro ato, os componentes vinham no chão, representando moradores de Oswaldo Cruz e Madureira, na época da fundação da escola. Na sequência, eles subiam em um elemento cenográfico que retratava um espaço de criação.

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Já neste local, a coreografia recriava os momentos de concepção dos símbolos, iniciando com a bandeira. O ápice da apresentação ocorria na hora em que era encenada a criação da Águia, com o componente representado Paulo Benjamin de Oliveira “voando” em cima de sua obra.

No entanto, apesar de criativa e da reposta positiva do público, a comissão deve perder pontos na segunda cabine de julgamento. Neste módulo, a apresentação não foi executada de maneira completa, uma vez que o integrante que representava Paulo da Portela não conseguiu subir na Águia.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Lamar e Lucinha Nobre, vieram com a fantasia “A Nobreza que Desfila Humildade”. O figurino, dourado com penas em tons de laranja e marrom, era bastante luxuoso, mas uma falha na peruca de Lucinha deve acarretar na perda de décimos em dois módulos de julgamento.

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Na segunda cabine, a porta-bandeira teve de segurar o acessório durante toda a apresentação oficial para os jurados. Já no último módulo, Lucinha se apresentou sem a peruca, após ela se soltar na altura do setor 08 e não conseguirem ajeitar.

Mesmo com estes problemas na indumentária, a dança do casal foi pouco comprometida. Com movimentos velozes, os dois mesclaram bailado tradicional com passos coreografados, com boa interação entre eles e bastante sincronia. O giro completo do pavilhão por cima da cabeça, que já virou característico de Lucinha, arrancou aplausos do público.

Harmonia

Com um início promissor, a harmonia da Portela foi um dos quesitos comprometidos pelos problemas que ocorreram na pista. Quando o cronômetro foi disparado, o canto das primeiras alas da azul e branca podia ser ouvido a distância. Além disso, pessoas nas arquibancadas e frisas acompanhavam os componentes e entoavam com força os versos da obra composta por Wanderley Monteiro, Vinícius Ferreira, Rafael Gigante, Edmar Júnior, Bira, e Marcelão.

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Porém, conforme as falhas foram acontecendo, o canto da escola foi diminuindo, chegando a ficar tímido em alguns momentos. O intérprete Gilsinho, em uma noite de excelente performance, ainda tentou animar os desfilantes, no entanto sem muito efeito.

Evolução

Acostumada a ter nos chamados quesitos de chão o seu maior trunfo, a evolução foi o ponto mais problemático do desfile da Portela. A primeira falha ocorreu quando a terceira alegoria, intitulada “Carnavais de Guerra”, apresentou problemas de deslocamento e um clarão foi aberto em frente ao primeiro módulo de jurados. Enquanto tentava solucionar, este mesmo carro colidiu com uma frisa do setor 3, gerando um dos maiores momentos de tensão da noite.

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O acidente travou a escola e um buraco de proporções gigantescas foi aberto entre a terceira alegoria e a ala “Seis Datas Magnas”. Demorou quase dez minutos até que o carro fosse retirado das grades e voltasse a andar. Para recuperar o tempo perdido, uma correria foi iniciada.

No decorrer do restante da apresentação portelense, outras falhas surgiram, mas de menores proporções. Houve abertura de um buraco na altura do módulo um durante a passagem do quarto carro, chamado “A Brisa Me Levou”; além de outro entre a quinta alegoria, “O Céu de Madureira É Mais Bonito”, e a ala “Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar ao Ver Esse Rio Passar” na altura do segundo recuo da bateria, no campo de visão da última cabine de jurados.

Samba-Enredo

A obra composta por Wanderley Monteiro e companhia dividiu opiniões de sambistas, principalmente os portelenses, quando foi escolhida para embalar o desfile do centenário da Majestade do Samba. No entanto, com o crescimento do samba nos ensaios, ele foi se consolidando e provou sua força na abertura da apresentação oficial.

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Entretanto, assim como a harmonia, acabou impactado pelos problemas que ocorreram na Avenida. Apesar disso, o desempenho do carro de som, comandado por Gilsinho, não decepcionou e segurou o rendimento da obra até o final.

Enredo

Para o Carnaval de 2023, os carnavalescos Renato e Márcia Lage desenvolveram o enredo “O azul que vem do infinito”, em homenagem ao centenário da Portela, celebrado em abril deste ano. Com o intuito de condensar os cem anos de história em um desfile de até 70 minutos, os artistas escolheram cinco baluartes da agremiação para conduzir a narrativa: Paulo da Portela, Natal, Monarco, Tia Dodô e David Corrêa.

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Ao escolher tais figuras emblemáticas para nortear o enredo, a intenção dos carnavalescos era apelar para o emocional e atingir o coração dos torcedores, objetivo atingido com sucesso. A plástica de leitura clara e direta, em alegorias e fantasias, fez ainda que mesmo quem estivesse na Marquês de Sapucaí e, por um acaso do destino, não conhecesse a história da Portela, conseguisse compreender o enredo facilmente.

Alegorias e Adereços

A Portela levou para Marquês de Sapucaí um conjunto alegórico bonito, mas com problemas. Formado por três chassis, o abre-alas, intitulado “Deu Águia, a Majestade”, trouxe referências ao Carnaval de 1935, que rendeu o primeiro título da escola. A parte da frente do carro apresentou as “joias da coroa”, com membros da velha guarda, velha guarda show, artistas identificados com a agremiação e alguns dos portelenses mais representativos, como Noca e Tia Surica.

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Já a grande Águia, símbolo maior da Majestade do Samba, veio no segundo chassi. Dourada com detalhes em azul, ela veio com asas abertas para o alto e uma coroa na cabeça. Já a terceira e última parte do abre-alas trouxe um globo terrestre em destaque, no alto, remetendo à abertura do desfile campeão de 1935.

Com o nome de “Pelas bandas de Oswaldo Cruz”, a segunda alegoria destacou o tipo de vida rural que caracterizava o bairro no período da fundação da Portela e retrava uma estação ferroviária, com o trem partindo.

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Já o terceiro carro retratou, sob olhar da porta-bandeira Dodô, as vitórias portelenses nos carnavais realizados durante a Segunda Guerra Mundial, período no qual a Majestade do Samba conquistou sete campeonatos consecutivos. Na parte dianteira da alegoria, uma bomba veio cercada de composições denominadas “Guardiões da Democracia”, numa alusão ao conflito. Nas laterais, as esculturas reproduziram personagens carnavalescos.

Ainda neste terceira alegoria, no alto e ao centro, uma escultura do Rei Momo simbolizou o Carnaval do Rio reinando absoluto apesar da guerra. Além dos problemas de locomoção, esse carro teve falhas de acabamento em esculturas e os efeitos do fogo na parte da frente não funcionaram em alguns momentos do desfile.

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Em seguida, o tripé “Lenda e Mistérios da Amazônia” veio relembrando o título de 1970. Todo azul e com esculturas de animais, o elemento desfilou com erros graves de acabamento, como parte do forro se soltando na traseira.

Intitulada “A Brisa Me Levou”, a quarta alegoria homenageou o Carnaval de1980, “Hoje Tem Marmelada”. Com um grande palhaço na parte da dianteira, o carro tinha como destaque, no alto, um carrossel com trapezistas e equilibristas. Singelo e belo, ele também tinha um trabalho de iluminação, que falhou em diversos trechos da Avenida.

Fechando o desfile do centenário, o quinto carro, chamado de “O Céu de Madureira É Mais Bonito”, teve como grande atração uma enorme escultura de Águia. Prateada e estilizada, ela veio de asas abertas e foi inspirada na emblemática Águia Redentora, apresentada no Carnaval de 2015.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Portela penou do mesmo mal das alegorias: bonito visual, porém com falhas de acabamento. Entre os principais problemas, a ala das baianas, chamada “Sobre a Tua Bandeira, Este Divino Manto”, que tinha um figurino predominante branco, com um pano da costa azul e detalhes em dourado, veio com a barra das saias se desfazendo na Avenida.

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Já a ala 03, de nome “Vai Como Pode”, sofreu com as cabeças das indumentárias que estavam soltas. Diversos componentes desta ala tiveram de atravessar o Sambódromo segurando elas para não caírem.

Outros Destaques

Mesmo com os problemas em vários quesitos, a Portela abriu o desfile em grande estilo. Por meio de 80 drones, a escola realizou um efeito nos céus, em que escreveu mensagens como “Portela 100 Anos” e os nomes de Natal e Paulo.

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Outro ponto de destaque foi a passagem de Vilma Nascimento e Jerônimo Patrocínio, que arrancou aplausos e gritos do público. Os dois vieram representando o Carnaval de 1964, no qual a Portela ganhou mais um título para sua coleção com o enredo “O Segundo Casamento de D. Pedro II”.